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Cerrado perdeu 1.786 hectares de vegetação nativa por dia em 2024, mostra Mapbiomas

Apesar dos números, houve queda no desmatamento não só neste bioma, mas também na Amazônia, Pantanal, Pampa e Caatinga. Mata Atlântica se manteve estável

Cristiane Prizibisczki ·
15 de maio de 2025

Pelo segundo ano consecutivo, o Cerrado ultrapassou a Amazônia em área desmatada. Em 2024, o bioma perdeu 652.197 hectares – o equivalente a quatro vezes a cidade de São Paulo – ou 1.786 hectares de desmatamento por dia. Apesar do número expressivo, todos os biomas brasileiros apresentaram queda, com exceção da Mata Atlântica, onde a cifra se manteve estável, em relação a 2023.

Os números são do Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD), lançado nesta quinta-feira (15) pelo MapBiomas. De acordo com a análise, o Cerrado foi, sozinho, responsável por 52,5% de toda a perda de vegetação nativa no país em 2024.

Neste bioma, a região do Matopiba – acrônimo para área compreendida nos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – concentrou 75% do desmatamento do Cerrado e cerca de 42% de toda a perda da vegetação nativa do país. 

Quatro dos cinco estados com maior perda de vegetação nativa em 2024 ficam no Matopiba, a principal fronteira de desmatamento do Cerrado. Mesmo com redução de 34,3% na área desmatada, o Maranhão lidera o ranking pelo segundo ano consecutivo: 218 mil hectares foram perdidos nesta unidade da federação.

Apesar dos números altos, ressalta o Mapbiomas, olhando para a série histórica, as cifras registradas em 2024 no bioma representam uma queda de 40% em relação a 2023.

Amazônia

A Amazônia foi o segundo bioma que mais perdeu vegetação nativa em 2024. No ano passado, foram destruídos 377.708 hectares de floresta tropical, o equivalente a duas vezes a cidade de São Paulo e 30,4% da área total desmatada no Brasil

O ritmo do desmatamento na Amazônia foi de 1.035 hectares por dia, o equivalente a sete árvores por segundo. Neste bioma, a maioria dos estados apresentaram queda na área desmatada, com exceção do Acre, que registrou aumento de 31%.

A área mais crítica na Amazônia Legal é a conhecida como Amacro – acrônimo para a região dos estados do Amazonas, Acre e Rondônia. Assim como na região crítica do Cerrado, o Matopiba, pelo segundo ano consecutivo a região da Amacro registrou queda, desta vez de 13%.

Juntos, Amazônia e Cerrado responderam por quase 83% da área desmatada em 2024 e isso se reflete no tipo de vegetação mais destruída no Brasil: pelo segundo ano consecutivo, as formações savânicas foram as áreas mais desmatadas (52,4%) no Brasil, seguidas das formações florestais (43,7%).

Demais biomas

A Caatinga aparece como terceiro bioma mais desmatado em 2024, com 174.511 hectares de perda de vegetação nativa, ou 14% do total nacional. Neste bioma a queda foi de 13% em relação a 2023.

O Pantanal é o quarto no ranking de desmatamento. Neste bioma, foram desmatados  23,2 mil hectares (1,9% do total do país), uma queda de 58,6% em relação ao ano anterior. 

A Mata Atlântica aparece em seguida, com 13,4 mil hectares desmatados em 2024 (1,1% do total), quase o mesmo número de 2023, o que fez com que o índice se mantivesse estável. Este cenário, no entanto, foi provocado pela perda de vegetação nativa em eventos extremos. Não fossem tais eventos, a queda no desmatamento seria de 20% neste bioma.

Por último, aparece o Pampa, com 896 hectares desmatados (0,1% do total), uma queda de 42%.

Dados gerais do Brasil

Os dados acima mostram que, pela primeira vez desde o início da validação e publicação de alertas de desmatamento no Brasil, em 2019, o MapBiomas registrou, em um mesmo ano, queda na perda de cobertura de vegetação nativa em quase todos os biomas.

A área total desmatada no país recuou 32,4% em relação a 2023. No ano passado, o Brasil perdeu 1,2 milhões de hectares de vegetação nativa nos seus biomas brasileiros.

Segundo os dados do RAD, 2024 foi o segundo ano consecutivo de queda no desmatamento. Em 2023, a retração havia sido de cerca de 11%, em comparação com 2022.

O tamanho dos desmatamentos também diminuiu em 2024. O número de alertas com área maior que 100 hectares, por exemplo, teve uma redução de 31% em relação a 2023. Ao longo do ano passado, a área média desmatada por dia foi de 3.403 hectares – ou 141,8 hectares por hora. 

Mais de 97% de toda a perda de vegetação nativa no Brasil nos últimos seis anos ocorreram por pressão da agropecuária. Outros vetores têm peso distinto de acordo com o bioma. No caso do garimpo, por exemplo, 99% de toda área desmatada por essa atividade está localizada na Amazônia. Já no caso de desmatamentos associados aos empreendimentos de energia renovável desde 2019, 93% deles estão concentrados na Caatinga. O Cerrado, por sua vez, concentra 45% da área desmatada relacionada à expansão urbana em 2024. 

Em seis anos, o desmatamento no Brasil suprimiu uma área equivalente a toda a Coreia do Sul: foram 9.880.551 hectares de 2019 a 2024 – dois terços dos quais (67%, ou 6.647.146 hectares) ficam na Amazônia Legal. 

Jair Schmitt, presidente interino do Ibama, comemorou os dados e destacou a retomada das ações de comando e controle no novo governo Lula, a exemplo do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento, que iniciou na Amazônia no governo anterior, mas foi expandido para os demais biomas nesta gestão do petista. 

Schmitt destaca, no entanto, que o trabalho deve continuar. “As notícias são boas, evidentemente, mas o trabalho, a campanha institucional para continuar combatendo e controlando o desmatamento não param nesse momento. Todos os anos perseguimos  metas cada vez mais ambiciosas e esse ano não é diferente de outros”.

Segundo ele, o governo vai ampliar e aperfeiçoar as estratégias de fiscalização ambiental, como a fiscalização remota e embargo de áreas desmatadas ilegalmente.

O MapBiomas Alerta é uma iniciativa do MapBiomas que consolida, valida e refina as informações emitidas por diversos sistemas de monitoramento do desmatamento no Brasil, como o Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e os Sistemas de Alerta de Desmatamento (SADs) do Imazon, do SOS Mata Atlântica-ArcPlan e do Pampa/UFRGS/Geokarten.

  • Cristiane Prizibisczki

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

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