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Incomodada ficava sua avó

A última palavra em menstruação ecologicamente correta é o bio-absorvente feminino. Em nome da natureza, propõe-se às mulheres a volta da velha toalhinha.

10 de novembro de 2004 · 19 anos atrás

Mulheres ecologicamente corretas preparem-se para acrescentar mais um item à nécessaire. Preocupados com os danos causados ao meio ambiente pelos 622 milhões de absorventes internos consumidos anualmente pelo mundo, a Food and Drug Administration (FDA), agência americana que regula medicamentos e alimentos, e a Environmental Protection Agency (EPA), que avalia riscos e impactos ambientais da indústria, estão recomendando o uso de absorventes orgânicos.

Atualmente, a maioria deles é feita de rayon, um derivado da celulose mais eficiente e barato que o algodão, usado nos primórdios do OB. O problema é que o rayon produz a dioxina, um subproduto poluente que escapa dos sistemas de tratamento de esgoto. A dioxina também não é absorvida pelo solo quando descartada nos aterros sanitários, contaminando o terreno. Os absorventes de algodão orgânicos não deixam resíduos e são assimilados pelo ambiente. Porém, de acordo com o que foi publicado na revista Super Interessante de outubro 2004, por enquanto, eles só podem ser encontrados nos Estados Unidos.

Como não podia deixar de ser, é óbvio que eles já estão usando o câncer como argumento “discreto” de venda. Além do problema ambiental, Philip Tierno, pesquisador da Universidade de Nova York, também suspeita que cerca de 10 mil absorventes consumidos por uma mulher ao longo da vida possam ser responsáveis por certos tipos de câncer. Devo confessar que parte de mim acredita que o povo americano tem uma certa fascinação pelo câncer.

No paralelo, aqui no Brasil, Diana Hirsch, geógrafa formada pela PUC–RJ, criou o aBIOsorvente, um absorvente íntimo (tradicional Modess) reutilizável, que surge como uma alternativa ecológica aos descartáveis. Como se reutiliza um absorvente? Não sei. No site, onde ela divulga e vende o inovador produto, não encontrei as instruções de uso detalhadas. Mas, pelo que percebi, trata-se de uma espécie de absorvente plástico com refis de flanela. A mulher fica com a tira plástica e repõe as flanelas. Detalhe interessante: as tiras plásticas estão disponíveis em diversas estampas!

Segundo Diana, cada uma de nós (mocinhas) usa e joga fora, cerca de 10.000 a 15.000 produtos menstruais durante a vida fértil. Isso é o equivalente a 17 carrinhos de supermercado cheios! Antes de seguir comentando sobre os tampões a absorventes ecologicamente corretos, faço uma pausa para falar sobre as fraldas, já que os produtos me parecem similares. Com certeza, o número de carrinhos de supermercado lotados de fraldas (não orgânicas) é infinitamente superior ao de absorventes femininos.

No entanto, tirar as fraldas descartáveis do mercado é um trabalho árduo. Além do rombo que causariam no faturamento de seus fabricantes, mamães modernas não abririam mão deste produto com facilidade. Voltar a usar fraldas de pano? Jamais. Fora isso, a lavagem de fraldas vai aumentar o consumo de água, atual “moeda” internacional. Enquanto pesquisas americanas não constatarem que fraldas convencionais podem causar danos à saúde do bebê, acredito que fraldas tóxicas e nocivas ao meio ambiente ainda serão encontradas no mercado.

A inventora do aBIOsorvente apela e diz que muitos tampões são jogados na privada, causando problemas no sistema de esgotos. E que, além disso, os aplicadores de tampões sujam as praias, poluindo o mar e matando milhares de pássaros e animais marinhos que engolem esses plásticos por engano e acabando morrendo sufocados ou intoxicados. Milhares de produtos plásticos “intoxicam” nossos mares e solos. No entanto, o absorvente parece ser especialmente fatal. Como sinais de proteção ao meio ambiente viraram fontes de renda e dão dinheiro, ninguém mais deixa de usar a saúde do planeta terra para conquistar consumidores.

Quando números apavorantes começam a ser disparados para dimensionar o problema e alertar a população, a coisa logo toma proporções gigantescas, em questão de meses. De repente, o que era sinônimo de conforto e praticidade na vida da mulher moderna vira drama de consciência. Por enquanto, minha neofobia vai me obrigar a fazer um estoque de absorventes poluentes, com rayon e algodão não orgânico. Sim, opto pelos absorventes assassinos de animais marinhos, do tipo que passam por processos de branqueamento, são anatômicos, práticos e confortáveis.

Por milhares de anos, os métodos de proteção menstrual ficaram limitados a uma faixa de algum material relativamente macio e absorvente que era preso por cordões, cintas e outros dispositivos para mantê-lo no lugar. As “toalhinhas higiênicas”, apesar de ecologicamente seguras, eram um terror para as mulheres. Um incômodo. Até que me convençam do contrário, me recuso a usar rolhas ecologicamente corretas ou fitas plásticas e flanelas que não causam nenhum dano ao meio ambiente. Não serei a primeira da fila. Vou esperar os japoneses criarem produtos inéditos que respeitem o meio ambiente e os caprichos dos bichos esquisitos que todo mês sangram.

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