Quem chega passeia por Honolulu, no Hawaii, rapidamente percebe que a vasta maioria das aves nas áreas verdes da cidade pertence a espécies exóticas, como pombos domésticos, cardeais brasileiros, White-eyes japoneses, rolinhas chinesas, bulbuls asiático, pardais europeus e mynas indianos. A única ave nativa provável de ser observada é alguma grazina ou Manu-O-Ku nidificando nas árvores dos parques próximos a Diamond Head.
Uma visita à zona rural da Big Island que dá nome ao 50º estado dos USA mostra uma paisagem de capins africanos e algarobas sul-americanas onde passeiam francolins indianos, perus norte-americanos, perdizes da Turquia, canários africanos, etc. Plantas e aves nativas só dominam nas áreas mais elevadas onde a ação dos humanos e das espécies introduzidas por eles ainda não completou o desastre ambiental que arrasou a biota local.
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O Hawaii ou Havaí é um dos epicentros mundiais da extinção das espécies, desastre que começou com a chegada dos povos polinésios entre 300 e 500 DC. Os imigrantes rapidamente transformaram a maior parte das áreas a baixas altitudes em terras agrícolas para sustentar uma população que pode ter chegado a 1 milhão de pessoas. Ao mesmo tempo trouxeram predadores como porcos, cães e o Kiore ou rato-polinésio que juntaram suas forças às dos caçadores humanos.
As ilhas havaianas são um arquipélago composto por ilhas de idades variadas, formadas por um hotspot sob a Placa Tectônica do Pacífico. Por exemplo, Oahu tem de 3,7 a 4 milhões de anos e a ainda vulcanicamente ativa Big Island tem entre 200 e 700 mil anos. Como o arquipélago nunca esteve ligado a um continente sua fauna e flora evoluíram ali a partir de ancestrais que chegaram após cruzar mais de 4 mil quilômetros de oceano aberto.
Estes colonizadores, que nunca incluíram mamíferos terrestres exceto morcegos, deram origem a criaturas especiais, especialmente entre as aves. Os chamados honeycreepers havaianos, um grupo de pelo menos 56 espécies das quais apenas 18 ainda estão vivas (já chego lá) é um dos exemplos mais fascinantes de radiação adaptativa, com uma tremenda diversidade de espécies, morfologias e ecologias.
Resumindo a história (veja aqui e aqui), ao longo dos últimos 5 milhões de anos uma espécie similar ao pintarroxo-vermelho da Eurásia deu origem a um mínimo de 56 espécies que ocupam nichos ecológicos que vão do beija-flor ao pica-pau (veja imagens aqui).
Outras aves tão ou mais incríveis evoluíram nas ilhas, incluindo um pato “toupeira” quase cego e incapaz de voar, íbis não voadores caçadores de caracóis, que eram parentes próximos dos guarás brasileiros, corujas terrestres, uma águia e quatro espécies (conhecidas) de gansos gigantes não voadores batizados pelos pesquisadores como moa-nalos.
A estimativa da riqueza original das ilhas é de 125-145 espécies de aves, mas um mínimo de 50 foi eliminado pelos polinésios, que esqueceram sua existência. Esta só foi revelada quando pesquisadores começaram a explorar dutos de lava e sítios arqueológicos atrás de ossos, mostrando ao mundo que os nativos ecologicamente corretos causaram uma extinção em massa digna de uma sociedade capitalista. Isso não tornou os cientistas muito populares entre os adeptos da visão rósea do “bom selvagem”.
A chegada dos europeus no século XVI piorou o que já estava ruim e, desde 1778, outras 31 espécies de aves havaianas foram extintas graças à destruição de seu habitat, mais predadores introduzidos (mangustos, ratos e e gatos), malária aviária e pox trazidas por aves exóticas e transmitidas por mosquitos também introduzidos.Os coletores de museu fizeram sua parte indo atrás dos últimos exemplares de algumas espécies.
