A Folha de São Paulo publicou novos números que obteve do sistema Deter, do INPE, para o desmatamento na Amazônia de agosto e setembro de 2014. Ela já havia levantado suspeitas de que o governo esperou o fim das eleições presidenciais para expor esses dados. De acordo com as informações do diário, em agosto houve 890,2 km² de área desmatada captados pelo Deter, um salto de 208% em relação a agosto de 2013. Já em setembro o aumento foi de 66%: 736 km² contra 442.85 km² registrados em setembro de 2013.
No dia 19 de outubro a então candidata à reeleição, presidente Dilma Rousseff, usou o perfil oficial no Twitter para deixar claro que os números do desmatamento na Amazônia só sairiam em novembro, após as eleições, mas adiantava uma queda.
A suspeita de adiamento da divulgação dos dados de alerta do desmatamento do Deter foi feito pela Folha de São Paulo. O assunto foi tema de uma reportagem e coluna de Marcelo Leite.
Desde 2008, o Ministério do Meio Ambiente divulga os dados do Deter. Ficou acertado o seguinte: durante a temporada de seca na Amazônia, os seis meses de maio a outubro, os dados seriam divulgados mensalmente. Já na temporada de chuvas, de novembro a abril, os dados sairiam de 2 em 2 meses ou de 3 em 3 meses. Era um acordo informal.
A divulgação sempre foi incerta e o calendário, mesmo que informal, foi desrespeitado. É o que mostra a tabela compilada por ((o))eco com o histórico de datas de divulgação do Deter a partir do site do INPE. A tabela mostra que sempre houve atrasos, o que enfraquece o argumento de que os dados referentes aos alertas de desmatamento de agosto e setembro estavam sendo retidos por motivos eleitoreiros.
Porém, a notícia que a presidente Dilma Rousseff havia se pronunciado sobre o assunto ainda durante a eleição e adiantado uma queda do desmate, quando na verdade houve uma explosão de desmatamento em agosto e setembro, reacendeu o debate sobre represamento dos dados, acusação negada pelo IBAMA e INPE.
((o))eco entrou em contato com a assessoria de imprensa da Presidência da República, mas até o fechamento dessa matéria não recebemos resposta.
Desmatamento Deter | ||||
Mês | Dados (km²) | Ano | Mês de Divulgação | Houve atrasos? |
Agosto | 756.69 | 2008 | setembro | Não |
Setembro | 587.27 | 2008 | outubro | Não |
Agosto | 498.13 | 2009 | setembro | Não |
Setembro | 400.01 | 2009 | novembro | Não |
Agosto | 265.11 | 2010 | Outubro | Não |
Setembro | 447.76 | 2010 | Dezembro | sim – 2 meses |
Agosto | 163.35 | 2011 | Outubro | Não |
Setembro | 253.83 | 2011 | Outubro | Não |
Agosto | 522.34 | 2012 | setembro | Não |
Setembro | 282.77 | 2012 | outubro | Não |
Agosto | 288.6 | 2013 | setembro | Não |
Setembro | 442.85 | 2013 | novembro | sim – 1 mês |
De acordo com a Veja, o presidente do Ibama, Volney Zanardi, negou durante a coletiva que o órgão tenha adiado a divulgação de números. “Os dados de desmatamento são comunicados normalmente no final de novembro”, disse Zanardi.
Porém, olhando apenas para a divulgação dos dados dos meses de agosto e setembro, em 12 divulgações de dados, em apenas 2 vezes o Ministério do Meio Ambiente atrasou. (Veja tabela acima).
Novo calendário
Como já havíamos antecipado, o INPE e o Ibama firmaram um acordo de cooperação para aperfeiçoar o monitoramento e a fiscalização na Amazônia. Esse acordo, assinado na sexta-feira (07), também inclui um novo calendário de divulgação dos dados de alerta de desmatamento, que agora passam a ser trimestrais: serão disponibilizadas em fevereiro, maio, agosto e novembro.
De acordo com nota divulgada pelo INPE, o novo calendário tem como objetivo impedir a utilização das informações georreferenciadas pelos desmatadores. “Assim, os criminosos não conseguirão saber onde estão situados os possíveis focos de desmatamento identificados pelo sistema”, afirma a nota.
*Editado às 6h – 27/11/2014.
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