Análises

África do Sul: Montanha da Mesa, o 7° e glorioso dia

É nosso último dia de Hoerikwaggo. O trajeto oficial recomenda a descida pelo bondinho ou pela Platerklip Gorge, mas escolhemos ousar.

Pedro da Cunha e Menezes ·
5 de agosto de 2011 · 13 anos atrás

Com participação de Sandra e Ivan Amaral

 

O café da manhã é tomado na varanda do abrigo de Overseers. A luz do sol, ainda baixo, tinge o topo da montanha de uma coloração alaranjada e dá à fina bruma que cobre as águas das represas de Woodhead e Helly-Hutchinson uma tonalidade mágica.

É nosso último dia de Hoerikwaggo. O trajeto oficial recomenda a descida pelo bondinho ou pela Platerklip Gorge. A infraestrutura do Parque, porém, permite explorar uma diversidade de outras vias. Uma opção tentadora é baixar pela Ravina do Esqueleto, também conhecida como Caminho de Smuts. Coberto por floresta de galeria, esse é um dos acessos mais bonitos à Mesa. Se escolhessemos prosseguir por ali, poderíamos visitar o Jardim Botânico de Kirstenbosh, dormir em alguma pousada nas redondezas e depois seguir caminho pelo Contour Path, uma trilha que, como o nome diz, contorna a montanha inteira  à meia encosta sempre acompanhando a linha de cota. Essa escolha, entretanto, implicaria em trilhar mais dois dias, tempo de que não dispúnhamos.

Elegemos subir em diagonal pelo Vale do Eco até Mac Lear´s Beacon que, com 1.088 metros de altitude, é o ponto culminante da Península do Cabo. Dali, avançamos junto ao paredão frontal da mesa, mesmo à beira do precipício até a estação do bondinho. À medida que nos aproximamos a diferença no manejo chama atenção. Saímos, ontem pela manhã, de uma área intangível, pratricamente sem sinalização e com um manejo mínimo, apenas visando a manter o caminho desobstruído e livre de erosões. Ao chegarmos ao topo da Montanha, começamos a nos deparar com sinalização frequente.

Todos os anos a Montanha recebe cerca de 2 milhões de excursionistas, boa parte deles de fora da cidade. Muita gente sobe suas encostas sem o preparo nem o equipamento adequados. Isso em uma cidade onde o clima pode mudar radicalmente em menos de uma hora, causando quedas bruscas de temperatura e virando o tempo de ensolarado para completamente nublado. Não são poucos os aventureiros que precisam ser resgatados e cerca de uma dúzia de pessoas perde a vida na Mesa a cada ano.

Não se pode dizer que sejam desavisados. Nos acessos às subidas sobram placas alertando para as agruras da montanha e para a imprevisibilidade do clima. Lá em cima, como bem notamos, muitas placas de sinalização reflexiva mostram o caminho aos excursionistas. Para quem fizer o percurso inverso ao nosso, saindo da base da Montanha, no Centro da Cidade, ou da estação superior do bondinho, o manejo foi pensado de modo a desestimular grandes voos.

Junto à estação há um espaço de cerca de cem hectares com trilhas dotadas de corrimão, superfície concretada para cadeirantes e sinalização abundante. A partir daí, até MacLear´s Beacon e às represas, acabam-se os corrimãos, mas a sinalização ainda é abundante. Daí para frente, a sinalização induz o excursionista de primeira viagem a voltar em direção ao bondinho por trajetos diferentes. Se ele insistir em avançar, perceberá que a sinalização começa a rarear. Isto é feito com o propósito de desencorajar excursionistas menos experientes a continuar. Passado um espaço de cerca de meia hora a partir do ponto em que a sinalização começa a rarear, ela reaparece com o mesmo esmero e cuidado de antes (exceto na área intangível de Orange Kloof).

Voltando ao nosso périplo. Paramos por meia hora para tomar um café, enquanto contemplamos, do Restaurante do Bondinho, a magnífica vista. Daí, escolhemos baixar pela trilha de India-Venster. É uma rota exposta e um pouco perigosa, que deve ser evitada por trilheiros inexperientes. Seu nível de exposição, por outro lado, proporciona aos excursionistas vistas sem rival em nenhum outro acesso à Mesa.

Demoramos cerca de uma hora até a base da Montanha. Andamos mais uns cinco minutos no asfalto e enfiamos por outra trilhinha em direção à Lion´s Head. Se quiséssemos poderíamos evitar essa útima ascensão e seguir direto até o fim da Hoerikwaggo pelo Dorso do Leão. Decidimos que, depois de sete dias de ralação, valia a pena esse derradeiro esforço. Subimos sem pressa, filmando, fotografando e aproveitando os últimos momentos de nossa caminhada.

Chegamos ao cume (669m) com o dia já querendo terminar. Descemos às carreiras. De volta ao Dorso, marchamos meia hora com direito a novas paradas para fotos da cidade e do belo Estádio Green Point erigido para a Copa do Mundo de 2010. Finalmente, chegamos ao Mirante de Signal Hill, onde mais de cem pessoas assistiam ao pôr do sol. Dali, jogamos para baixo e em mais quarenta minutos, chegamos às casas coloridas do bairro histórico de Bo Kaap.

Ao fim tínhamos as pernas cansadas, os pés doloridos, os ombros tensos e a cabeça absolutamente satisfeita. Mal terminamos e já estávamos planejando a próxima trilha.

 

Leia também

Notícias
16 de novembro de 2024

COP29 caminha para ser a 2ª maior na história das Conferências

Cerca de 66 mil pessoas estão credenciadas para Cúpula do Clima de Baku, sendo 1.773 lobistas do petróleo. Especialistas pedem mudança nas regras

Podcast
15 de novembro de 2024

Entrando no Clima#35 – Não há glamour nas Conferências do Clima, só (muito) trabalho

Podcast de ((o))eco conversa com especialistas em clima sobre balanço da primeira semana da COP 29

Notícias
14 de novembro de 2024

Sombra de conflitos armados se avizinha da COP29 e ameaça negociações

Manifestantes ucranianos são impedidos de usar bandeira de organização ambientalista por não estar em inglês

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.