Porto Alegre – Desde julho de 2010, o número de focos de queimadas no Brasil vem aumentando consideravelmente. Os dados são ainda mais significativos se comparados com os de 2009. Em agosto desse ano, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), foram registrados 28.608 focos de queimadas no país contra 7.412 focos no mesmo período do ano passado. A maior parte deles está localizado em Estados das regiões Norte e Centro-Oeste, como pode ser observado nos mapas abaixo.
Material Particulado e Monóxido de Carbono chegam ao RS
No Rio Grande do Sul, o número de focos de queimadas não é tão significativo, se comparados com outras regiões do Brasil. Entretanto, a população gaúcha sofreu bastante no último mês com a diminuição da qualidade do ar, principalmente nos municípios do noroeste do Estado. As condições climáticas e a circulação atmosférica foram as responsáveis pelo deslocamento de poluentes para o RS, como explica o climatologista e professor do departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Francisco Eliseu Aquino.
Consequências na qualidade do ar
A quantidade de material particulado e monóxido de carbono (CO) que chegou até o RS levou alguns municípios ao estado de alerta, no que se refere à saúde da população. Segundo os boletins informativos de qualidade do ar, elaborados pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde, entre os dias 22 e 23 de agosto 16 cidades gaúchas tiveram a sua qualidade do ar detectada como péssima (>299 micro gramas por m³ de material particulado, também conhecido como PM2,5). Esses valores são muito superiores a quantidade média diária da qualidade do ar, de 25 micro gramas por m³, considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Nesses casos, a Vigilância em Saúde alerta para o risco de a população poder apresentar manifestações de doenças respiratórias e cardiovasculares, além do aumento de mortes prematuras em pessoas de grupos sensíveis (crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias e cardíacas). Tanto a Secretaria Estadual quanto a Municipal de Porto Alegre foram procuradas, mas não possuíam dados hospitalares que pudessem ser relacionados à questão.
Uma das dificuldades em contabilizar esses casos de saúde no Estado esbarra na superlotação das emergências hospitalares, como afirma o mestre em Geografia e professor de Climatologia da Ufrgs, Fernando Livi: “Quando acontecem variações ambientais, como esse caso da diminuição da qualidade do ar devido às queimadas, não se percebe um aumento no atendimento emergencial, que costuma atingir os mesmos números diários. Os hospitais estão sempre lotados, dificultando a pesquisa que busca relacionar as variáveis ambientais e os reflexos na saúde da população”.
Frente a essa situação, a melhor maneira de obter dados que indiquem a ligação entre as variações no bem-estar da população e os fatores ambientais, segundo Livi, é investir em pesquisas de saúde pública e meio ambiente, às quais destinariam equipes de entrevistadores aos principais hospitais a fim de montar um histórico dos pacientes que procuram as emergências.
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