Estou vivendo uma situação no mínimo curiosa aqui em Calgary, Alberta, Canadá (e acredito que a mesma situação esteja acontecendo pelo mundo afora): empresas grandes, ligadas a esportes ou à vida natural estão dando sacolas de compras para os clientes com algumas propriedades degradáveis, mas as próprias empresas não sabem muito bem do que se trata e não instruem seus funcionários, que dão informações contraditórias, quando dão alguma. As empresas claramente usam esta oportunidade como marketing, sem saber que, muitas vezes, fazem mais mal do que bem.
Cheguei aqui em 2005 e logo fui trabalhar na Mountain Equipment Co-op (MEC), uma cooperativa que vende equipamentos para esportes impulsionados pelo homem – não entra nada a motor ali! É uma mega-cooperativa, com cerca de 11 lojas grandes espalhadas pelo Canadá, venda pela internet, marca própria além de outras, e uma política de só vender para quem é membro. Torna-se membro quem paga os $5 (dólares canadenses), válidos para a vida toda. Fiquei um ano lá, trabalhando no começo no estoque e, depois, na loja atendendo os membros (função para a qual passei uma semana sendo exaustivamente treinada, já que os membros fazem perguntas extremamente técnicas sobre os equipamentos vendidos ali) e no caixa, onde fiquei apenas por um curtíssimo período.
Quando saí de lá, a loja já oferecia as bio-bags, sacolas de ‘plástico’ feitas, na verdade, de amido de milho (cornstarch) e, por isso, biodegradáveis. Custam quatro vezes mais do que as de plástico comum e podem causar ainda mais danos ao meio ambiente, se enviadas ao aterro sanitário. De acordo com a Sociedade Americana para Testes e Materiais (American Society for Testing and Materials – ASTM), um órgão internacional que estabeleceu parâmetros para plásticos compostáveis e degradáveis, plásticos compostáveis são ‘capazes de decompor biologicamente na compostagem, de tal forma que ele não será fácil de distinguir visualmente, se transformando em dióxido de carbono, água, compostos inorgânicos e biomass, não deixando resíduo tóxico.
Portanto, sacolas biodegradáveis são feitas para irem para a compostagem e, desta forma, se decompor na presença de microorganismos e oxigênio. Se forem para o aterro, irão gerar metano, um dos gases do efeito estufa, já que vão se decompor sem a presença do oxigênio, ou seja, anaeróbicamente. Vale lembrar que o mesmo acontece com restos de grama cortada, frutas, vegetais, folhas, jornais etc. Em 2003, os aterros sanitários de Calgary emitiram a mesma quantidade de gases (greenhouse gases) que 75 mil camionetes (SUVs) sendo usadas durante um ano inteiro!
O conceito é ótimo, mas o resultado deixa a desejar, já que não fomos treinados para responder perguntas sobre a bio-bag. Pior, são dadas sem a menor cerimônia para membros que sequer percebem não se tratar de um plástico ‘comum’. Mesmo que soubessem, a maioria não tem compostagem em casa e a prefeitura, apesar de receber abóboras durante o Halloween e pinheiros durante o Natal que viram compostagem nos aterros sanitários de sua propriedade, não faz coleta seletiva de nada, que dirá de orgânicos!
Antes o problema fosse apenas o envio das bio-bags para o aterro. Como não sabem que se trata de uma sacola biodegradável (apesar de escrito na própria sacola), ou, se sabem, não entendem o conceito, acabam colocando-a nas coletas de sacos plásticos para reciclagem e atrapalham a vida dos recicladores, já que as sacolas são feitas de um material diferente que, uma vez reciclada, irá ‘enfraquecer’ e alterar a qualidade do plástico gerado na reciclagem.
Outra empresa chamada Community Natural Foods passou a entregar sacolas de plástico degradáveis, que se decompõe na presença de oxigênio em cerca de 24 meses. Estas, por sua vez, podem ser recicladas, mas não podem ser compostadas. Isto também vem escrito na sacola, mas os funcionários sabem pouco e cada um tem uma resposta diferente, quando inquiridos sobre o assunto. Pasmem, mas a própria prefeitura da cidade responde inverdades através do telefone de atendimento ao público e dizem que podemos reciclar as sacolas biodegradáveis! Um supermercado de produtos orgânicos chamado Planet Organic introduziu as sacolas de plástico ‘oxo-biodegradáveis’ que, assim como os plásticos degradáveis, são derivados do petróleo e aditivos para se degradarem mais rapidamente na presença de calor, humidade e/ou raios ultravioleta (UV). Moléculas grandes se partem em menores e assim por diante até ficarem pequenas o suficiente para desaparecerem no solo. Mas, veja bem, este plástico não é feito para ir para a compostagem!
O grupo Forzani, um gigante das lojas de materiais esportivos, acaba de trocar os plásticos pelas bio-bags também, um ano depois da MEC, muito provavelmente impulsionados pela pressão que a MEC e seus membros fazem, concorrentes diretos de algumas lojas do grupo, como a Coast Mountain Sports. A pessoa responsável por esta iniciativa, aqui em Calgary, não sabia responder a diferença entre as sacolas e como torná-la ‘amiga’ do meio ambiente, jogando-a na compostagem. Chega a ser quase assustador…
Mas, o que fazer? A melhor solução é não usar sacos plásticos. Da próxima vez que for ao supermercado ou à feira, leve sua sacola de algodão ou mesmo uma mochila. No Canadá, um país com apenas 30 milhões de habitantes (a população da Grande São Paulo espalhada pelo segundo maior país do mundo), 55 milhões de sacolas plásticas são dadas POR SEMANA! Não faço sequer idéia dos números brasileiros, mas com certeza deve ser muito superior a este. Portanto, a maior contribuição que alguém pode fazer para minimizar o problema é usar uma sacola reutilizável. No entanto, se for usar algum tipo de sacola citada acima, dê o destino correto a cada uma delas…
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