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Muriquis-do-norte se multiplicam em RPPN de Caratinga

Estudo detecta aumento da população de muriquis-do-norte em uma reserva particular e indica necessidade de ampliar a área.

Vandré Fonseca ·
9 de outubro de 2012 · 12 anos atrás

Manaus, AM – Uma boa notícia sobre o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), incluído na lista das 100 espécies mais ameaçadas do planeta. Nos últimos 30 anos, a população dos bichos na reserva Feliciano Miguel Abdala, uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) com 957 hectares de floresta em Caratinga (MG), aumentou de 60 para 288 indivíduos. Esse número representa cerca de um terço de todos os muriquis-do-norte remanescentes. Porém, segundo os autores do estudo, existem sinais de que a área onde vivem está ficando pequena para mantê-los.

A pesquisa leva em conta não apenas os dados demográficos, mas também mudanças no comportamento dos animais. Ela foi publicada na edição de 17 de setembro do jornal PLOS ONE, pela antropóloga Karen Strier e pelo ecólogo-matemático Anthony Ives. Os dois são pesquisadores da Universidade de Wisconsin — Madison, Estados Unidos.

Os resultados surpreenderam até os autores do estudo. Eles esperavam uma diminuição da taxa de fecundidade com o aumento da população, mas não foi o que aconteceu. Mesmo com mais bichos dividindo o mesmo espaço, o número de filhotes continuou a crescer. De acordo com Ives, “sem o aumento da fertilidade observado, a população de muriquis estaria próxima dos 200 indivíduos”.

A explicação para o fenômeno pode estar em mudanças comportamentais. Apesar de ser uma espécie arbórea, os muriquis da reserva passaram a usar cada vez mais o chão. Primeiro, para beber água e comer, depois para se locomover, brincar e até copular. Este comportamento inovador explica também o aumento simultâneo da fertilidade e mortalidade, também observado pelos pesquisadores. “No chão há riscos”, afirma Strier. “Nós suspeitamos que possam existir mais riscos patogênicos, e nós sabemos que existem mais predadores no solo”.

A mortalidade aumentou principalmente entre machos jovens, que passam mais tempo no chão do que as fêmeas. “Eu sempre pensei que este aumento do tamanho da população conduzia ao crescimento do uso do solo, mas nunca imaginei as potenciais consequências que o uso do chão poderia ter para as taxas de crescimento da população”, afirma Strier, que há 30 anos acompanha essa população.

Os pesquisadores também notaram que a proporção de filhotes machos dobrou ao longo dos 28 anos de estudo, de um terço para dois terços dos nascimentos. Ou seja, houve uma inversão na relação entre nascimentos de machos e fêmeas.

Os resultados levantam dúvidas sobre a capacidade desta área de habitat suportar o aumento da população de animais. Mantê-la é importante porque a população estudada representa 30% de todos os muriquis-do-norte que ainda vivem. Strier propõe que a área de proteção seja ampliada: “em um mundo com tantos problemas sem solução, este parece ter uma”.


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