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A grande aventura de Marcos Sá Corrêa no Parque Nacional do Iguaçu

Tudo começou com as comemorações de 70 anos do Parque, e se estendeu por um ano dedicado ao registro de fotos e histórias, que agora vêm a público

Jorge Luiz Pegoraro ·
4 de abril de 2016 · 9 anos atrás
Marcos Sá Corrêa em ação no PNI. Foto: Jorge Pegoraro
Marcos Sá Corrêa em ação no Parque Nacional do Iguaçu, em 2010. Foto: Jorge Pegoraro

Em 2008, Marcos Sá Corrêa recebeu um convite inesperado, contribuir com o projeto Memória das Cataratas, idealizado pela administração do Parque Nacional do Iguaçu e instituições parceiras, como parte das comemorações do aniversário de 70 anos da unidade de conservação, que ocorreria em janeiro de 2009.

Marcos já havia visitado as Cataratas do Iguaçu algumas vezes como turista. Porém, ainda não conhecia o Parque Nacional do Iguaçu em toda sua expressão. Na companhia do historiador Lorenzo Aldé, ele iniciou uma frenética caminhada literária.

Buscou detalhes da formação social dos municípios vizinhos e do próprio Iguaçu, numa região colonizada quase totalmente por descendentes de europeus. Conversou com famílias de pioneiros, entrevistou pesquisadores, funcionários e antigos administradores. Enfim, colecionou muitos “causos” para a elaboração do futuro livro, uma contribuição valiosíssima para o projeto.

“Meu vizinho, o Parque Nacional do Iguaçu”, de autoria de Marcos Sá Corrêa e Lorenzo Aldé, ficou magnífico e foi lançado no exato dia 10 de janeiro de 2009, quando o Parque completou seus 70 anos de existência.

Livro “Meu vizinho, o Parque Nacional do Iguaçu” escrito por Marcos Sá Corrêa e Lorenzo Aldé.

Com o livro também foi lançada uma bela exposição de fotografias antigas, organizada com imagens doadas pelos pioneiros da cidade de Foz do Iguaçu, que participaram ativamente do projeto.

O envolvimento de Marcos foi intenso. Não se limitou à confecção do importante livro, que, aliás, foi uma contribuição sem precedentes para a história do Parque . Pelo contrário, suas ideias e contribuições foram absorvidas pela pequena equipe responsável pelo projeto.

Através de sua larga experiência como fotógrafo, jornalista e, acima de tudo, ferrenho ambientalista, Marcos contribuiu sobremaneira para a realização e sucesso do projeto Memória das Cataratas, cujos resultados ainda perduram.

Paixão com retorno

Um dito antigo afirma que quem bebe da água do rio Iguaçu nunca mais sai da região, ou se sair, sempre retorna. Foi o que aconteceu. Logo após a realização do aniversário do Parque, Marcos surpreendeu. Com seu estilo prático e direto, apresentou à administração do Parque uma carta com nova proposta. Nela, desafiava-se profissionalmente a se dedicar, agora exclusivamente, a produzir um conjunto de fotografias, textos e notas sobre a rica biodiversidade do Parque Nacional do Iguaçu.

Munido da sua paixão pela fotografia de natureza e seu profundo conhecimento sobre a história da conservação dos Parques Nacionais, Marcos iniciava uma de suas mais férteis experiências: um novo olhar e nova caminhada, literalmente, pelos 185 mil hectares de Mata Atlântica mais preservados do Sul do Brasil; entre jerivás, palmitos, árvores frondosas, insetos e animais selvagens.

Marcos Sá Corrêa e um filhote de veado no PNI. Foto: Jorge Pegoraro
Marcos Sá Corrêa e um filhote de veado no Iguaçu (2010). Foto: Jorge Pegoraro

Sem perder tempo, embrenhou-se solitário na selva paranaense, com sofisticados equipamentos fotográficos, um celular que quase nunca funcionava na floresta, sem internet, com uma simples caderneta e duas barras de cereais na mochila.

Assim passava o dia inteiro. Nem chapéu usava, pois não gostava.

