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“É óleo” afirmam pescadores e pesquisadores sobre a mancha no oceano que segue em direção à Bahia

Apesar de Marinha Brasileira, Petrobras e Ibama negarem ser óleo, pescadores locais e pesquisadores confirmam a chegada da mancha na Bahia

Carolina Lisboa ·
31 de outubro de 2019 · 4 anos atrás
Imagem da mancha. Fonte José Carlos Seoane.

Pesquisadores de diferentes grupos ligados à Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) divulgaram imagens de uma mancha com cerca de 200 km² com características de óleo a 50 km do litoral da Bahia. Contudo, notas oficiais da Marinha, Ibama e Petrobrás negaram se tratar de óleo. Hoje pela manhã, pescadores voluntários locais detectaram “partículas minúsculas, que se encontram bem próximas ao litoral”.

Segundo um áudio divulgado em rede social por pescadores voluntários da região do município de Prado, na Bahia, a mancha foi avistada “a 120 graus de Cumuruxatiba”. “Começaram a aparecer as primeiras manchinhas entre 9 e 10h da manhã. São pedacinhos que parecem borracha, é difícil até de coletar. Estávamos na coordenada 17º09’38″54 [latitude]. Seguindo pro norte, apareceram mais ainda, pelo alto do rio Caí. Tem um barquinho do Prado que detectou também. A marinha estava dizendo que não era óleo, mas é sim! É preocupante, porque são partículas muito pequenas. Precisa fazer o monitoramento nas praias de Japara Grande. Das coordenadas 39º09’07″58 até 09″54 [longitude] é tudo óleo e a maré está puxando para a terra. Amanhã pela manhã deve estar chegando na praia”, informou o voluntário no áudio.

José Carlos Seoane, pesquisador do Instituto de Geociências da UFRJ, afirmou, em entrevista para ((o))eco, que a mancha foi detectada em imagem do satélite Sentinel 1-A, da Agência Espacial Europeia, na banda C do radar, às 11h do dia 28 de outubro. “Essas imagens são geradas pelo satélite, que possui uma lente específica para detectar derramamento de óleo. A técnica é consagrada no meio científico, foi desenvolvida no Brasil por pesquisadores da UFRJ e Unicamp. Usamos o software SNAP [Sentinel Application Platform, uma plataforma própria da rede de satélites Sentinel], livre, gratuito e disponível na internet. Trabalho há mais de 15 anos com sensoriamento remoto e já localizei outras duas manchas semelhantes, que já estavam na costa dos corais. Dessa forma, pudemos confirmar que eram manchas de óleo e isso validou o processo”, esclareceu.

Sobre as versões do Ibama, Marinha e Petrobrás de que não se trata de óleo, o pesquisador questiona: “As respostas oficiais que vieram a público são divagações superficiais, pois as análises não foram feitas por especialistas. Temos constantes conversas de nível técnico com diversos órgãos como Ibama, Marinha e ICMBio. Tecnicamente, esses órgãos estão funcionando muito bem, mas a comunicação do governo parece estar em desconformidade”.

“Existe a possibilidade de estar errado, mas infelizmente todas as evidências apontam o contrário”, ponderou Seoane. “De qualquer forma, tivemos um grande ganho, que foi a mobilização das autoridades competentes. A Marinha enviou nove embarcações e dois aviões e a Petrobrás enviou um navio de recolher óleo ao local”.

 ((o))eco questionou o Ibama sobre a mancha de óleo. A assessoria de comunicação do órgão respondeu que “Em monitoramento aéreo realizado pelo Ibama, não foram identificadas manchas de óleo ou qualquer indício de aproximação da substância na área”.

 

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  • Carolina Lisboa

    Jornalista, bióloga e doutora em Ecologia pela UFRN. Repórter com interesse na cobertura e divulgação científica sobre meio ambiente.

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