Volto ao verão de San Carlos de Bariloche, província do Rio Negro na Argentina, depois de seis anos. Quando estive aqui pela primeira vez, em 2004, encontrei a mesma incrível paisagem porém uma cidade mais calma. Bastava se afastar alguns quarteirões do centro turístico e já cessava o burburinho e o tráfego. Dessa vez, a impressão foi outra: o volume de trânsito nas ruas e estradas é intenso. Atravessar a rua se tornou uma tarefa difícil e perigosa. Muitos utilitários passam carregados de material de construção. O frenesi é confirmado por um grande número de obras ao longo da costa do lago Nahuel Huapi.
Me pergunto se a visão errada foi a da primeira vez. Afinal, impressões de viagem são traiçoeiras, sempre formadas em alguns dias e carregadas das emoções do momento. Mas a guia de um dos meus passeios as confirma. Patrícia, uma portenha que se mudou para Patagônia em 1982 conta que, nesse ano, a população de Bariloche era de 28 mil habitantes. Em 2004, havia crescido para cerca de 100 mil e, hoje, já passou de 170 mil, uma verdadeira explosão na contramão do total da população Argentina, quase estável. Segundo ela, os problemas típicos desse tipo de crescimento já apareceram. O saneamento não está dando conta e algum esgoto já contamina as águas cristalinas do lago. No caminho, passamos por uma favela de barracos de madeira que, embora plana e espaçada, parece muito pobre. Ouço a previsível história de que com dinheiro ou influência é possível desrespeitar as leis de zoneamento e obter dos políticos locais licença para construir em locais de alto impacto no meio ambiente. A conversa é dolorosa. Tomara que acordem a tempo, pois a região é uma das mais bonitas do mundo.
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