
Esta seção nasceu para mostrar que a fotografia também é um instrumento de conservação da natureza. Foi com ela que o mundo abriu os olhos para lugares que antes não via. Abertos os olhos, passou a ter ouvidos para campanhas que guardaram como terras públicas as últimas fronteiras ainda mais ou menos ilesas do planeta, antes privativas dos aventureiros. Não deve ser à-toa que a fotografia e os parques nacionais surgiram a poucas décadas de distância um do outro no século XIX. E a fotografia, diga-se de passagem, veio antes dos parques.
A série começa com Carlos Secchin, que em 30 anos de fotografia submarina ajudou a descobrir um Brasil que, ao contrário do Brasil descoberto pelos portugueses, não acaba na praia. Aliás, muitas vezes ele começa na beira d´água. E avança mar adentro até onde a vista não alcança. Foi assim, através de meia dúzia de pioneiros como ele, que a maioria dos brasileiros enxergou pela primeira vez, depois de quase cinco séculos, os tesouros submersos de Fernando de Noronha, do Atol das Rocas, do arquipélago dos Abrolhos e da Ilha Grande, no litoral caiçara.
Quase todos os mergulhos de Secchin nessas paisagens secretas da costa brasileira resultaram em belos livros de imagens. Mas deles saíram antes de mais nada providências, ou pelos menos alertas, para que as próximas gerações não ficassem condenadas a conhecê-las só pelas fotografias que ele fez enquanto era tempo. Sem os argumentos que ele foi buscar debaixo d´água, aqui em cima a conversa para criar o Parque Nacional dos Abrolhos, por exemplo, talvez estivesse até hoje rodando a seco.
Secchin mora, como tantos cariocas, diante da praia de Ipanema. Mas o que ele vê diante da janela é outro Rio de Janeiro. Nos anos 80, quando o emissário era novo e a água, limpa, ele passava horas no fundo, acompanhando o crescimento da vida marinha, que aos poucos ia colonizando os quatro quilômetros de tubulões. Quando, por defeito da obra, o esgoto começou a turvar o mar mais famoso do Brasil, ele foi o primeiro a falar em público do problema.
Na década de 90, um pouco mais longe de sua casa, mas ainda diante de Ipanema, ele estava procurando sob a linha do horizonte, no arquipélago das Cagarras, as provas de que bem defronte à cidade, quase na boca da Baía de Guanabara, havia riqueza ambiental de sobra ao redor daquelas ilhas para elas serem levadas a sério como unidade de conservação. Fez um livro tentando promovê-las a parque nacional. O decreto não saiu. Mas, se um dia sair, haverá mais uma obra-prima da natureza brasileira que, ao contrário de suas fotografias, Secchin não pode assinar embaixo.
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Opa, boa notícia pras empresas que organizam buffets e coffee-breaks em Belém…e só! De resto: “business as usual”, “greenwashing”, etc…