A onça Índia, imagem capturada por armadilha fotográfica dentro do Parque Nacional do Iguaçu. Foto: Projeto Parques do Iguaçu.
Em 2018 foi criado oficialmente o Dia Nacional da Onça-Pintada, através de articulações feitas pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP/ICMBio) e o Projeto Onças do Iguaçu. A Portaria MMA N°8, de 16 de outubro de 2018, também reconhece a onça-pintada como o Símbolo Brasileiro de Conservação da Biodiversidade. A data acabou sendo adotada internacionalmente e, agora, dia 29 de novembro é também o Dia Internacional da Onça-Pintada.
Qual a importância da criação da data? Chamar a atenção das pessoas. Algo do tipo “para tudo e ‘prestenção’ aqui!” Para que todos os anos possam ser feitas discussões e reflexões sobre a conservação dessa espécie magnífica. Uma oportunidade para que escolas, zoológicos, unidades de conservação e projetos de conservação discutam o assunto e encontrem formas de conectar as pessoas com estes felinos.
Hoje, às portas do terceiro ano de comemoração da data, vale uma reflexão sobre como estamos e para onde vamos.
2020 um ano de muitos desafios
Ainda estamos em choque com as imagens do Pantanal envolto nas chamas que engoliram cerca de 27% do bioma. As onças-pintadas queimadas são uma ferida que não sara no coração de quem se importa. Mas o retorno e a readaptação da onça-pintada Ousado em seu ambiente natural simboliza o esforço e união de todas as pessoas e instituições envolvidas no resgate, recuperação e posterior monitoramento. Além disso, nos enche de esperança quanto a recuperação do Pantanal.
Um artigo publicado esse ano chama a atenção para uma outra ameaça iminente para as onças-pintadas no mundo: o abate de onças para a venda de suas partes para o mercado chinês. O MMA, IBAMA e o ICMBio-CENAP integram uma força tarefa internacional para combater essa ameaça. Mais uma vez, a união entre países e instituições mostra que este é o caminho para vencermos as dificuldades.
Em ano de pandemia, onde muitas pessoas perderam empregos e qualquer possibilidade de renda, uma preocupação extra é a possibilidade do aumento da caça de animais que são presas de onças, o que impacta diretamente a espécie.
Luz no fundo do túnel
Como estratégia de conservação, o governo brasileiro criou o Plano de Ação Nacional para a Conservação de Grandes Felinos (PAN Grandes Felinos), publicado em 2018 e vigente até 2023. Ele estabelece estratégias prioritárias de conservação para as onças pintada e parda. O objetivo geral do PAN é “Reduzir a vulnerabilidade da onça-pintada e da onça-parda, em 5 anos, com vistas a melhorar o estado de conservação de suas populações”, são 41 ações ligadas ao aumento e manutenção de habitats; promoção de melhor convivência humano x fauna; promoção de boas práticas em empreendimentos que causem impactos às espécies e aprimoramento do resgate a destinação.
Onça Kunumi. Foto: Projeto Parques do Iguaçu.
Esse ano foi feita a monitoria de implementação do PAN Grandes Felinos, e 54% das ações propostas estão em andamento, inclusive apresentando produtos concluídos. Destaca-se a criação de Unidades de Conservação privada (RPPNs), manuais, relatórios, divulgações na mídia para a sensibilização e conservação das espécies de onças e publicações científicas. O ICMBio-CENAP coordena várias ações previstas no PAN e articula parcerias para execução de sua execução Por exemplo, a realização de dois projetos inovadores de reabilitação, treinamento e recolocação na natureza de quatro filhotes de onça-pintada, no Pantanal e na Amazônia, experiência que foi bem sucedida e pode servir como base para futuras iniciativas.
Uma das ações do PAN que está em andamento é uma parceria em construção entre CENAP, WWF Brasil, Freeland e Projeto Onças do Iguaçu para a elaboração e implementação de estratégias de combate à caça e tráfico de onças-pintadas.
Também vale destacar a implementação do Programa de Cativeiro da Onça-Pintada, coordenado pelo CENAP em parceria com a AZAB (Associação Brasileira de Zoológicos e Aquários), que organiza a população ex situ desta espécie de modo que ela seja uma efetiva ferramenta para a conservação. Um workshop para estruturar o programa ex situ estava previsto para março deste ano, com a participação e facilitação do Grupo Especialista em Planejamento para a Conservação da IUCN (CPSG), mas devido à pandemia foi temporariamente adiado.
Ou seja, a estrada é longa, mas estamos indo adiante na jornada.
Aqui na região do Corredor Verde, que engloba Brasil e Argentina, temos uma das populações de onças-pintadas mais importantes da Mata Atlântica. A estimativa de 2018 é que existam cerca de 105 onças-pintadas na região, sendo 28 no Parque Nacional do Iguaçu.
Um censo bianual é realizado no Brasil e Argentina pelas equipes do Projeto Onças do Iguaçu e Proyecto Yaguareté. É o maior esforço mundial para monitorar populações de onça-pintada, tanto em extensão, são 600 mil hectares amostrados nos dois países, quanto em tempo, já são quase dez anos de esforços. E é com esperança e alívio que temos visto o número de onças crescendo nos últimos 10 anos. Resultado de um esforço planejado pelos projetos de conservação e equipes de proteção dos parques nacionais no Brasil e Argentina.
No momento, os dois projetos estão com armadilhas em campo conduzindo o Censo 2020, que deve ser finalizado em dezembro. Dedos cruzados e frio na barriga aguardando o resultado.
Mais um ponto positivo foi o lançamento da Estratégia de Conservação da Onça-Pintada 2020-2030, coordenada pelo WWF. Foram identificadas 15 paisagens prioritárias na maior parte da área de ocorrência da espécie (14 países). A estratégia prevê ações para a conservação da onça-pintada, como redução de conflitos e promoção de coexistência com populações humanas.
Seguimos na luta para que possamos continuar celebrando os avanços. E que os desafios que se impõem sejam impulsionadores de união entre os diferentes atores que atuam pela conservação desta magnífica espécie.
Bora comemorar o Dia Nacional da Onça-Pintada, ajudar a espalhar a mensagem.
As opiniões e informações publicadas na área de colunas de ((o))eco são de responsabilidade de seus autores, e não do site. O espaço dos colunistas de ((o))eco busca garantir um debate diverso sobre conservação ambiental.
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Sei que o texto da coluna é responsabilidade do autor, mas o Eco bem que podia revisar. Tem vários erros de português, fora essa pérola: "A cada dois anos um censo bianual…"
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