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Reeleitos, Lira e Pacheco adotam posturas mais ambientalmente sustentáveis

Tanto presidente da Câmara quanto do Senado abordaram a questão ambiental em seus discursos de posse; Lira acenou ao meio ambiente, sem desagradar ao agronegócio

Fabio Pontes ·
3 de fevereiro de 2023 · 2 anos atrás

A posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Presidência da República provocou uma metamorfose política nos presidentes reeleitos da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ao terem suas reeleições confirmadas na última quarta-feira (1o), quando o Congresso Nacional eleito em 2022 tomou posse, ambos adotaram uma postura de compromisso com a proteção ao meio ambiente, seguindo a linha já assumida pelo Palácio do Planalto. 

A mudança mais radical pode ser observada em Arthur Lira, que nos últimos dois anos, com o Executivo sob o controle de Jair Bolsonaro (PL), fez avançar pautas consideradas nocivas para a agenda ambiental e aos povos indígenas. Aliado incondicional do então presidente da República, Lira atuou para tramitar projetos de interesse do governo, como o PL 191/20, que regulamenta a mineração dentro das terras indígenas. 

Agora, com Lula na Presidência, o presidente reeleito da Câmara adota um discurso de respeito ao meio ambiente e aos povos originários. Ao abordar o tema, o parlamentar alagoano seguiu numa linha moderada para agradar tanto aos ouvidos do governo petista quanto aos da bancada ligada aos interesses do agronegócio. Falando de forma mais macro, defendeu um “ponto de equilíbrio” entre o social e o econômico, e que a regra também vale para a agenda ambiental. 

“O mesmo vale quando falamos sobre meio ambiente. Sabemos o valor da preservação da nossa Amazônia, do Pantanal, da Mata Atlântica, de nossos rios, lagoas e mares. Mas devemos, também, olhar para os povos que dependem da exploração correta dessas regiões. Nossos povos originários precisam da mão protetora do Estado, da assistência e solidariedade de todos e todas”, disse Arthur Lira. 

Para o agronegócio, o presidente da Câmara pediu um olhar “de !responsabilidade para quem produz, quem planta e colhe o nosso alimento – o agro que nos orgulha e nos fez celeiro do mundo”. “Estabelecer a convivência pacífica, justa, preservacionista e com desenvolvimento é um desafio para o qual vamos debater e encontrar soluções”, completou o deputado. 

Em dezembro, quando o PT oficializou seu apoio à reeleição de Lira, ((o)) eco mostrou que a aliança poderia colocar em risco uma das principais promessas do petista durante a campanha eleitoral: a reconstrução da política ambiental do país, após quatro anos de devastação com Bolsonaro. O “passivo ambiental” de Lira durante seu primeiro mandato na presidência da Casa era o que colocava em xeque a agenda de meio ambiente do então governo eleito. 

O discurso de Lira, porém, mostra uma mudança de postura para não desagradar ao novo ocupante do Palácio do Planalto, mas também tenta não desagradar a ala majoritariamente mais conservadora da Câmara, em partes ligada ao agronegócio, que é a sua base de sustentação. 

O “travador” da pauta antiambiental 

Rodrigo Pacheco foi reeleito presidente do Senado. Foto: Pedro Gontijo/Senado Federal

Apesar de também ter sido aliado de Jair Bolsonaro nos últimos dois anos, o presidente do Senado tentou se apresentar com uma postura menos subserviente ao Executivo. Rodrigo Pacheco afirmou que sua atuação foi no sentido de brecar a tramitação de projetos de lei tidos como nocivos para a pauta ambiental brasileira. 

“Este Senado teve o comprometimento de conter medidas ambientais que eram mal vistas pela população internacional e que estavam a comprometer a economia brasileira, em estado de vigilância. O Brasil estava caminhando a passos largos para ser um pária internacional em função de seu não compromisso [com o fim] do desmatamento ilegal da Amazônia e dos nossos biomas”, disse Pacheco, em coletiva de imprensa. 

Antes, durante a leitura do discurso na cadeira de presidente da Mesa Diretora, Pacheco falou em “compromisso com o desenvolvimento sustentável, com o respeito ao meio ambiente”. Segundo ele, o debate sobre a responsabilidade ambiental “há tempos deixou de ser um compromisso retórico para ser uma necessidade da nação brasileira”. 

Mesmo com o novo momento político, proporcionado pela vitória e a posse de Lula, também contagiando a presidência das duas casas do Congresso Nacional, a eleição de uma bancada parlamentar mais conservadora (parte dela ligada ao bolsonarismo), faz com que a guarda não seja de toda baixada. É certo que setores ligados ao agronegócio ou à mineração, como exemplos, se articulem para destravar a tramitação de projetos de seus  interesses. 

  • Fabio Pontes

    Fabio Pontes é jornalista com atuação na Amazônia, especializado nas coberturas das questões que envolvem o bioma desde 2010.

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