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Estudos para garantir futuro dos vanzoliniis

Mico-de-cheiro-de-cabeça-preta só existe em Mamirauá e pode estar ameaçado pelo aquecimento global ou cruzamento com outras espécies.

Vandré Fonseca ·
13 de dezembro de 2012 · 11 anos atrás

Saimiri vanzolinii (Foto: Luiz Claudio Marigo/naturepl.com)
Saimiri vanzolinii (Foto: Luiz Claudio Marigo/naturepl.com)

Manaus, AM – Durante o mês de novembro, pesquisadores do Instituto Mamirauá e da Universidade Federal do Pará realizaram a primeira captura para fins científicos do macaco-de-cheiro-de-cabeça-preta (Saimiri vanzolinii), uma das três espécies de micos-de-cheiro encontradas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, no Amazonas. Ele é também o primata neotropical com menor área de ocorrência, apenas 870 quilômetros das várzeas que ficam na parte sul da reserva.

O nome científico desse mico-de-cheiro é uma homenagem ao compositor e zoólogo paulistano, feita pelo primatólogo José Marcio Ayres, responsável por descrever o bicho e também pela criação da RDS Mamirauá. Vanzolini foi orientador de mestrado de Márcio Ayres e o acompanhou em diversas viagens a Mamirauá. Além de criar composições inesquecíveis, Vanzolini formulou a Teoria dos Refúgios, que ajuda a explicar a grande biodiversidade da região amazônica.

Os bichos começaram a ser atraídos no mês de agosto, com bananas (que apesar de não ser encontrada pelo animal na vida silvestre, tem um sabor que eles adoram).  E agora, entre os dias 19 e 26 de novembro, foi possível capturar vinte macacos-de-cheiro da espécie para exames e coleta de sangue e parasitas. Dos machos, foram retiradas também amostras de sêmen, para conhecer a qualidade dos espermatozoides e o futuro reprodutivo da espécie.

Os pesquisadores querem conhecer melhor as barreiras naturais que separam os S. vanzolinii do Saimiri cassiquiarensis e do Saimiri macrodon, as outras duas espécies do mesmo gênero existentes em Mamirauá. “Serão realizadas análises genéticas para ver se nestes pontos de coleta há híbridos do Saimiri vanzolinii com outras espécies de macacos-de-cheiro”, conta a bióloga Fernanda Paim, do Grupo de Pesquisa em Ecologia de Vertebrados Terrestres do Instituto Mamirauá.

Saimiri caciquiairiensis (Foto: Thierry Montford/Biosphoto)
Saimiri caciquiairiensis (Foto: Thierry Montford/Biosphoto)

De acordo com a bióloga, não existem barreiras físicas, como grandes rios, separando as áreas de ocorrência das espécies. E há trechos de sobreposição entre os territórios do S. vanzilinii e o S. cassiquiariensis. A hipótese apresentada pela bióloga é que a diferenciação entre os macacos-de-cheiro se dá devido a adaptações à oferta de recursos alimentares disponíveis. “Olhando a área não vemos barreiras, existem apenas variações na floresta, o que tem disponível para eles se alimentarem”, conta Fernanda Pozzam Paim.

Os macacos-de-cheiro são animais de hábitos diurnos, encontrados em toda a Amazônia. Eles medem cerca de 30 centímetros de comprimento e vivem em bandos de dezenas ou centenas de animais. Das três espécies encontradas em Mamirauá, a aparência do S. vanzolinii se destaca, devido a cor preta na parte superior da cabeça e o dorso. Os outros são castanhos.

Embora não seja ameaçado pela caça, esta distribuição muito restrita causa preocupação, porque podem ser afetados pelas mudanças climáticas. Mudanças no regime de chuvas podem alterar o pulso de alagamento de rios na Amazônia, reduzindo a extensão das várzeas. “Se isso realmente acontecer, algumas espécies que são endêmicas de várzea podem estar correndo sério risco, pois não terão mais disponível um ambiente ao qual elas estão adaptadas”, alerta o biólogo Helder Queiroz, diretor geral do Instituto Mamirauá.

E há motivos para preocupação, as duas maiores cheias já registradas na Amazônia ocorreram num intervalo de apenas 3 anos (em 2009 e 2012). “Nos últimos anos, os eventos de cheias grandes foram intensos. Essas grandes cheias podem afetar esses animais, porque os habitats que ocupam ficam alagados”, afirma a bióloga Fernanda Paim.

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