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“O Leite passou a boiada”, diz Matheus Gomes

Candidato a deputado federal pelo PSOL-RS, o historiador e vereador de Porto Alegre falou sobre racismo ambiental, mineração e agronegócio em entrevista exclusiva a ((o))eco

Gabriel Tussini ·
19 de setembro de 2022 · 2 anos atrás

Na última quinta-feira (15), a cobertura de ((o))eco Eleições 2022 teve sequência com mais uma entrevista de uma candidatura ligada à pauta ambiental. Dessa vez, Matheus Gomes (PSOL-RS), historiador, vereador e ativista do movimento negro, conversou com Marcio Isensee sobre sua atuação como vereador, suas bandeiras e ideias para caso seja eleito deputado federal, cargo ao qual concorre pela primeira vez.

Matheus iniciou falando sobre como aplicou a luta antirracista em seu mandato como vereador da capital gaúcha. “Porto Alegre é a capital mais desigual entre negros e não-negros em todo o Brasil, e o Rio Grande do Sul também passa por essa situação. A nível nacional, se tem uma imagem do Rio Grande do Sul como um estado branco, com um perfil socioeconômico estável, com pouca desigualdade. Mas nós estamos hoje num quadro aqui no nosso estado em que 14% das famílias vivem num estado de insegurança alimentar grave. Isso é o Rio Grande do Sul”, criticou. “E a gente apresentou projetos pra discutir essa situação e comprovar que, nesse contexto, a luta antirracista é a única que pode apresentar um programa de direitos universais para o conjunto da sociedade. Porque se nós estamos na base da pirâmide, começar a resolver os problemas a partir daí oferece uma alternativa pro conjunto”, defendeu.

O candidato também disse como conecta essa pauta com o meio ambiente. “É um conceito que é discutido a nível nacional, a ideia de racismo ambiental. E isso nós buscamos fazer conectando questões que as periferias vivenciam no dia a dia”, afirmou. “Então, por exemplo, na zona norte de Porto Alegre tem o bairro que é o Ruben Berta, um dos maiores bairros de periferia da região metropolitana – tem quase cem mil habitantes. E no Ruben Berta, cerca de 24% da população vive em ruas expostas diretamente ao lixo. Onde a coleta seletiva na prática não funciona. Enquanto na cidade de Porto Alegre como um todo esse dado está na casa dos 4%. Lá também a população que vive em ruas arborizadas é muito pequena. É menos de 20% da população, enquanto Porto Alegre já ostentou um título de ser a capital mais arborizada do país. Então a gente foi conectando esse tipo de debate”.

O vereador criticou a administração do ex-governador Eduardo Leite (PSDB), novamente candidato ao Palácio Piratini após renunciar em março. “Na política ambiental ele não se diferencia em praticamente nada de um Ricardo Salles da vida, que é um ecocida”, disparou. “Nós tivemos aqui a aprovação de uma das piores leis sobre agrotóxicos que o Brasil já viu. Com liberação de dezenas de agrotóxicos proibidos nos seus países de origem”, continuou. O candidato enumerou questões como a pulverização aérea de agrotóxicos, sobre o que o governo “não faz absolutamente nada”, o favorecimento de Leite a projetos de mineração, a devastação do Pampa e a privatização de parques.”Por isso que eu afirmo, sim, que o Leite passou a boiada”.

Sobre a proteção do Pampa, o psolista disse que a atuação parlamentar precisa enfrentar a pressão de grupos como a mineração e o agronegócio. Para isso, segundo Matheus, o estado precisa encontrar outras alternativas econômicas. “Não há como fazer esse debate sem discutir o modelo de desenvolvimento do estado. O Rio Grande do Sul, hoje, está totalmente desindustrializado. Perdeu elementos de tecnologia de ponta que estavam sendo desenvolvidos”, sustentou. “É um estado com empresas públicas de tecnologia da informação que está abrindo mão disso. Com serviço público que está totalmente desvalorizado, sucateado. E só se aposta num modelo de exportação do agronegócio, enquanto nós temos mais de 1 milhão de pessoas no nosso estado que passam fome. Essa é a situação”, concluiu.

  • Gabriel Tussini

    Estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), redator em ((o))eco e interessado em meio ambiente, política e no que não está nos holofotes ao redor do mundo.

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