Os alimentos viajam cada vez mais para chegar à boca dos consumidores. O incipiente movimento “Comida Local” (Local Food) aponta essa tendência como gravemente nociva para o meio ambiente e o modo de vida tradicional de comunidades rurais. Segundo seus participantes, quanto mais perto comprarmos nossos alimentos, melhor.
O transporte fácil e barato é um forte impulsionador da globalização. Bens antes difíceis de exportar, devido à dificuldade de transpor grandes distâncias, podem, agora, ser entregues em todo o planeta. Componentes de computadores, peças de carros, brinquedos e vestuário, tudo se move. Inclusive a comida. Em Chicago, um estudo realizado pelo Departamento de Agricultura americano mostrou que a distância média que os alimentos viajam para chegar lá, no período de 1982 a 1998, subiu de 1.992 km para 2.428 km. Um aumento de 22%.
Os ativistas do Comida Local têm bons argumentos econômicos. Subsídios dados à agricultura industrial contribuem para dizimar os pequenos produtores locais. Não é segredo que governos do mundo inteiro ajudam, em geral, os médios e grandes produtores com crédito barato e preços mínimos. Os casos mais conhecidos e descabidos estão na rica tríade EUA, Japão e União Européia. Só esta última gasta metade do seu orçamento com subsídios agrícolas.
O transporte por longas distâncias, ubíquo e barato, a que nos acostumamos é, freqüentemente, movido a subsídios governamentais. Isenções fiscais para grandes empresas petrolíferas, subsídios ao consumo de diesel e à construção de estradas reduzem artificialmente esses custos. Por fim, esse transporte não leva em conta sua contribuição para o efeito estufa. Se essa externalidade fosse contabilizada, o preço da movimentação dos alimentos também sofreria. Tudo isso torna difícil a vida dos pequenos produtores que, além de não ter escala, não têm acesso aos ouvidos dos políticos que dão o atalho aos cofres públicos.
Eis alguns números dos ativistas contra a globalização da comida. Se os habitantes do estado de Iowa, nos EUA, comprassem 10% da sua comida localmente, evitariam anualmente a emissão de 3.500 toneladas de dióxido de carbono. Uma organização japonesa calculou que se a comida no país não fosse importada, isso equivaleria à redução do consumo de energia doméstica em 20%. Pesquisadores ingleses calcularam que os custos ambientais do transporte de comida no país ultrapassam os 16 milhões de dólares por ano.
É claro que os ativistas apontam somente os problemas da comida “estrangeira”. Eles também cultivam um forte apelo tribal, usado para defender os pequenos produtores regionais contra a grande indústria agropecuária internacional. Defendem que a comida local é mais fresca, diversa e, em geral, mais orgânica e comunitária. Um diferencial simpático. Quem não gostaria de conhecer pelo nome os produtores que provêem a sua mesa?
Mas é bom não esquecer que o mundo moderno, urbano, rico e sofisticado, só se tornou possível pelos avanços na agricultura, que liberaram o trabalho para outras atividades. Até Marx reconheceu que a revolução industrial tirou o homem de uma existência dura e limitada no campo. Os aumentos da produtividade e do comércio são os motores da prosperidade material. A escala da produção e os transportes cada vez mais eficientes são os seus coadjuvantes indispensáveis.
O comércio internacional tem outras vantagens. Reduz tensões políticas, aproximando governos e povos. Reparte o esforço de desenvolvimento tecnológico entre os países. As novas descobertas fluem embutidas nos produtos exportados, carregadas pelas empresas multinacionais e nos intercâmbios científicos. Tudo isso é muito bem-vindo, inclusive em relação aos alimentos. Desde que os preços não sejam distorcidos por subsídios e externalidades proporcionados pela generosidade dos governos com os ricos nem pela omissão em relação aos danos ambientais.
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