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Dentro da lei: Onça-parda é morta na Califórnia por abater animais domésticos

Estado americano permite abate de animais em casos de depredação de propriedade privada. Especialistas temem pelo futuro de população ameaçada

Bernardo Araujo ·
12 de fevereiro de 2020 · 4 anos atrás
P-56, abatido em janeiro. Foto: National Park Service.

O Governo da Califórnia concedeu permissão para abate de uma onça-parda pertencente à uma população ameaçada nas montanhas de Santa Monica, na Califórnia. O animal foi abatido no dia 27 de janeiro, por ter predado 12 animais domésticos de um proprietário de terras local.

A espécie — Puma concolor — não é reconhecida como uma espécie ameaçada pelo Estado da Califórnia, mas é tida como uma espécie especialmente protegida de acordo com a seção 4800 do código de pescado e caça do estado, que vigora desde junho de 1990. A legislação da Califórnia proíbe a caça do animal, abrindo exceções apenas em casos de ameaças à vida humana, à sobrevivência de espécies ameaçadas locais ou em casos de depredação de propriedade privada (incluindo animais domésticos). Nesse último caso, o proprietário em questão tem o direito de requerer uma permissão ao Departamento de Peixes e Vida Selvagem da Califórnia (CDFW — California Department of Fish and Wildlife) para matar o animal que está causando o problema.

No entanto, em 2017, devido ao grau de ameaça das populações de onça-parda das montanhas de Santa Ana e Santa Monica, uma regra diferente passou a vigorar nessas regiões. Lá, as duas primeiras instâncias de depredação causadas por um dado animal deveriam ser combatidas com procedimentos não-letais, sendo a permissão para o abate concedida apenas a partir da terceira incidência de danos.

Essa foi a primeira vez em que uma onça-parda foi morta em obediência à lei de depredação nas montanhas de Santa Monica. De acordo com oficiais do CDFW, o proprietário de terras em questão tentou utilizar diversas técnicas não-letais para solucionar o problema, como o uso de cercas e celeiros, cães de guarda treinados, cercas elétricas e equipamentos de luzes e sons que tentam afugentar predadores. Ele apenas recorreu ao abate do animal após à nona incidência de ataques, que causaram a morte de 12 ovelhas e cordeiros.

O animal abatido, conhecido como P-56, fazia parte de um projeto de pesquisa e conservação do Serviço de Parque Nacional (NPS — National Park Service), e era acompanhado, com o auxílio de um colar de GPS, há quase três anos. Ele era um dos últimos machos acompanhados por pesquisadores na região, e as autoridades locais temem que sua falta possa prejudicar o futuro da população de Santa Monica.

“A perda de um macho em idade reprodutiva é uma preocupação para o estudo, especialmente quando a população já é muito pequena,” disse Jeff Sikich, o biólogo de campo que lidera o projeto, numa nota publicada pelo NPS. “Sempre haverá animais lá fora que não estão sendo monitorados. Atualmente, existe apenas um macho adulto sendo monitorado nas montanhas de Santa Monica, e este macho é o P-63.”

P-56 possuía cerca de 4 ou 5 anos de idade, e os pesquisadores suspeitam que ele foi pai de quatro jovens onças-pardas da região, P-70, P-72, P-73 e P-74.

 

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  • Bernardo Araujo

    Bernardo Araujo é ecólogo, conservacionista e comunicador científico.

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Comentários 2

  1. Paulo diz:

    Já foi para o buraco.
    Sugestão, para futuros casos. Mantenha o bicho vivo em cativeiro.
    Tragam fêmeas selvagens, esperem seus cios, analisem seus genes, e cruzem. Confirmem a prenhez e liberem nas suas áreas de origem.
    Não se perde material genético deste indivíduo, que provou ser muito esperto, ao ludibriar todos sistemas, conforme reportagem.

    Um País rico como USA, neste tipo de operação, será tranquilo aplicar.