Notícias

Por manobra de Flávio Bolsonaro, plano de adaptação às mudanças do clima não é votado no Senado

“Se fosse uma situação global, o mundo inteiro estaria passando pelas mesmas circunstâncias. Não é o caso”, disse, sobre impactos das mudanças climáticas no RS

Cristiane Prizibisczki ·
14 de maio de 2024

Em meio à tragédia que assola o Rio Grande do Sul, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) conseguiu, na tarde desta terça-feira (14), adiar um pouco mais a votação do projeto de lei que estabelece normas para a formulação de planos de adaptação às mudanças climáticas. 

O adiamento acordado entre os parlamentares é de apenas um dia, mas após manobra no Senado, Flávio Bolsonaro também conseguiu que emendas apresentadas por ele fora do prazo – que alteram consideravelmente o texto – sejam analisadas pela Comissão de Constituição e Justiça na Casa. O prazo de apresentação de emendas acabou no dia 8 de março.

A proposta em questão (PL 4.129/2021) estabelece as diretrizes para que estados e municípios comecem a elaborar seus planos de adaptação às mudanças do clima. Entre as diretrizes propostas está a obrigatoriedade da criação de instrumentos econômicos e socioambientais que permitam a adaptação dos sistemas naturais, humanos, produtivos e de infraestrutura, de forma a evitar que os planos apresentados por estados e municípios fiquem muito vagos.

O projeto, da Câmara dos Deputados, foi aprovado na Comissão de Meio Ambiente (MA) do Senado no final de fevereiro, após receber texto substitutivo. Segundo apurou ((o))eco, a criação do substitutivo foi feita com a participação da sociedade civil e da Frente Parlamentar Ambientalista do Congresso.

No momento da discussão da proposta em Plenário, na tarde desta terça-feira, Flávio Bolsonaro tentou apresentar sua emenda que inclui o setor privado na formulação das diretrizes para os planos de adaptação. 

“Fico preocupado com o excesso de poder nas mãos dos órgãos ambientais sem levar em consideração os que serão afetados na ponta da linha, que é exatamente o setor privado, que vai participar diretamente da reconstrução. Tenho muita preocupação de que ele seja aprovado da forma como está por isso”, disse o parlamentar, durante a sessão plenária. 

Com discurso negacionista, Flávio Bolsonaro defendeu que o que está acontecendo no Rio Grande do Sul não tem relação com as mudanças climáticas, mas sim com a forma como as cidades foram projetadas.

“Precisa discutir com calma para não ser cometida nenhuma injustiça

O que está acontecendo no RS tem relação com a emissão de carbono na atmosfera ou tem relação com o Zoneamento Ecológico-Econômico das cidades impactadas? Tem a ver com queima de petróleo ou tem a ver com questões geográficas?”

Para justificar seu ponto de vista, o parlamentar argumentou que o Rio Grande do Sul já viveu cheia semelhante em 1941, quando a quantidade de carbono na atmosfera era menor.

“Se aconteceu a mesma coisa em 1941, significa que não é pelas questões globais. 

Não caiamos nessa armadilha de querer culpar as mudanças climáticas […] Se fosse uma situação global, o mundo inteiro estaria passando pelas mesmas circunstâncias. Não é o caso”, disse

Cientistas do IPCC já afirmaram, em seus diferentes relatórios, a relação direta dos eventos extremos com as emissões de CO2 na atmosfera e aumento da temperatura global. 

No Brasil, diferentes pesquisadores e organizações mostraram como as mudanças no clima ajudaram a intensificar os eventos climáticos no sul do país, situação agravada – mas não unicamente provocada por – mau planejamento urbano.

Como o prazo para a apresentação das emendas já havia passado, Flávio Bolsonaro conseguiu um acordo entre os parlamentares para que o projeto de lei em questão volte para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde sua emenda deve, então, ser analisada.

“Precisamos aprimorar [a proposta]. Senão a gente vai ficar na mão da burocracia estatal, de pessoas ligadas ao meio ambiente que não têm o pensamento regional. Qual vai ser a saída? Taxar produtos que sejam nocivos ao meio ambiente para enviar ao Rio Grande do Sul? Aumentar impostos sobre a energia fóssil como se fosse gerar algum impacto direto nas pessoas que vivem nas cidades?”, argumentou o parlamentar.

O aumento dos impostos sobre fósseis é justamente uma das alternativas que estão sendo analisadas globalmente para frear a emissão de CO2 e garantir a transição energética. 

Segundo o acordo firmado por Flávio Bolsonaro, a análise da CCJ vai acontecer amanhã e no mesmo dia o projeto deve voltar ao plenário. Até o fechamento da matéria, o relator da proposta na CCJ ainda não havia sido designado.

Segundo apurou ((o))eco, mesmo que a proposta seja de fato analisada na Comissão temática do Senado amanhã,  é possível que enfrente oposição dos parlamentares em plenário.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

Leia também

Reportagens
13 de maio de 2024

Tragédia no RS “não será a pior”, alerta coordenador de frente de prefeitos

Participantes do último dia de seminários organizados pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade, realizado na última sexta (10), falaram sobre financiamento à adaptação

Reportagens
13 de maio de 2024

Sem ciência não há enfrentamento dos desafios crescentes da mudança do clima, diz cientista do IPCC

Thelma Krug, membro do corpo de cientistas da ONU para mudanças climáticas, diz que situação no RS é oportunidade para repensar planos de adaptação

Reportagens
9 de maio de 2024

Mudanças climáticas atingem a população de forma desigual, lembram especialistas

Participante do 3º dia dos “Seminários Bússola para a Construção de Cidades Resilientes” debateram o papel das cidades na mitigação e adaptação às mudanças do clima

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 2

  1. Paulo diz:

    O senador burro veio bozo, o evento aconteceu 3 vezes em 7 meses. Qdo o individuo quer impor sua idiotice é isto o que acontece.


  2. Ruchel diz: