Os ex-ministros do Meio Ambiente José Goldemberg, Rubens Ricupero, José Carlos Carvalho, Marina Silva, Carlos Minc e Izabella Teixeira enviaram uma carta neste domingo (27) direcionada ao presidente Temer e ao ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun, se posicionando contra o loteamento político da presidência do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Desde quinta-feira (24), se alastrou a notícia da indicação de Cairo Tavares, Secretário Nacional de Formação Política do PROS, para a chefia do ICMBio. Tavares tem 31 anos, é bacharel em ciência política pela Centro Universitário do Distrito Federal (UDF) e nunca trabalhou na área ambiental.
Esta é a segunda tentativa do partido de indicar um político para ocupar a presidência do órgão, desde a saída do oceanógrafo Ricardo Soavinski, no dia 27 de abril. Quase três semanas depois, o Partido Republicano da Ordem Social (PROS) indicou Moacir Bicalho, vice-presidente da sigla, para comandar a pasta, mas os servidores conseguiram barra a nomeação.
A nomeação de Tavares para a presidência do ICMBio ainda não saiu no Diário Oficial da União.
Ex-ministros
Na carta direcionada à Temer, os ex-ministros defendem que o presidente do instituto responsável pela criação e gestão de reservas, parques, refúgios e outras unidades de conservação federais deve ter “conhecimento técnico, experiência e formação na área socioambiental”.
“Sr. Presidente, esta carta é assinada por pessoas de linhas partidárias e posições políticas e ideológicas distintas. O que nos une é o entendimento de que proteção ambiental é uma política de Estado, indissociável das outras dimensões econômicas, sociais e culturais que compõem nossa identidade e nosso potencial de crescimento sustentável. O patrimônio natural do Brasil é maior do que qualquer partido ou governo. O ICMBio, instituição guardiã desse patrimônio, precisa ser apoiado, qualificado, valorizado, resguardado, pelo bem da sociedade. Seu presidente, caso não venha do próprio Instituto, deve ter conhecimento técnico, experiência e formação na área socioambiental”, apelam os ex-ministros.
Criado em 2007, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é responsável pela gestão de 9% do território nacional e 24% da área marinha e jamais teve na sua presidência uma pessoa não ligada à área ambiental.
Leia a carta na íntegra:
Brasília, 27 de maio de 2018 Excelentíssimo Senhor Presidente da República Federativa do Brasil Michel Miguel Elias Temer Lulia cc. Sr. Carlos Marun, ministro-chefe da Secretaria de Governo Ref.: Carta de ex-ministros do Meio Ambiente sobre a sucessão no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade Exmo. Sr. Presidente da República, Vimos manifestar nossa extrema preocupação com a indicação de nomes alheios à gestão socioambiental para ocupar a presidência do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Em seus 12 anos de história, o ICMBio tem sido o esteio da bem-sucedida política de áreas protegidas do Brasil. A autarquia gere hoje 9% do território continental e 24% do território marinho nacionais, distribuídos em 333 unidades de conservação. O Instituto apoia ainda a implementação do maior programa de conservação de florestas tropicais no mundo, o Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA). Essas áreas não apenas conservam o maior ativo de nosso país – a diversidade biológica, paisagística e cultural – como também são barreiras eficazes contra a grilagem de terras públicas e o desmatamento. O ICMBio cuida desse patrimônio com recursos materiais e humanos escassos, amparado na dedicação e na competência de seus quadros. Jamais, nesses 12 anos, a presidência do Instituto foi ocupada por pessoas estranhas à agenda da conservação. Seria trágico se isso acontecesse agora. Este é um momento, sr. Presidente, em que as áreas protegidas se encontram sob forte pressão de interesses privados. Tais interesses são em tudo desconectados dos da sociedade brasileira e do setor produtivo responsável. Eles se apresentam na forma de projetos de lei no Congresso Nacional e em Assembleias Legislativas estaduais que visam enfraquecer o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, além de invasões patrocinadas pelo crime organizado. O objetivo é um só: abrir vastas extensões de patrimônio da União ao esbulho. Em ano de eleição tais pressões se multiplicam. E a primeira barreira contra elas é um ICMBio íntegro e atuante. Uma sucessão mal conduzida no Instituto também seria ruim para a imagem internacional do Brasil. Nosso País, o mais biodiverso do mundo, tem tido papel protagonista em fóruns como a Convenção sobre Diversidade Biológica e a Convenção sobre Mudança do Clima. Graças a esse protagonismo, temos captado centenas de milhões de dólares, decorrentes de cooperação com outras nações e com organismos internacionais, para apoiar o governo brasileiro na implementação e na gestão de áreas protegidas. A execução desses recursos pelo ICMBio, com profissionalismo e competência, é condição para a manutenção desse apoio. No seu governo, houve ações acertadas, como a criação das áreas marinhas protegidas de São Pedro e São Paulo e de Trindade e Martim Vaz, que fez o Brasil cumprir e ultrapassar uma das Metas de Aichi – a proteção de 10% de sua área marinha e costeira. A decorrência natural desse ato é oferecer ao ICMBio a capacidade de gestão, com competência técnica e conceitual. Isso é imprescindível para que a população reconheça e valorize a importância da existência de áreas protegidas como um patrimônio estratégico do País e de seu povo, um ativo fundamental para garantir a existência de um ambiente natural capaz de reproduzir as condições necessárias para a boa qualidade de vida de todos nós. Sr. Presidente, esta carta é assinada por pessoas de linhas partidárias e posições políticas e ideológicas distintas. O que nos une é o entendimento de que proteção ambiental é uma política de Estado, indissociável das outras dimensões econômicas, sociais e culturais que compõem nossa identidade e nosso potencial de crescimento sustentável. O patrimônio natural do Brasil é maior do que qualquer partido ou governo. O ICMBio, instituição guardiã desse patrimônio, precisa ser apoiado, qualificado, valorizado, resguardado, pelo bem da sociedade. Seu presidente, caso não venha do próprio Instituto, deve ter conhecimento técnico, experiência e formação na área socioambiental. Qualquer iniciativa orientada em sentido contrário há de ter perverso impacto sobre a gestão do Instituto e sobre o ânimo de seus quadros, com repercussões nacionais e internacionais negativas, dada a enorme expectativa que a comunidade das nações tem sobre o País. O Brasil, com sua enorme e diferenciada riqueza ambiental, é visto como liderança natural nessa área e, como todos sabemos, esse é um componente inseparável do papel que exercemos ou venhamos a exercer em âmbito global. Respeitosamente, Carlos Minc |
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Todos oportunistas!
Peça da campanha antecipada da Osmarina. Deve até ter sido o Capô que minutou. Os demais tão só querendo aparecer um pouco, coitados…muito tempo longe dos holofotes midiáticos!!