Até que dois bernes, teimosamente, se instalaram e usaram seu couro cabeludo como moradia provisória. Atendido por um dermatologista amigo da cidade, pois “aquela coisa” não parava de coçar, Marcos foi aconselhado a não resistir ao chapéu nas suas aventuras pelo interior da floresta. Conselho prontamente aceito.

Seus textos e fotografias sobre o Iguaçu eram publicados em seu blog pessoal. Utilizava a internet de um hotel situado na rodovia das Cataratas, aproximadamente a dez quilômetros do Parque, pois era a mais eficiente, além do café local ser o mais saboroso. Um funcionário do hotel que quase sempre o atendia, já trazia o cafezinho quente, sem açúcar, com a pergunta: “veio usar a internet, seu Marcos?”

Entre centenas de quedas d’águas, borboletas, aves, fungos, animais selvagens e uma floresta inteiramente preservada a ser cotidianamente explorada por sua mente e lente curiosas, Marcos registrou em um ano de trabalho mais de cinco mil fotografias, “boas”, como ele dizia.

Além disso, colheu muitas entrevistas e teve uma convivência próxima à equipe do Parque Nacional do Iguaçu. Marcos participou de quase tudo o que aconteceu no local naquele ano. Não havia funcionário, seja do Parque ou de suas concessionárias prestadoras de serviços, que ele não cumprimentasse e logo iniciasse uma prosa. Era ávido por conhecer pessoas “da lida no Parque”.

Era mais que um fotógrafo de natureza. Estava sempre atento ao que ocorria ao seu redor, profundo observador dos processos que ocorriam na floresta, principalmente nas mudanças das estações do ano.

Neste período, ficou hospedado num pequeno apartamento, com quarto e banheiro, na casa do Chefe do Parque. Nunca reclamou de suas instalações.

Sua esposa Angela, sempre que podia, vinha do Rio de Janeiro passar o final de semana com o marido. Costumava ajudá-lo na pesada tarefa de levar os equipamentos fotográficos pela floresta adentro. Angela acompanhava tudo com paciência e atenção, no que ela descrevia como o melhor ano de suas vidas.

Neste março de 2016, Marcos voltou ao Parque para o lançamento da mostra “Caminhos e Pegadas”, composta por imagens que produziu naquele período, agora expostas no Ecomuseu da Itaipu. Àqueles da equipe do Iguaçu que acompanharam essa empreitada, resta a certeza emocionada de que valeu muito a pena ter um hóspede tão sábio, companheiro e, por que não dizer, corajoso no Iguaçu.

Não tem preço o que foi produzido por Marcos neste período, e que agora pode ser visto por todos.

Marcos, o Iguaçu te agradece e te reverencia.

Muito Obrigado!

 

 

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  • Jorge Luiz Pegoraro

    Biólogo e Analista Ambiental do ICMBio. Foi Chefe do Parque Nacional do Iguaçu de 2003 a 2015

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Comentários 6

  1. Marina diz:

    Obrigada Jorge por relembrar um dos muitos feitos do Marcos; todos com muito carinho sempre. A foto é ainda mais saudosa! Difícil encarar O ECO sem as encantadoras histórias dele.


    1. Jorge Pegoraro diz:

      Valeu Marina, era quase uma obrigação para mim escrever sobre o Marcos. Já que ocorreu uma convivência fraterna/ambiental de mais de um ano juntos. E neste período, muitas histórias foram vivenciadas no Parque Nacional do Iguaçu. Obrigado pela leitura.


  2. Aline diz:

    Olá! O blog do Marcos ainda esta no ar? Podem me informar o endereço? – que sempre tenha inspiração para a coragem de proteger nossa verdadeira riqueza! Obrigada!


    1. Aline, procuramos o site para colocar um link nesta coluna, mas não encontramos. Parece que saiu do ar.


  3. José Truda diz:

    Obrigado por mais esse resgate da imensa contribuição do grande Marcos, o pai d´O ECO junto com Sergio Abranches, para a valorização e proteção da biodiversidade brasileira e, em especial, de nossos parques!


    1. Trudão, não se esqueça do Miguel Milano, que foi quem teve a ideia original e incentivou o Marcos a colocar todo o seu imenso talento nesta empreitada que já tem quase 12 anos. Pré adolescência. Abraços!