Reportagens

Transcarioca: as mãos por trás das pegadas

Fazer trilhas, literalmente, não é uma tarefa fácil e requer uma equipe aplicada e, mais que isso, apaixonada pela natureza e pelo que faz.

Duda Menegassi ·
19 de dezembro de 2012 · 11 anos atrás
Voluntários no 92º Mutirão do Parque Nacional da Tijuca. Foto: Ester Capela
Voluntários no 92º Mutirão do Parque Nacional da Tijuca. Foto: Ester Capela

Completar uma trilha pode ser cansativo e exigir muito dos seus pulmões e das suas pernas, mas percorrê-la quando já está sinalizada, limpa e bem marcada, não se compara ao trabalho das equipes que precisam desbravar a mata fechada e achar os melhores caminhos. Não apenas a tarefa manual, com o facão numa mão e o GPS na outra, mas também o esforço cerebral de viabilizar essas trilhas e desenvolver quais serão seus percursos.

APA no o Parque Nacional da Tijuca
APA no o Parque Nacional da Tijuca

Essas trilhas normalmente se encontram Áreas de Preservação Ambiental (APA), em Unidades de Conservação como Parques, como o Parque Nacional da Tijuca (PNT) e o Parque Estadual da Pedra Branca(PEPB). A gestão unitária de cada um desses responsáveis virou esforço coletivo com o projeto da Transcarioca. Uma sinalização padronizada é só um dos frutos dessa união por um objetivo comum. Todos estão preocupados em tornar as trilhas aptas à visitação e uso público, sempre com o respeito pela natureza, que fornece o cenário.

Na hora de abrir uma trilha, tudo é pensado, por isso a constante vigilância em cima de possíveis atalhos criados por visitantes metidos à desbravadores que queiram fugir do caminho original. “O visitante que começa a criar atalho, cria problema também, porque começam a surgir vias onde não é para aparecerem vias, porque são caminhos erosivos. Quando a trilha é pensada, ela é pensada em cima disso, para causar o mínimo de impacto.”, conta um guarda municipal que trabalha no PNT. E completa: “Por isso é tão importante uma boa sinalização e uma fiscalização ferrenha nas trilhas”.

Os caminhos coloniais facilitam e norteiam a direção por onde abrir os percursos, que aproveitam esses trajetos antigos que, eventualmente, precisam apenas serem limpos e reabertos – como é o caso de muitos trechos que serão incorporados à Transcarioca. Há incontáveis trilhas que se guiam por esses caminhos herdados do período colonial, mas poucos são os que as conhecem. Funcionários e excursionistas apaixonados são o verdadeiro mapa dessa riqueza. É graças à eles que esses caminhos são preservados e resgatados.

Uma das muitas sinalizaçõs ao longo da trilha.
Uma das muitas sinalizaçõs ao longo da trilha.

Do escritório ao meio da mata, os envolvidos no processo de conceber, consolidar e conservar trilhas, trabalham com paixão. E passo-a-passo conquistam maior espaço e projeção para essas áreas onde a natureza permanece em seu aspecto soberano e esplendoroso. Em 2000, surgiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, seguido da criação dos Planos de Manejo – que fundamentam os objetivos das UC’s, além de seu zoneamento e normas -, e agora, com a proteção desses patrimônios ecológicos cada vez mais regulamentada, ganha força a Transcarioca, idealizada no final dos anos 90 e que agora começa a sair de vez do papel.

“O que é Plano de Manejo?”
Os Planos de Manejo foram criados para serem ferramentas que auxiliem a gestão das áreas de maior importância ambiental. De acordo com a definição do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC): “Documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma Unidade de Conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão das Unidades” (BRASIL, 2000).

Outra grande força que ajuda a pôr as trilhas no mapa e cuidar delas é o voluntariado. Comum em países como os Estados Unidos – a Appalachian Trail, na costa leste, talvez seja um dos melhores exemplos, já que é mantida graças ao trabalho voluntário –, no Brasil essa ainda é uma iniciativa recente e que tem tudo para crescer. O Programa Nacional de Voluntariado em Unidades de Conservação do IBAMA começou oficialmente em 2001, no Parque Nacional da Tijuca, e aos poucos se consolida entre aqueles que querem ajudar a preservar, cedendo seu tempo e seus esforços em ações de limpeza e manejo de trilhas, de auxílio em atividades de pesquisa, e outros. Já diz a cartilha dos bons costumes: o visitante que age correta e conscientemente dentro do Parque já é um voluntário a favor da preservação.

No esforço em prol da Transcarioca e das boas condições de seus caminhos para abri-los aos visitantes, a cidade do Rio de Janeiro conta com voluntários e funcionários dispostos à transformar em realidade as paisagens de sonho que ainda são pouco conhecidas. Afinal, a Mãe Natureza fala uma língua universal.

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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