Às vezes a ironia é o único recurso que resta. Por isso, gostaria de manifestar meu completo e irrestrito apoio ao Congresso Nacional. Não sei por que a sociedade brasileira se queixa tanto. Acredito que todas as indicações feitas pelos partidos para as presidências das comissões do legislativo são muito bem pensadas. Tomemos por exemplo a presidência da Comissão Permanente de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) do Senado Federal. Duvido que exista outro Senador mais adequado para ocupar a presidência desta comissão que o ilustre Sr. Blairo Maggi (ok, talvez a Senadora Kátia Abreu também pudesse ocupar esta vaga). Se o tema a ser discutido é Meio Ambiente – mesmo imprensado no meio da Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle – nada melhor que contar com alguém que realmente entende de desmatamento. Na prática. Nada como contar com a sabedoria de uma pessoa agraciada, pela sua ilustre atuação, com o prêmio mais importante na área, o Motosserra de Ouro.
A sociedade brasileira reclama demais. O Congresso Brasileiro sempre me surpreende com sua capacidade de mostrar objetividade e coerência.
O Senador Blairo Maggi é considerado um membro moderado da chamada bancada ruralista do Congresso Nacional. Acredito que o Senador Blairo é o Ronaldo Caiado que deu certo. E por razões muito simples. É mais inteligente que a média da bancada ruralista e ocupa uma posição política confortável no cenário nacional. Para ele, o silêncio é ouro. Além disso, percebeu que meio ambiente não é uma piada, como acreditam muitos dos seus companheiros de bunker político, e aparentemente trata o meio ambiente como uma demanda legítima e séria de grande parcela da sociedade brasileira. Sugerem isso suas ações mais recentes no Estado do Mato Grosso, onde promoveu a regularização dos imóveis rurais do estado.
Entretanto, é ingenuidade dizer que o Sr. Blairo mudou sua postura política. A bancada ruralista armou uma grande estrutura política dentro do Congresso, contando com a estoicidade quase cúmplice do Poder Executivo. Um político da envergadura e capacidade do Sr. Blairo precisa se blindar e blindar o grupo que representa. O que fica claro é que a preocupação do Governo Brasileiro com o meio ambiente é patética, permitindo ao Sr. Blairo (e a toda a bancada ruralista) diminuir o volume da voz e atuarem sossegados dentro dos meandros políticos
A precoce campanha política visando a recondução da Presidente(a) Dilma ao segundo mandato mostrou a debilidade das ações moralizadoras da máquina pública apresentadas pela Presidenta(e) na primeira metade de seu atual mandato. Como é mais importante garantir apoio de partidos e aumentar o horário eleitoral na TV, não me admira que certos políticos sejam conduzidos a posições tão adequadas ao seu perfil como o seria o hábito arborícola a um jabuti.
Congresso liberado
Com raríssimas exceções, a política é composta por criaturas de olhos espertos, olfato aguçado, dentes apurados e apetite voraz, capazes de roerem milhões e milhões de reais antes que a sociedade perceba.
|
Um exemplo ilustra a luta pelo apoio de diferentes partidos: ocupa a presidência da Comissão Permanente de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados o ilustre Deputado Federal Pastor Feliciano. Novamente, não entendo a razão de tantas manifestações contrárias ao Sr. Feliciano. Se um dos principais objetivos da comissão é propor políticas que diminuam as diferenças sociais e o preconceito contra as minorias da sociedade, nada melhor do que contar com um político que realmente entende de intolerância e preconceito, ora bolas.
Em minha opinião, o Sr. Feliciano é um bufão. Uma pessoa que não merece um milésimo da atenção que vêm recebendo. O melhor para pessoas com o nível de humanidade e relevância do referido falastrão é o completo e total desprezo. Quanto mais espaço se dá para criaturas assim, mais bobagem se houve. No entanto, a única coisa coerente que o ouvi dizer foi apontar mais outra contradição do nosso fabuloso Congresso Nacional: dois condenados pelo Supremo Tribunal Federal no escândalo do Mensalão são membros titulares da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Alguma coisa errada com isso? Claro que não! A Presidência do Senado Federal ocupada por um político que paga a pensão alimentícia do filho nascido em aventura extraconjugal com dinheiro de empreiteira? O que há de mal nisso? Nada é proibido dentro do Congresso.
Ô povo chato, esses desocupados que saem pelas ruas carregando faixas e exigindo respeito. Por que simplesmente não ficam felizes com as obras da Copa e com a próxima edição do BBB? Chega de abaixo assinados. Ninguém vai dar a mínima mesmo. Lei da Ficha Limpa? Já estão trabalhando para modificá-la.
Com raríssimas exceções, a política é composta por criaturas de olhos espertos, olfato aguçado, dentes apurados e apetite voraz, capazes de roerem milhões e milhões de reais antes que a sociedade perceba. Tais criaturas são oportunistas. Sabem que, neste momento, o Brasil possui recursos. Sabem que essa é a hora de encherem suas panças e disseminarem suas sementes podres, por que a situação pode mudar. Se ainda existem recursos naturais que podem ser transformados em dividendos, vamos consumi-los agora, rápido! E da maneira mais porca possível.
Esse é o Brasil, o país da reversão de valores. Onde ética, respeito, coerência e honestidade são tratados como lixo. Detentor da biodiversidade mais vibrante do planeta, reduzido à monotonia das más notícias…
Leia também
COP da Desertificação avança em financiamento, mas não consegue mecanismo contra secas
Reunião não teve acordo por arcabouço global e vinculante de medidas contra secas; participação de indígenas e financiamento bilionário a 80 países vulneráveis a secas foram aprovados →
Refinaria da Petrobras funciona há 40 dias sem licença para operação comercial
Inea diz que usina de processamento de gás natural (UPGN) no antigo Comperj ainda se encontra na fase de pré-operação, diferentemente do que anunciou a empresa →
Trilha que percorre os antigos caminhos dos Incas une história, conservação e arqueologia
Com 30 mil km que ligam seis países, a grande Rota dos Incas, ou Qapac Ñan, rememora um passado que ainda está presente na paisagem e cultura local →