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Chuvas e desenvolvimento responsável

A tragédia no Rio impôs um desafio. Quais investimentos garantirão uma economia sustentável ao invés de representar riscos ambientais?

7 de fevereiro de 2011 · 14 anos atrás
O estrago feito pelas chuvas em Teresópolis (RJ) (crédito: Agência Brasil)
O estrago feito pelas chuvas em Teresópolis (RJ) (crédito: Agência Brasil)
Em um esforço para impulsionar a economia por meio do desenvolvimento rápido do solo, o Brasil ficou vulnerável às chuvas fortes – e isso atingiu as economias locais mais dependentes do turismo e da agricultura.

Tomemos por exemplo as áreas mais atingidas pelas chuvas. A região serrana do Rio de Janeiro têm sido um imã para turistas e moradores abastados. Nos últimos 30 anos, governos locais e federal encorajaram o desenvolvimento rápido, com construções em áreas de risco e desmatamento nessas valiosas áreas florestadas. As cidades da serra fluminense começaram a se desenvolver com o surgimento de moradias ilegais nas encostas íngremes – muitas das quais atingidas pelos deslizamentos de terra.

“Combine intempérie com irresponsabilidade ambiental, a soma é igual a uma tragédia”, disse Carlos Minc, secretário do Ambiente do Rio de Janeiro, durante uma entrevista para jornalistas após as enchentes.

As áreas desmatadas deixaram suas áreas vizinhas mais vulneráveis a eventos climáticos severos. Segundo a revista The Economist, as áreas agrícolas no Rio de Janeiro, que são as fontes mais confiáveis de frutas e legumes estão enterradas por lama e rochas, o que fez com que os preços destas commodities não escassas subirem.

Os resultados parecem apontar para uma ironia infeliz: em um esforço para impulsionar a economia por meio do desenvolvimento rápido do solo, o Brasil ficou vulnerável às chuvas fortes – e isso atingiu as economias locais mais dependentes do turismo e da agricultura.

A presidente Dilma Rousseff prometeu se empenhar para recuperar estas regiões, mas talvez seja hora também de repensar sua postura sobre desenvolvimento. As demandas externas e internas sobre os recursos do país vão continuar a aumentar e sem uma melhor gestão, o Brasil vai novamente ser colocado em risco.

Com a aprovação da barragem de Belo Monte, foi dada luz verde para começar a limpar 238 ha de floresta ao longo do rio Xingu. De acordo com a agência de notícias United Press International, a barragem provavelmente inundará uma área de 600 km2 e secar parcialmente o rio Xingu.

Ao mesmo tempo, há um forte aumento na produção tanto de gado quanto de soja, que também estão avançando na fronteira amazônica. Conforme também salientou Lash da WRI, com o forte programa de biocombustíveis do Brasil, utilizando o etanol de cana, espera-se a expansão e a criação de mais demandas por terras agrícolas.

Para completar, o Brasil será anfitrião a Rio +20 em 2012, as Olimpíadas e a Copa do Mundo – o que exigirá um plano de infraestrutura agressivo. Todos estes desafios requerem um olhar abrangente quanto ao uso da terra no Brasil: quais investimentos irão garantir uma economia sustentável ao invés de representar riscos ecológicos e portanto econômicos?

A boa notícia, como eu mencionei na minha coluna de estréia em ((o))eco, é que atualmente o Brasil tem a maior biocapacidade do mundo. Essa abundância dá poderes ao Brasil para se tornar o maior exportador mundial de matérias-primas e tem alimentado o seu crescimento econômico. O mix de energia do país é considerada uma das mais limpas do mundo e o papel da Amazônia como sumidouro de carbono dá ao Brasil um valor ecológico único.

Mas o desafio para o Brasil também permanece o mesmo – não desperdiçar esta grande riqueza. Não dá para voltar o relógio. As decisões de desenvolvimento feitas hoje podem render benefícios econômicos a curto prazo, mas os efeitos a longo prazo podem ser catastróficos. Apenas precisamos olhar para as notícias de hoje como um lembrete direto.

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