O Hawaii pode ser bonito, mas também pode ser muito deprimente
Gansos eram um componente importante da fauna havaiana e antes dos polinésios havia pelo menos quatro espécies de moa-nalos não voadores (…)
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Os mosquitos que transmitem malária e poxvirus não conseguem viver nas frias florestas das montanhas e estas são o último refúgio de muitas espécies. Hoje há uma corrida evolutiva: por seu lado, as aves sob pressão para desenvolverem resistência aos patógenos, enquanto as mudanças climáticas levam os mosquitos montanha acima. Você pode ver um vídeo sobre a crise atual aqui.
Gansos eram um componente importante da fauna havaiana e antes dos polinésios havia pelo menos quatro espécies de moa-nalos não voadores, três de gansos grandes no processo de perder a capacidade de vôo e o Nene ou ganso havaiano. Apenas o Nene sobreviveu.
Nenes Branta sandvicensis eram encontrados em todas as grandes ilhas havaianas, exceto Oahu (os ossos provam isso), mas humanos e bichos associados reduziram sua população a talvez 30 aves vivendo nas montanhas da Big Island. Hoje há cerca de 2.500 aves na natureza, mas menos de mil nasceram livres.
O Nene foi alvo de um agressivo programa de reprodução em cativeiro capitaneado pelo então Wildfowl & Wetlands Trust. Isso permitiu a soltura na natureza para aumentar as populações no que se suponha ser seu habitat natural, as áreas abertas e pedregosas no alto das montanhas mais altas da Big Island e Maui.
Mais de 2.400 aves foram soltas entre 1960 e 2006, mas as baixas sobrevivência, produtividade e a tremenda mortalidade que matou quase todas as aves soltas (cerca de 1200) durante a seca de 1976-83 mostraram que o habitat onde os últimos Nenes selvagens sobreviveram não era nenhuma beleza. Na verdade, nenhuma das populações hoje estabelecidas nas montanhas pode ser considerada viável na ausência de manejo que inclui suplementação alimentar e controle de predadores — Incluindo carros de turistas, que já foram um dos maiores fatores de mortalidade.
Um acidente e estudos feitos nos anos 1990 mostraram um novo caminho
O caso do Nene mostra que o habitat usado pelos últimos membros de uma espécie não é necessariamente o ideal ou mesmo o original. Apenas que foi onde calhou deles sobreviverem.
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Na ilha de Kauai uma população se estabeleceu a partir de 18 aves escapadas de um viveiro em 1982 graças ao tufão Iwa. Elas se deram muito bem nas Kauai Lagoons, onde já havia mais de 400 aves em 2011. Esta população cresce rapidamente e aves de lá são usadas para povoar outras áreas.
Em Kauai, seguindo recomendações dos cientistas, aves foram soltas junto ao litoral na costa de Na Pali. Nenes também foram liberados em habitat similar junto à costa de Molokai, um projeto desenvolvido em terras privadas com colaboração de fazendeiros locais.
O interessante é que as Kauai Lagoons não são uma Unidade de Conservação, mas um complexo de campos de golf, hotel e lagoas junto ao aeroporto da ilha, onde os Nene são um problema de segurança.
A grama sempre verde dos campos de golf e da pista do aeroporto e a ausência de predadores como o mangusto (introduzido para controlar ratos nos canaviais das outras ilhas) mostraram ser uma combinação muito melhor que o “habitat natural” no alto das montanhas. Tão melhor que, em 2012, foram translocados 300 Nene das Kauai Lagoons para Big Island e Maui.
O caso do Nene mostra que o habitat usado pelos últimos membros de uma espécie não é necessariamente o ideal ou mesmo o original. Apenas que foi onde calhou deles sobreviverem.
E que programas de conservação devem considerar alternativas que podem não ser óbvias ou convencionais — especialmente entre puristas olhando o passado –, mas que são aprovadas pelos bichos.
O passado é sempre um guia, mas conservar a biodiversidade é algo que deve mirar o futuro.
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it be a great to see in alive in the golf courses.
ungolfer
bom dia eu gostaria de saber se os ovos do ganso havai nene pode ser chocado em galinhas ,sua resposta é muito importante para mim,desde já agradeço pela atenção