Daniele Munizm
Mestre em História. Guia de Turismo.
Penedo/ Itatiaia/ RJ
Tenho profunda admiração por seus artigos e por sua escrita contundente, mas acho que os vocábulos protesto e piquete não permitem que o seu leitor tenha uma idéia adequada do que vem acontecendo no Parque Nacional do Itatiaia.
A nova chefia tentou implantar a taxa de R$ 12 na semana seguinte da reunião do Conselho Consultivo da unidade de conservação, sem sequer ter consultado o Conselho. Perdemos um sábado inteiro discutindo “voluntariamente” questões pertinentes ao PARNA, para sermos saudados com copiosa novidade.
Agências de Receptivo e Guias de Turismo se organizaram e insistiram para que Walter Behr desse um tempo maior para a implantação da taxa.
A taxa passou a vigorar no novo ano de 2006, porém da maneira generalizante que está prescrita na Portaria nº 62, de 20 de março de 2000, do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Até o presente momento não houve qualquer tentativa de normatização da mesma. Atravessou a cancela da parte alta, paga-se R$ 12. Não importa se o visitante só vai “dar uma espiadinha” no famoso Abrigo Rebouças. Engraçado é que a Portaria sugere uma taxa para uso de trilha. E, pelo que me consta, para chegarmos no Rebouças atravessamos a BR-485!!! Não há trilha alguma.
Só para ilustrar, citarei outra medida que nos tem causado transtorno: a proibição da ida de veículos até o Abrigo. Temos visitantes que sempre foram até o planalto apenas para “dar a tal da espiadinha”. Agora, este tipo de visitante está impedido de ir, pois sob a alegação do endemismo e do período reprodutório do Melanophryniscus moreirae, o acesso a veículos foi fechado de vez.
Só quem vai ao planalto regularmente e necessita dele para tirar o seu sustento sabe o quanto é duro o acréscimo de mais 4 km de caminhada inútil. Qdo vou conduzir visitantes ao Pico das Agulhas Negras, tanto eu qto meus clientes desejamos ir ao Pico, o que já é uma caminhada árdua por si só. É absolutamente desumano e desgastante o retorno a pé para a cancela da parte alta. Uma decisão sem a consultoria de quem está a 2400m altitude diariamente. Pretendemos tentar negociar alternativas para esta medida.
Ah, quanto a entrada e saída de visitantes na parte baixa do PARNA, ainda não ficou especificado se o recolhimento da taxa de R$ 3 deve ser diário. Sempre que é preciso circular com alguém que esteja hospedado em um dos hotéis desta área, para qualquer outro destino da Região das Agulhas Negras, há grande expectativa no sentido de sabermos se ao retornarmos para a parte baixa, haverá cobrança dos R$3 mais uma vez, já que esse ingresso só teria validade para o exato momento da entrada.
Retornando para outra questão apontada pelo Sr., quanto ao fato das agências cobrarem no mínimo 75 reais o passeio, só quem vive disso, sabe. Até hoje, não conheço ninguém que tenha enriquecido, mesmo com os 75 reais. Todo o material deve ser trocado com frequência e há um preço de custo “caro”, sabia? Pedágio, diesel, mola, desgaste do carro, guia de turismo, corda, mosquetão, baudrieux, mochila, vestimenta adequada, primeiros socorros, cursos de reciclagem, etc… Aliás, quanto ganha um jornalista para escrever um artigo? Quanto custa um livro? O preço é justo??? Tem brasileiro sem acesso e tem brasileiro que compra uma centena deles. Cada profissional na sua área. Só cada profissional que sabe o quanto custa seu trabalho.
Enfim, o que gostaria de registrar é que não fizemos nenhum protesto e/ou piquete. O que aconteceu foi uma entrevista para a TV RIO SUL, que também contou com a participação de Behr. Só para o Sr. se situar melhor, apontei alguns outros pequenos problemas que civilizadamente estamos tentando resolver. Estamos prontos para colaborar, pois é do PARNA que retiramos nosso salário, mas chefias vão embora, e nós permaneceremos aqui, com mais uma taxa que vai se juntar a tantas outras que compõem os “valeriodutos” . Todos sabemos que acima do Sr. Walter Behr existem outras instâncias, que aliás, estão bem distantes do Itatiaia, tomando decisões que pairam em nossas cabeças como a espada de Dâmocles. A nova chefia sabe que pode contar conosco, que além de Profissionais do Turismo somos a Comunidade Local, os mais interessados diretamente na conservação do PARNA Itatiaia.
Sem mais por enquanto,
Atenciosamente,
Leia também
Turismo de base comunitária como ferramenta de conservação de onças-pintadas
Atividade implicou em aumento da tolerância de comunidade local no Amazonas à presença dos felinos. Resultados de pesquisa podem subsidiar planos de conservação →
Desmate e crise climática podem varrer araucárias de regiões do país
As estimativas são de que a ocorrência nacional da espécie caia mais de 70% até 2050 e que desapareça de Minas e São Paulo →
Galeria de fotos: o voo livre de 12 papagaios-de-peito-roxo
Projeto Voar realiza soltura de papagaios, vítimas do tráfico de animais silvestres, em Minas Gerais. Aves foram reabilitadas e serão monitoradas em vida livre →