Reportagens

46% de área madeireira no Mato Grosso é ilegal, diz novo estudo

Embora com crescimento de 80% de empresas legalizadas, quase metade das madeiras vindas do estado vem de áreas ilegalmente desmatadas.

Infoamazônia ·
15 de junho de 2015 · 9 anos atrás

*Texto originalmente publicado no Blog do Infoamazonia, por Gustavo Faleiros

Representantes da sociedade civil , governo e setor madeireiro juntos em evento em Cuiabá no dia 26 de maio. Foto: Djhuliana Mundel / ICV / Divulgação
Representantes da sociedade civil , governo e setor madeireiro juntos em evento em Cuiabá no dia 26 de maio. Foto: Djhuliana Mundel / ICV / Divulgação

Mesmo representando um dos setores mais importantes da economia local, a exploração de madeira no Mato Grosso ainda permanece com alto índice de ilegalidade. Uma análise do Instituto Centro de Vida revelou que 46% de toda área destinada para a retirada de toras nativas em 2012/2013 foi explorada sem autorização.

Dos 303,5 mil hectares identificados como áreas madeireiras, 139,8 mil hectares foram utilizadas de forma ilegal. Em relação ao período anterior, isso representa um aumento de 31% no total de território utilizado de forma ilícita. No entanto, o crescimento na atividade legalizada também foi significativo – 80%, chegando a 163,7 mil hectares. O balanço entre produção legal e ilegal permanece imutável ao longo dos anos, como mostra o gráfico abaixo; desde o início da série histórica quase 50% das áreas exploradas são irregulares.

O que causa preocupação na análise mais recente é o significativo aumento da ilegalidade dentro de áreas protegidas, em especial nas Terras Indígenas. Neste caso, houve um salto 1194%, com destaque para os territórios Aripuana e Zoró no noroeste do Estado. “Isso indica uma falha no cumprimento das regras e na fiscalização”, apontou a diretora adjunta do ICV, Alice Thuault.

Mapa da Terra Indígena Aripuanã e desmatamento. Clique aqui para ver ampliado

Para identificar as atividades ilícitas , o relatório do ICV – “Mapeamento da ilegalidade na exploração madereira” – olhou todas as licenças de manejo florestal entre agosto de 2012 e julho de 2013 e comparou com imagens de satélite para determinar a extensão das terras exploradas. As imagens foram obtidas do satélite Landsat 8 com 30 metro de resolução espacial e foram processadas para gerar imagens NFDI, um índice normalizado de diferença de fração, o que realça a exploração madeireira. “Foram usada 30 cenas e depois fomos de área a área checando se elas tinham autorização”, conta o pesquisador do ICV Vinicius Silgueiro.

Exemplos de Exploração Legal e Ilegal em Mato Grosso | Clique para ampliar
Exemplos de Exploração Legal e Ilegal em Mato Grosso | Clique para ampliar

Buscando soluções

Entre os dias 26 e 28 de maio, o ICV reuniu em Cuiabá representantes de governo, ONGs e do setor madeireiro em um workshop de controle e monitoramento florestal. Além de apresentar os resultados da análise sobre a ilegalidade no Mato Grosso, a ONG promoveu um debate sobre soluções de melhoria em instrumentos legais e tecnologias para aumentar a transparência na exploração de madeira nativa.

De acordo com o sindicado do produtores no estado, o CIPEM, o Mato Grosso produz anualmente 3 milhões cúbicos de madeira nativa. O estado é 2º maior produtor de madeira tropical no país, atrás apenas do Pará. É a quarta atividade econômica que mais gera receitas no estado.

Durante o encontro em Cuaibá, os empresários reclamaram da burocracia para aprovar planos de manejo e vender madeira legalizada. Segundo o CIPEM, por conta das restrições na exploração, a produção de madeira nativa da Amazônia esta caindo de 5% a 10% por ano. “Queremos mudar a imagem do setor”, disse o presidente do CIPEM, Geraldo Bento.

“O problema é que o setor é contaminado pela madeira ilegal. Precisamos criar mecanismos que dão segurança a compradores de que eles não estão comprando madeira contaminada. Este é provavelmente um dos setores que têm menos dados e estatísticas”, avaliou o diretor-executivo do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Maurício Volvidic.

 

Leia Também
Direto do Nortão, dia 3: O desafio da extração legal
Chegada a Sinop: a cidade que um dia foi floresta
Mato Grosso e Pará, os campeões de desmatamento na Amazônia

 

 

 

Leia também

Notícias
16 de janeiro de 2014

Mato Grosso e Pará, os campeões de desmatamento na Amazônia

Imagens de satélite indicam que nos últimos 25 anos, em meio ao avanço da fronteira agrícola, estados são os que mais tiveram áreas devastadas.

Reportagens
29 de outubro de 2012

Chegada a Sinop: a cidade que um dia foi floresta

((o))eco chega a Sinop, no arco do desmatamento, para acompanhar a operação Soberania Nacional de repressão, do Ibama e Polícia Federal.

Podcast
21 de novembro de 2024

Entrando no Clima#40 – Florestas como forças de estabilização climática

Podcast de ((o))eco fala sobre como as florestas têm ganhado espaço nas discussões da COP 29

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.