Há cinqüenta e tantos anos, quando era moda explicar o Brasil ou o Brasil ainda tinha explicação, entrou na lista das leituras mais ou menos obrigatórias um livro do escritor Vianna Moog, chamado Bandeirantes e Pioneiros, que fazia um largo passeio pela história do continente, em busca de razões para achar porque, na América do Norte, as coisas acabam dando certo e, na do Sul, não.
Umas das hipóteses era a conjuração de acasos que fazia, lá em cima, os recursos naturais brotarem no chão no momento exato. Cá embaixo, eles chegaram antes ou depois, mas não a tempo. O ouro, por exemplo, descoberto na América espanhola e na portuguesa cedo demais, serviu principalmente para aguçar a voracidade das metrópoles. Nos Estados Unidos, apareceu na Califórnia depois da independência. E a Califórnia é rica até hoje.
Moog e Obama
Há décadas não se fala de Vianna Moog. Mas fica difícil esquecer seus argumentos, quando os jornais informam que o governo Barack Obama, pelo visto, está levando a sério as promessas de campanha e disposto a contornar a crise econômica dando a volta no petróleo e no carvão, venerandos combustíveis da revolução industrial.
Até as fábricas de automóveis, apesar do aperto, dão sinais de ultrapassar o século longo e fumarento em que o motor à explosão dominou o planeta, soltando fogo pelas ventas. Cada vez mais, as próximas novidades que saem das pranchetas são veículos exóticos, como o Aptera 2e, que lembra um avião sem asas e promete levar dois passageiros sobre três rodas por 200 quilômetros, com eletricidade pura.
O Aptera pode ser só uma extravagância típica de uma época em que os inventores, depois de muitos anos, andam novamente com os dedos coçando na indústria automobilística. Mas não dá para dizer o mesmo do BMW série 7 modelo 2009, um V-8 híbrido, puxado por motor a diesel e elétrico. Ou do Chevrolet Equinox a hidrogênio, já disponível para aluguel em três estados americanos. O Jeep Patriot EV, da Chrysler, Mercury Hybrid, da Ford, o Honda esporte CR-Z, o Lexus HL e o Mercedes-Benz S400 Blue-Hybrid, cada um a seu modo, todos anunciam a hora de ver os postos de gasolina pelo espelho retrovisor.
Isso, pelo menos, o mundo deve ao governo George Bush – a consagração do petróleo como o principal carburante dos regimes perdulários, ditatoriais e belicosos. É ele que patrocina o terrorismo islâmico, via Arábia Saudita, ou banca as reeleições do presidente Hugo Chávez na Venezuela. O jornalista Thomas Friedman, que escreve obsessivamente sobre este assunto no New York Times, reuniu várias coincidências históricas numa equação da “petropolítica”. Por ela, as ditaduras crescem e aparecem à medida que sobem as cotações do barril.
Não é o caso da pacífica, democrática e ambientalmente correta Noruega que, entre outros feitos notáveis, reduziu suas cotas de CO2 em 15% taxando internamente as emissões de carbono. Mas nem ela escapa das críticas externas. Trata-se de uma “prodigiosa poluidora”, segundo a revista The Economist, porque exporta petróleo. E, como tal, acaba de entrar na mira de agências e ongs internacionais, como inimiga do meio ambiente.
Tem muita coisa acontecendo lá fora, enquanto o Brasil planta cana e discute o pré-sal, como se um futuro igualzinho ao passado estivesse pronto, logo ali na frente, à sua espera.
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