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O papel do mercado financeiro, do consumidor e do jornalista na crise ambiental

Os debates desta terça no Seminário Jornalistas em Diálogo trouxeram a pauta econômica para pauta ambiental e discutiram a responsabilidade do jornalismo na cobertura na Amazônia

Redação ((o))eco ·
15 de setembro de 2020 · 4 anos atrás
O debate sobre jornalismo na Amazônia contou com as jornalistas Sônia Bridi e Ana Aranha, e mediação de Gustavo Faleiros. Foto: Reprodução

No segundo dia do Seminário Jornalistas em Diálogo, evento organizado pelo ((o))eco em parceria com o Imazon, os debates envolveram a participação do mercado – investidores e consumidores – no financiamento do desmatamento, e o papel importantíssimo do jornalismo em comunicar – com responsabilidade e transparência – o avanço dos crimes socioambientais na região amazônica.

A primeira mesa desta terça-feira (15) trouxe o cofundador da Fama Investimentos, Fábio Alperowitch, e o diretor da SITAWI Finanças do Bem, Gustavo Pimentel. A conversa foi mediada pela jornalista Naira Hofmeister e abordou o recente movimento que empresas, bancos e mercados têm feito de cobrar mais responsabilidade socioambiental dos seus clientes e as dificuldades de rastrear a cadeia produtiva da pecuária, para evitar que ela seja livre de desmatamento em todos os seus elos. A série de reportagens especiais de ((o))eco sobre o tema também foi destaque no painel e podem ser conferidas pela tag em direção ao desmatamento zero.

“Eu acho que o mercado financeiro pode ser um grande aliado da causa ambiental, acho que precisa de mais diálogo, precisa de educação, mas acho que o mercado não é tão insensível assim como parece”, pontua Fábio Alperowitch. O cofundador da FAMA também comentou que apesar dessa mudança de postura do setor financeiro ter ganhado volume e publicidade, e avançado muito nos últimos meses, o engajamento ainda é insuficiente. “Mas o mercado financeiro caminha rápido”, acrescentou.

Leia Mais: Em direção ao desmatamento zero

Em sua fala, Gustavo Pimentel contextualizou que apesar de maiores e mais reconhecidas atualmente, o compromisso de investidores com a causa socioambiental é uma bandeira que já existe há cerca de 20 anos – fora e dentro do Brasil.

O diretor chamou também atenção para o papel do consumidor nessa mudança. “Para que a gente consiga realmente direcionar esse setor para essa transição que a gente quer, é um papel de investidor, de financiador, de consumidor, de varejista, e é sempre melhor quando o poder público ajuda ao invés de jogar contra, e às vezes ele joga contra, como a gente tem visto ultimamente”, disse. “Para resolver o problema do desmatamento da pecuária, não vai ser só o capital, a gente precisa de medidas que envolvam todos os atores e principalmente o setor público”, completou Gustavo.

Assista na íntegra a mesa sobre o papel do mercado financeiro no desmatamento:

Jornalismo na Amazônia

Na segunda mesa, dando sequência aos debates sobre a cobertura jornalística na Amazônia, as jornalistas Sônia Bridi, da Rede Globo, e Ana Aranha, da Repórter Brasil, compartilharam algumas de suas vivências profissionais na região. A conversa, mediada pelo também jornalista Gustavo Faleiros, do InfoAmazônia, discutiu os desafios e responsabilidades dos repórteres que cobrem o bioma.

“É muito importante que o repórter, seja quem for, que vai pisar em solo amazônico, que chegue com muito respeito, que chegue com muita humildade e com muita abertura para ouvir os povos da Amazônia, que são as maiores autoridades do assunto Amazônia”, ressaltou Ana Aranha.

Com trinta anos de Fantástico, Sônia Bridi também reforçou a importância dos jornalistas não carregarem ideias pré-concebidas ao fazer uma matéria e destacou que as pautas socioambientais têm ganhado cada vez mais espaço na grande mídia.

Ela citou ainda as reportagens feitas por ela para TV sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte, que teve impactos seríssimos tanto do ponto de vista ambiental quanto social, principalmente no município de Altamira, onde está a usina, e lembrou que essa cobertura não pode parar para não cair no esquecimento. “Altamira tem que ser um exemplo de tudo que não pode ser feito, de tudo que não deve ser feito. E isso só vai ficar claro se a gente continuar voltando a Altamira e continuar contando essa história”, reforça.

Bridi fez um alerta ainda, ao lembrar a situação de emergência climática planetária, na qual o Brasil – e o que acontece com a Amazônia – possuem grande protagonismo. “Nesse momento qualquer árvore derrubada bota a gente num risco maior. Preservar a Amazônia agora é essencial para preservar o equilíbrio do planeta – e é por isso que a gente está recebendo tanta atenção (…) O Brasil nunca teve tanto poder sobre o resto do mundo quanto tem agora, e esse poder é para salvar ou destruir de vez. E infelizmente a gente está tomando o rumo errado. Nós estamos num momento importante demais para permitir que isso aconteça”, critica.

Assista ao vídeo da mesa sobre jornalismo na Amazônia:

Acesse aqui a programação do evento para conferir os painéis de quarta-feira!

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