O livro Flora das Caatingas do Rio São Francisco – História natural e conservação acaba de ganhar o prêmio Jabuti na categoria Ciência Naturais. O resultado foi anunciado ontem (17), pela manhã.
O livro apresenta a diversidade do único bioma genuinamente brasileiro, a Caatinga. O trabalho organizado pelo professor José Alves de Siqueira, contou com a participação de 99 pesquisadores e 39 instituições.
O resultado, reconhecido pelo Jabuti, afasta a imagem de terra arrasada pela seca mitificada pela literatura nacional. Na Caatinga a vida floresce e é diversa. Só no livro, são apresentados 1.031 registros de espécies de plantas locais.
Desbravar essa ilustre desconhecida custou aos organizadores 4 anos de trabalho e 340 mil quilômetros percorridos ao longo de 212 expedições. O resultado é um livro fartamente ilustrado de 515 páginas, que gerou uma ótima reportagem de Celso Calheiros, publicada em ((o))eco em outubro de 2012.
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A fim de dar suporte científico ao debate sobre a degradação do Ecossistema da Caatinga e particularmente à Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, o Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas (Crad) da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina , deu uma contribuição ímpar à sociedade com a publicação do livro "Flora das Caatingas do São Francisco", da autoria do professor da Univasf, José Siqueira, que coordenou o trabalho de 100 especialistas que assinam a publicação, discorrendo sobre os ciclos econômicos responsáveis pela atual situação do rio. Chama atenção do leitor o capítulo intitulado "O inexorável fim do São Francisco", pelas suas revelações perturbadoras. O autor ressalta a reincidência de políticas públicas equivocadas implementadas na bacia do Rio São Francisco através de planos e programas de governo elaborados por agentes sem um notório conhecimento de causa e tampouco sem participação da comunidade acadêmica e da sociedade.
O premio Jabuti foi merecedor a essa ilustre e riquíssima publicação do professor José Alves e toda sua equipe de 99 pesquisadores e 39 instituições que percorreram esses 340 mil quilômetros com 212 expedições em busca de novas descobertas existentes no interior do bioma caatinga. O CRAD na verdade continua impulsionando a pesquisa não parando somente no livro Flora das Caatingas do Rio São Francisco não teria sentido somente publica-lo e parar por ai mas sim em continuar dando ênfase nas ações que o centro de referência vem aplicando nas pesquisas aprofundadas sobre os processos de degradação ambiental presentes em nossa região.
O Jabuti é o prêmio mais importante do livro no Brasil e conseguir ser premiado na categoria de Ciências Naturais mostra a relevância do trabalho encontrado no livro “Flora das Caatingas do Rio São Francisco – História natural e conservação”. Só o fato de conseguir coordenar os esforços de 99 pesquisadores e 39 instituições, realmente interessados em desmistificar aquela caatinga rachada, seca e sofrida muitas vezes relatada erroneamente pelos mais diferentes meios de comunicação, merece nossos parabéns por um feito ímpar.
Tomamos a liberdade de afirmar que o livro apresenta ao leitor três realidades muitas vezes difíceis de acreditar. A primeira que há vida e diversidade na caatinga, e que nela encontramos não apenas inúmeras espécies na flora e na fauna do sertão. É possível sermos surpreendidos com a beleza dos registros fotográficos encontrados no livro.
Em um segundo ponto o livro alerta sobre o urgente e necessário desafio de recuperar e conversar a caatinga. A todo o momento somos voltados a refletir sobre a carência de recursos usados na conversação de bioma tão agredido, um bioma tão especial e exclusivamente brasileiro.
A terceira realidade mostra a débil saúde do Nilo Brasileiro. O Rio São Francisco sofre e esse sofrimento não tem sua origem apenas nas secas cíclicas e comuns no nordeste. O rio sofre com a devastação de sua mata ciliar, com exploração desregrada de suas águas que prejudicam sua navegabilidade. Com a crescente poluição, poluição essa que deixa vários pontos impróprios para o banho, os trabalhos de peixamento com espécies nativas são prejudicados além de promover a morte dos peixes e, conseqüentemente, a morte do rio.
Possivelmente alvo de duras críticas por parte do empresariado e até mesmo dos governos o livro é sem dúvida um dos trabalhos mais completos sobre o bioma caatinga. Um trabalho belíssimo sobre a caatinga brasileira. E nos cabe fazer um alerta, pois o trabalho iniciado pelo organizador e Professor José Alves de Siqueira Filho não pode parar. A Universidade do Vale do São Francisco – Univasf já possui um centro de referência nacional e internacionalmente conhecido o Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas – Crad que pode lutar para que o desmatamento da caatinga não aumente. Os investimentos nesse projeto deveriam partir da própria UNIVASF, instituições governamentais e não governamentais nacionais e internacionais.
A Caatinga é um bioma nacional ainda pouco conhecido, extremamente desmatado e que recebe pouquíssimos recursos e investimentos para sua conservação. Com o seu desmatamento podemos estar perdendo tesouros irrecuperáveis. E isso o organizador e os pesquisadores do livro em questão já alertaram. Tornar público a importância de espécies ainda desvalorizadas é digno de aplausos. De modo que nos resta reafirmar que foi merecido ganhar o 55º Prêmio Jabuti.
Notoriamente merecedor do prêmio. É o livro mais completo que já consultei sobre a Caatinga e consegue fazer uma leitura geral das questões naturais, históricas e culturais que nos remete a uma admiração e ao mesmo tempo uma elevada preocupação com esse ecossistema.
No livro pode-se perceber o cuidado dos autores ao retratar algumas análises das drásticas mudanças ocorridas nas paisagens ao longo do Rio São Francisco e a grande fragilidade dessas áreas que necessitam de um olhar mais cuidadoso como o das várias etnias indígenas existentes, que também dão pistas da diversidade de fauna e flora que ocorriam ao longo do rio.
A dicotomia entre a conservação dos recursos e a demanda crescente de matéria prima é relatado ao longo do livro, assim como os efeitos da tecnologia na urbanização das cidades ( em especial Juazeiro e Petrolina) e na produção agrícola elaborada nessa área que possibilitou a perda dos habitats das espécies migratórias, como na construção do lago de sobradinho e a substituição das espécies nativas por culturas agrícolas nos perímetros irrigados, com impactos no ciclo econômico, destacando a agricultura, a pecuária e o extrativismo.
O livro ainda revela outras questões valiosas e de grande importância, como: O uso tímido de energias alternativas; O crescimento demográfico da região; As espécies invasoras e competitivas como as algarobas e sua dominação ao longo do rio São Francisco; O baixo nível das águas do rio; Uma análise da fauna endêmica em comparação com as invasoras; O importante papel das abelhas nativas e de sua polinização para a existência da biota;
Dentre as inúmeras questões culturais observadas pelos autores, o trabalho do vaqueiro e a sua provável extinção são discutidos e relacionados com diversos fatores naturais durante a pesquisa, reforçando a importância da preservação das espécies nativas, como os licurís, o umbuzeiro, as carnaúbas e a maniçobas, essenciais para a manutenção desse ecossistema.