No segundo turno das eleições presidenciais, o apoio do agronegócio aos presidenciáveis mostra as diferentes facetas e interesses defendidos pelo setor. Enquanto Jair Bolsonaro angariou, na última semana, o apoio da bancada ruralista, nesta segunda-feira (10) foi a vez da ex-ministra da Agricultura de Dilma Rousseff e senadora Kátia Abreu (PP-TO) fazer jus à sua representatividade e declarar apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em vídeo divulgado na sua conta oficial do Twitter intitulado por ela como “alerta ao agronegócio brasileiro” a parlamentar, que não conseguiu se reeleger, afirmou que a escolha pelo candidato petista nas urnas no próximo dia 30 de novembro tem caráter pragmático e não ideológico.
“A nossa perda de credibilidade na comunidade internacional chegou ao limite. Somos considerados um país irresponsável no que diz respeito às mudanças climáticas. Peço a você que leia o que está escrito lá fora sobre o governo Bolsonaro e o Brasil. Votar no Lula não é uma ameaça às nossas fazendas e aos nossos negócios. Nesse momento, só ele pode conseguir reverter essa situação caótica junto à União Europeia”, afirmou Kátia, que atualmente preside a Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Segundo a fala de Kátia Abreu; “Os principais alvos são a soja e a carne bovina. Nossos dois principais produtos de exportação. Essa iniciativa da União Europeia, segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários, foi motivada pelos desmatamento ilegal na Amazônia desde 2019”, afirmou a parlamentar. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
As falas da senadora remetem a decisões recentes do Parlamento Europeu, que aprovou nesta terça-feira (13/9) um documento com regras que suspendem a compra de produtos vindos de áreas de desmatamento. A medida, aprovada por 453 votos a 57, com 123 abstenções, tem como base dados obtidos através da revisão de literatura científica e indicou que a fonte da pegada ambiental europeia estava ligada a um conjunto específico de commodities.
A pesquisa de referência da decisão analisou o percentual do impacto de cada produto importado pela UE no desmatamento em todo o mundo. Entre as commodities estudadas estão o óleo de palma (33,95%), soja (32,83%), madeira (8,62%), cacau (7,54%), café (7,01%) e carne bovina (5,01%). Além de não comprar de áreas recém-desmatadas, os eurodeputados também querem que as empresas verifiquem se os bens são produzidos de acordo com as disposições de direitos humanos no direito internacional e se respeitam os direitos dos povos indígenas. A produção deve também respeitar a legislação no país de origem, como forma de evitar cadeias marcadas pela ilegalidade.
“Trata-se de um estímulo à separação do joio e do trigo do agronegócio brasileiro, uma oportunidade de merecida diferenciação comercial entre quem atua com responsabilidade socioambiental e dentro da lei, daqueles que invadem e grilam terras, violam direitos, desmatam e queimam ilegalmente — produtores estes que até então vendiam nos mesmos mercados e sem maiores restrições os seus produtos”, afirma Frederico Machado, líder da estratégia de Conversão Zero da ONG WWF-Brasil na página da entidade.
Em entrevista ao Canal Rural, em 23 de setembro, Lula afirmou que dará atenção especial às relações comerciais entre o Brasil e a União Europeia, sobretudo no que se refere ao agronegócio. O candidato chegou a afirmar que, se eleito, irá fechar um acordo com o bloco ainda nos primeiros seis meses de seu governo, em uma negociação que possibilitaria uma adequação do mercado europeu às regras já estabelecidas no Código Florestal Brasileiro – que permite, por exemplo, que 20% de desmatamento em uma propriedades do bioma Amazônia. O discurso ambiental de Lula, que mira mercados internacionais caros ao agronegócio, é o grande motivador do apoio político de Kátia Abreu.
Motosserra de ouro 2010
Vale sinalizar, porém, que a senadora e pecuarista também tem em sua trajetória ações importantes contra as pautas ambientais, exatamente por conta de suas conexões com o agronegócio. Em 2009, ganhou o título de “Miss desmatamento” e “Motosserra de ouro” por parte da ONG Greenpeace, por conta de sua atuação no enfraquecimento do Código Florestal do Brasil, em 2012.
Em sua carreira parlamentar, também defendeu a expansão de estradas na Amazônia, o controle do Congresso sobre demarcação de reservas indígenas, monoculturas mais eficientes e o avanço dos transgênicos na agricultura brasileira.
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