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Brasil sofreu mais de 7,5 mil desastres climáticos relacionados à chuva entre 2020 e 2023

Número é 320% maior do que os eventos ocorridos em toda década de 1990. Prejuízos econômicos são 123 vezes maiores, mostra estudo

Cristiane Prizibisczki ·
1 de julho de 2025

Somente nos três primeiros anos da década atual, o Brasil registrou 7.539 desastres climáticos causados por chuvas intensas. A cifra é 320% maior do que o total de eventos registrados em toda a década de 1990, quando foram contabilizados 2.335 eventos. Os dados, divulgados nesta terça-feira (1º), fazem parte de um estudo da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, coordenado pelo Programa Maré de Ciência da Universidade Federal de São Paulo, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, a UNESCO e a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

O trabalho, intitulado “Temporadas das Águas: o Desafio Crescente das Chuvas Extremas”, é o segundo volume da série “Brasil em Transformação”, desenvolvido pelo mesmo grupo de organizações e que tem o objetivo de alertar a sociedade sobre os impactos e consequências das mudanças climáticas no Brasil.

Além de dados sobre número de eventos, a pesquisa também traz dados sobre custos econômicos e humanos destes eventos climáticos extremos relacionados à chuva. 

Escalonamento

Desde 1991, o Brasil registrou 26.767 eventos extremos relacionados à chuva, com um crescimento acentuado a partir de 2000 e severidade registrada a partir de 2020. Desde o início da década atual, por exemplo, a média anual de registros ficou 7,3 vezes maior do que o registrado nos anos 1990.

O número de municípios brasileiros afetados também aumentou. Atualmente, 4.645 cidades já enfrentaram algum tipo de evento extremo associado às precipitações, o que representa 83% do total dos municípios do país. Entre 1991 e 1999, apenas 27% eram afetadas (1.941 cidades).

Entre 1991 e 2023, a maioria dos desastres climáticos relacionados às chuvas no Brasil esteve ligada a eventos hidrológicos (64%) e meteorológicos (31%). Dentro do grupo de desastres hidrológicos, as enxurradas foram as mais frequentes, representando 55% dos registros, seguidas pelas inundações (35%). Já entre os desastres meteorológicos, as chuvas intensas foram responsáveis por 75% dos casos. Os desastres geológicos, embora menos representativos, tiveram os deslizamentos de solo como principal ocorrência, correspondendo a 91% dos registros desse grupo. 

Vista aérea de Canoas, Rio Grande do Sul, em 5 de maio de 2024. Foto: Reuters/Folhapress

Impactos em vidas humanas

Entre 1991 e 2023, aproximadamente 91,7 milhões de pessoas foram impactadas por desastres climáticos relacionados às chuvas no Brasil, o que representa um aumento de 82 vezes em comparação com os anos 1990. Naquela década, cerca de 400 mil pessoas foram afetadas.

Em 2024, o desastre no Rio Grande do Sul causou impacto em 2,4 milhões de moradores, elevando a média anual de afetados para 6,8 milhões, quase o dobro da média registrada na década anterior (3,8 milhões). 

“Esse aumento não apenas evidencia a crescente frequência, mas também a gravidade dos desastres climáticos relacionados às chuvas, que têm gerado um número cada vez maior de vítimas e danos materiais em todo o país. Esses dados reforçam a necessidade urgente de implementar medidas de prevenção e adaptação, visando proteger as comunidades vulneráveis e mitigar os impactos desses eventos extremos”, explica Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).

Prejuízos financeiros

Entre 1995 e 2023, os prejuízos econômicos causados por desastres climáticos relacionados a chuvas no Brasil totalizaram R$ 146,7 bilhões. Com as perdas do desastre no Rio Grande do Sul, em 2024, estimadas em R$ 88,9 bilhões, o total de prejuízos nesta década já alcança cerca de R$ 132 bilhões, valor cerca de 120 vezes maior do que na década de 1990. 

A maior parte dos prejuízos (83%) é de origem privada, com destaque para a agricultura (47%) e o comércio (30%). Já os prejuízos públicos somaram R$ 24,4 bilhões, com o transporte (52%), saneamento básico (28%) e ensino (8%) sendo os setores mais impactados.

  • Cristiane Prizibisczki

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

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