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Procuram-se louros

Os papagaios Dunga e Cucurrica ganharam fama em Santa Catarina depois que foram roubados de uma família que os mantinha há 25 anos. A recompensa é de R$ 5 mil.

Renan Antunes de Oliveira ·
6 de maio de 2005 · 20 anos atrás

Os historiadores não sabem dizer com certeza se foram negros libertos ou imigrantes italianos os fundadores de Treze de Maio, uma pequena cidade na encosta da Serra do Mar, no litoral sul de Santa Catarina.

Hoje, todos no pedaço concordam que seus habitantes mais ilustres desde a fundação são Dunga e Cucurrica, os papagaios roubados do sítio dos Bardini em 17 de abril. Até a sexta-feira, 6 de maio, a delegada Nelma Oliveira não tinha nenhuma pista para pegar o(s) ladrão(ões) ou recuperar as aves.

A notoriedade dos papagaios foi meteórica porque seus donos gastaram R$ 2.300 num anúncio colorido no principal jornal do estado, com fotos enormes deles, oferecendo R$ 5 mil de recompensa.

Só pelas fotos, é difícil alguém notar a diferença de Dunga e Cucurrica para outros papagaios. Alguns engraçadinhos chegaram a ligar oferecendo outros bichos para a família. Os Bardini só querem os seus e garantem que sabem identificá-los: “Dunga canta ‘atirei o pau no gato’ todinho”, jura dona Nilma, dona da sapataria Chaplin, herdeira dos papagaios. Lúcio, irmão de Nilma, diz que “basta eu ver as penas que sei se são eles ou não”.

A bio dos desaparecidos: Dunga (foto) é o macho e Cucurrica a fêmea – claro, né? Eles não têm filhos. A idade provável do casal é 27 anos. Foram capturados há 25 pelo patricarca dos Bardini lá pelos lados da Serra do Rio do Rastro. Na época já era proibido caçar e manter animais silvestres, mas a prática era ainda mais aceita do que é hoje, ou seja, liberada. Os dois eram os xodós do falecido seu Antônio, pai de Nilma, Lúcio, Evaldo, Nica e Maria da Glória, todos comerciantes na cidade.

Os bichos estavam engaiolados e viviam no sítio, em Santa Cruz, sete quilômetros grotões adentro. Estar na gaiola no meio do verde deveria ser uma tortura pra eles, mas pelo menos eram bem tratados no cativeiro.

Em 17 de abril, seu Lúcio foi à cidade fazer compras de manhã, lá pelas 9 horas. Quando voltou, depois do meio-dia, D & C tinham sumido, com gaiola e tudo. O ladrão levou também um forno de microondas. Maria da Glória deu queixa na polícia, mais pelos bichos do que pelo forno. A investigação está parada.

A família foi à luta sozinha. Fotos dos louros voaram do álbum da família para um cartaz oferecendo recompensa de R$ 1 mil, só para a vizinhança. A primeira peça publicitária foi afixada nas lojas da família, a Chaplin e a Foto Bardini, sem sucesso. “Fiquei tentado a caçar dois papagaios e oferecer pra eles”, brinca A.C., funcionário de um restaurante vizinho.

O pessoal do posto de gasolina dá risadas. Lídia e Suzana, duas meninas encontradas numa loja, que ainda não sabiam do sumiço, ficaram encantadas quando viram um cameraman gravando entrevistas na praça – e correram pra lá em busca da celebridade.

Com as semanas passando sem notícias, os Bardini pagaram o anúncio do jornal, aumentando a oferta para R$ 5 mil. Aí a história migrou da página de anúncios para o noticiário de capa na imprensa catarinense e gaúcha – logo veio a televisão e os papagaios viraram campeões de audiência.

Muitas pessoas fazem graça da situação, mas a família sente a dor da perda de forma genuína. Nica lembra que seu Antônio, antes de morrer, há três anos, passou 20 minutos conversando com os bichos. Os filhos, em memória do pai, fazem de tudo para reavê-los: “Eram gente da família”, diz Lúcio.

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