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Conhecimento coordenado para buscar soluções – a conservação da toninha

As toninhas são golfinhos pouco conhecidos e muito ameaçados, pois dividem o habitat -- a zona costeira -- com pescadores e suas redes

Danielle da Silveira Monteiro ·
29 de outubro de 2020 · 4 anos atrás
Um dos raros registros de toninhas. Foto: Maristela Colucci/FUNBIO

A toninha é a menor espécie de golfinho que habita as águas brasileiras. As fêmeas, que são um pouco maiores que os machos, medem no máximo 1,70 metro de comprimento e os filhotes nascem com aproximadamente 70 centímetros. Elas possuem uma coloração pardacenta e o rostro (bico) é comprido e fino. São dificilmente observadas no mar, devido ao seu comportamento de evitar embarcações, seu tamanho pequeno e por passar pouco tempo na superfície para respirar, geralmente cerca de dois segundos. Estas características tornam a toninha uma espécie desconhecida para a maior parte da sociedade.

A toninha ocorre desde o Espírito Santo, no Brasil, até o Golfo de San Matias, na Patagônia argentina. A estimativa é de que na população brasileira existam em torno de 20.000 toninhas. Os pesquisadores brasileiros calculam que nos últimos 36 anos ocorreu uma redução de 30% do número, o que tornou a espécie vulnerável à extinção. As características naturais de vida da toninha, tais como o longo período de cuidado com o filhote, o baixo número de filhotes ao longo do ciclo de vida, entre outras, tornam a recuperação da espécie um processo mais demorado e difícil. Uma fêmea de toninha vive no máximo até os 21 anos de idade e é capaz de gerar em torno de cinco filhotes ao longo de sua vida.

As toninhas vivem próximas à costa, a maior parte da população ocorre em profundidades menores do que 30 metros. Esta região costeira é também um local de grande diversidade e abundância de peixes, o que faz dela de grande importância econômica e social, e também com uma alta concentração de redes de pesca. Como as toninhas e os pescadores estão buscando os mesmos recursos, isso leva a uma sobreposição no uso da área, ocorrendo assim a captura acidental nas redes de pesca. A mortalidade acidental nas redes de pesca é a principal causa da diminuição na população. A cada ano centenas de toninhas morrem presas às redes de pesca.

Toninha morta. Foto: Projeto Baleia Jubarte

A redução da mortalidade acidental das toninhas não é algo simples porque envolve, principalmente, a redução no esforço de pesca, por meio da diminuição no tamanho das redes, da limitação das áreas ou épocas de permissão da pesca. Estas propostas, se não forem bem planejadas, considerando todos os dados científicos disponíveis e a vivência e opinião dos envolvidos diretamente na pesca, podem gerar grandes conflitos, os quais, por consequência, levam ao distanciamento entre pesquisadores, pescadores e órgão governamentais de ordenamento de pesca e uma
baixa efetividade das leis estabelecidas.

O Projeto Conservação da Toninha, apoiado pelo FUNBIO, é a maior iniciativa coordenada entre diversas instituições de pesquisa, cobrindo toda a área de distribuição da toninha na costa brasileira. Estas instituições estão desenvolvendo inúmeras ações com o objetivo de encontrar as melhores soluções, em parceria com o setor pesqueiro, para reduzir a mortalidade da toninha e garantir a continuidade desta espécie, mas também assegurar a viabilidade econômica e social da pesca.

A conservação da toninha é de extrema importância. A perda de uma espécie, por si só, representa um grande impacto no ambiente onde vive, pois pode causar um desequilíbrio na cadeia alimentar, ocasionando mudanças negativas em todo o ambiente. A perda de uma espécie como a toninha tem consequências ainda maiores. A toninha é a única representante atual da família à qual pertence (Pontoporiidae). A extinção da toninha representaria uma perda inestimável para a biodiversidade mundial. Desta forma, toda a sociedade tem um compromisso com a sobrevivência da toninha.

As opiniões e informações publicadas na área de colunas de ((o))eco são de responsabilidade de seus autores, e não do site. O espaço dos colunistas de ((o))eco busca garantir um debate diverso sobre conservação ambiental.

 

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Comentários 1

  1. jtruda diz:

    Já estamos carecas do avesso de saber que o problema é o emalhamento em redes da pesca "artesanal" em baixa profundidade. E não é de hoje. O que falta MESMO é vontade política de encarar isso de frente e propor soluções concretas, que TEM DE ENVOLVER SIM A PROIBIÇÃO DESSA PESCA senão a toninha vai virar outra vaquita, o golfinho mexicano que está indo pro saco nos próximos anos. Haverá coragem pra dizer isso claramente? O tempo segue passando e as toninhas se esborrachando.