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COP19: pulo do desmatamento na Amazônia é banho de água fria

Esfria o tempo em Varsóvia com o anúncio, no Brasil, de um aumento de quase 30% no desmatamento na Amazônia, bem maior que o esperado.

André Ferretti ·
14 de novembro de 2013 · 11 anos atrás
A temperatura despencou em Varsóvia. Foto:Marc Wathieu
A temperatura despencou em Varsóvia. Foto:Marc Wathieu

Esfria o tempo em Varsóvia no dia em que Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente do Brasil, anunciou em Brasília (DF) um aumento de 28% nas taxas de desmatamento da Amazônia. Esse valor equivale a cerca de 584 mil hectares suprimidos, 127 mil a mais que no período anterior.

O Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), lançado pelo Observatório do Clima há exatamente uma semana, em 08 de novembro, aponta que em 2012 o desmatamento da Amazônia gerou a emissão de 252,7 milhões de CO2e (toneladas de dióxido de carbono equivalente). Fazendo um paralelo entre os dados do SEEG e os dados do aumento do desmatamento, apresentados hoje pela ministra Izabella, estima-se que as emissões da Amazônia, de janeiro a dezembro de 2013, serão de aproximadamente 323, 4 milhões de CO2e. Assim, a  previsão é que haverá um aumento de emissões, por mudanças de uso do solo, também de cerca de 28% – o equivalente a 70,8 milhões de toneladas de CO2e em um único ano.

No Brasil, além de contribuir para as mudanças climáticas, o aumento no desmatamento da Amazônia gera perda direta de biodiversidade nas áreas afetadas, que são convertidas em outros usos. No mundo, estima-se que o desmatamento seja responsável por cerca de 10% das emissões globais de Gases de Efeito Estufa (GEE). É importante destacar que as mudanças climáticas provocadas por eles são consideradas uma das três maiores causas globais de perda de biodiversidade.

Alarme

“o anúncio de um aumento de quase 30% no último ano é um fator de extrema preocupação”

O Brasil é o país que mais desmata no mundo, principalmente nos biomas Amazônia e Cerrado, seguido por países como Malásia e Indonésia. Mesmo com toda a queda no desmatamento registrada a partir de 2005, o país ainda desmatou muito nos últimos anos, e o anúncio de um aumento de quase 30% no último ano é um fator de extrema preocupação. Foi justamente em 2012 que o Congresso Nacional promoveu uma grande alteração na maior lei ambiental do país, o Código Florestal. Com as mudanças, temia-se que houvesse um aumento no desmatamento. Coincidência ou não, o desmatamento aumentou, enquanto algumas medidas anunciadas como de controle, como o Cadastro Ambiental Rural (CAR), ainda não decolaram.

A dois anos do prazo esperado para o estabelecimento de um novo acordo global de clima, e no meio da 19ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP19), os dados de desmatamento impressionam ainda mais. O anúncio oficial de que o maior sucesso em reduções domésticas de emissões de Gases do Efeito Estufa não se manteve em queda como nos anos anteriores cai como um banho de água fria em Varsóvia, que já é gelada.

 

 

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  • André Ferretti

    Engenheiro florestal e gerente de economia da biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

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