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Desmatamento no Cerrado cai pelo segundo ano consecutivo e soma 7,2 mil km²

Área perdida no bioma é maior do que todo desmatamento registrado na Amazônia. Desmatamento legal ainda é desafio para governo

Cristiane Prizibisczki ·
30 de outubro de 2025

O governo federal conseguiu, pelo segundo ano consecutivo, reverter a curva de desmatamento no Cerrado. No último ano, a conversão de áreas de vegetação nativa no bioma caiu 11,3 %, segundo números divulgados no início da tarde desta quinta-feira (30).

A taxa anual de desmatamento no Cerrado, fruto do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal Por Satélite (PRODES), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), chegou a 7,245 mil km², o equivalente a sete vezes a cidade de Belém, sede da COP30. Os números são referentes ao período chamado de “calendário do desmatamento”, que vai de 1º de agosto de 2024 a 31 de julho de 2025.

De acordo com dados do INPE, quase 78% de todo desmatamento registrado no Cerrado aconteceu na região do Matopiba, que abrange o estado do Tocantins e partes dos estados do Maranhão, Piauí e Bahia, onde ocorreu forte expansão agrícola a partir da segunda metade dos anos 1980, especialmente no cultivo de grãos.

Essa concentração, diz o Instituto, tem crescido ao longo dos últimos anos. Entre 2022 e 2023, a região respondia por 75% e, entre 2023 e 2024, por 76,3%.

Desmatamento nos estados

Entre os estados inseridos no bioma Cerrado, o Maranhão foi o que mais desmatou, com 28% do total (2 mil km²), seguido pelo Tocantins, com 21% (1.489 km²), Piauí, com 19% (1.350 km²) e Bahia, com 11% (790 km²). Os demais estados do bioma somaram 22% do total (1,6 mil km²).

Ações de comando e controle

Dentre as ações apresentadas pelo governo como responsáveis pela queda obtida estão 2,3 mil ações fiscalizatórias, 834 autos de infração, R$ 607 bilhões em multas, 467 embargos e 20 Ações Civis Públicas propostas, no mesmo período do calendário do desmatamento (agosto de 2024 a julho de 2025).

“A queda é uma queda que agora se constitui uma tendência, porque eu me lembro, quando a gente falava ‘o desmatamento caiu na Amazônia’ e a pergunta que vinha em seguida era ‘e o Cerrado?’  E a sociedade e a imprensa estão corretos, porque quando a gente tem um ganho, temos que ir para o próximo desafio. E nosso desafio é zerar o desmatamento em 2030”, disse Marina Silva, durante coletiva de divulgação dos dados do Prodes 2025.

Como grande parte do desmatamento no Cerrado acontece de forma legal, já que proprietários de imóveis rurais precisam preservar apenas 20% de suas terras, a ministra do Meio Ambiente de Mudança do Clima disse que o Brasil tem investido na “mudança do modelo de desenvolvimento”.

Entre as ações que comporiam essa mudança estão a restauração de áreas degradadas, criação de mecanismos de pagamento por serviços ambientais, implementação de tecnologias para ganho de produtividade e mercado de carbono.

“No caso da agricultura, uma demonstração tem ficado clara. O desmatamento caiu 50%, o agronegócio continuou crescendo em mais de 15%, a renda per capita do país em 11%, numa demonstração de que essas coisas, desmatamento e ilegalidade, não estão relacionadas”, disse.

André Lima, Secretário Extraordinário de Controle de Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial no MMA, lembrou também de uma recente decisão tomada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) – Resolução Conama 510 –, que estabeleceu regras gerais para a supressão autorizada de vegetação nativa no país.

“Eu tenho brincado que é aC-dC, antes da resolução Conama, depois da resolução Conama. Por quê? Porque a partir dela a gente vai ter condição total de separar o que é legal do que é ilegal e poder, obviamente, melhorar a estratégia para combater o ilegal e ter o dimensionamento do que a gente precisa investir para reduzir o desmatamento legal”, disse.

Assista à divulgação dos números aqui:

  • Cristiane Prizibisczki

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

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