Notícias

Mutum-do-Nordeste: Haverá esperança?

Um triste exemplo de como a ignorância e o descaso quase dizimaram um espécie. Nosso homenageado tem uma chance, mas pode não ser suficiente.

Redação ((o))eco ·
5 de julho de 2013 · 11 anos atrás

Pauxi mitu no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC) Autor: Luís Fábio Silveira
Pauxi mitu no Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas (CCCPC) Autor: Luís Fábio Silveira

A história da ocupação da Mata Atlântica nordestina, em especial nos estados de Pernambuco e Alagoas, começa na sua colonização no século XVI e se estende até os dias atuais. A prática do desmatamento para dar lugar a plantações de cana-de-açúcar é antiga na região, contemporânea à da caça de animais silvestres de maior porte. A partir da década de 70, um novo ciclo de desmatamento – até então estagnado – surge, desta vez mais intenso e veloz, incentivado pelo advento do programa Proálcool: fragmentos de floresta de tabuleiro e o planalto adjacente foram dizimados, eliminando enormes porções de floresta à revelia do Código Florestal Brasileiro e sem qualquer intervenção dos órgãos do governo responsáveis pela proteção dos recursos naturais.

Muitas foram as espécies prejudicadas, dentre elas, o mutum-do-nordeste (Pauxi mitu), também conhecido como mutum-de-alagoas. Um dia a maior ave terrestre da Mata Atlântica nordestina, ocupando grandes territórios de floresta virgem de baixas densidades. Apreciado como peça de caça, foi dizimado junto com a floresta onde vivia. Hoje encontra-se extinto na natureza.

A espécie foi descrita pela primeira vez no século XVII pelo naturalista alemão George Marcgraf e redescoberta em 1951 pelo ornitólogo Olivério Pinto. O mutum-do-nordeste possui aproximadamente 90 cm de comprimento e apresenta uma plumagem uniformemente negra com reflexos azulados. As penas da região ventral e da parte inferior da cauda são marrons. As penas da cauda são também negras, com o seu ápice branco-sujo ou amarronzado e o bico é bicolor, vermelho na base e tornando-se róseo-esbranquiçado em direção à ponta.

O Pauxi mitu é uma ave terrícola que se alimenta de frutos caídos no solo. Em cativeiro, as fêmeas realizam duas posturas por ano, sendo a primeira nos meses de agosto/setembro e a segunda em janeiro/fevereiro. Em média, dois ovos são postos em cada ocasião. A incubação dura cerca de 29 dias.

A espécie sobrevive atualmente em cativeiro, com cerca de 121 espécimes. Graças a um trabalho de reprodução e conservação desenvolvido pela zoobotânica Mário Nardelli, no Rio de Janeiro, o número de indivíduos da espécie, que estava à beira da total extinção com apenas 12, passou para 44. Em 1999, o criatório de Nardelli fechou por dificuldades financeiras e 24 de seus exemplares foram enviados, com a autorização do Ibama, à Crax – Sociedade de Pesquisa da Fauna Silvestre, em Contagem, e ao Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas, em Poços de Caldas, ambos em Minas Gerais.

Os esforços das organizações acima foram responsáveis pela perpetuação da espécie. Hoje, a chance de evitar a definitiva extinção é através da reprodução em cativeiro e a reintrodução na natureza, em áreas protegidas. Neste sentido, a espécie também é foco de um Plano de Ação Nacional para Conservação, conduzido pelo ICMBio.

A triste história do mutum-do-nordeste é um dos primeiros casos de extinção de uma espécie no Brasil em razão da intervenção humana e também reflexo da falta de compromisso que os órgãos ambientais e a sociedade em geral tiveram com os últimos remanescentes de floresta dos estados de Alagoas e de Pernambuco, onde restam menos de 2% de cobertura vegetal nativa.

 

 

 

 

 

Leia também

Reportagens
19 de novembro de 2024

SPVS completa 40 anos com legado de transformação no Paraná

ONG é responsável pela proteção de mais de 19 mil hectares de Mata Atlântica e mantém diversos projetos bem-sucedidos de conservação de fauna e flora.

Podcast
18 de novembro de 2024

Entrando no Clima#37- Brasil é escolhido como mediador nas negociações

Os olhos do mundo estão voltados para o Brasil, que realiza a reunião final do G20, mas isso não ofuscou sua atuação na COP29

Notícias
18 de novembro de 2024

G20: ativistas pressionam por taxação dos super ricos em prol do clima

Organizada pelo grupo britânico Glasgow Actions Team, mensagens voltadas aos líderes mundiais presentes na reunião do G20 serão projetadas pelo Rio a partir da noite desta segunda

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.