Reportagens

Caça ao tesouro

Corrida de Orientação parece brincadeira de criança, mas nasceu como técnica de guerra e virou esporte reconhecido, estimulando o convívio com a natureza.

Juliana Fernandes ·
15 de julho de 2005 · 19 anos atrás

A caça ao tesouro, tão comum entre as crianças, é esporte para gente grande. E esporte reconhecido, com direito a ranking nacional e curso de formação profissional, que já entrou até nos currículos dos profissionais de Educação Física.

Mas para ser respeitada pelos adultos, a atividade ganhou um nome mais pomposo: corrida de orientação. É praticada em mata fechada, necessariamente desconhecida dos competidores, e tem regras rígidas, que proíbem qualquer interferência na natureza, sob pena de desclassificação da competição.

O diretor técnico da Federação de Orientação do Estado do Rio (FORJ), Fábio Solagaistua, explica que, embora tenha muitas regras, o esporte não é difícil de ser praticado. “Pessoas de 6 a 65 anos entendem o que é e participam. Não é preciso ser atleta, basta estar bem de saúde”, garante.

Antes da competição, cada participante da corrida recebe um mapa do terreno onde será realizada a disputa. Nele estão marcados diversos pontos, todos numerados. O objetivo do jogo é percorrer, em ordem e no menor tempo possível, o percurso indicado. Para tanto, pode-se utilizar apenas o mapa e uma bússola. “É proibido entrar no circuito da competição com qualquer outro objeto”, lembra Fábio.

Não parece mesmo difícil. Para Fábio, o que faz da brincadeira um esporte sério é a superação de limites. “É uma corrida contra o relógio, competitiva e em interação com a natureza”, explica ele. Ele explica que a orientação é praticada sempre em áreas de mata com grande variedade de vegetação. “Numa cidade, por exemplo, não seria possível utilizar técnicas de orientação. É preciso que tenhamos grande quantidade de vegetação para que haja dificuldade, mas não pode ser mata fechada. É imprescindível que existam trilhas que permitam rotas de competição na área”, afirma.

Comum em países escandinavos, principalmente na Suécia e na Finlândia, onde faz parte do currículo escolar desde o primário, a corrida de orientação era, há algum tempo, conhecida apenas no meio militar. “A corrida de orientação sempre fez parte do treinamento militar, que usava esses conhecimentos principalmente durante as guerras. De uns tempos para cá, a atividade se popularizou”, conta o comandante do 32º Batalhão de Infantaria Motorizada (BIMTZ) de Petrópolis, coronel Luis Fernando Hilgenberg, que recentemente coordenou um curso para uma turma de graduação em Educação Física de uma universidade da cidade.

Segundo o sargento do Exército Antônio Augusto da Rocha Neto, 32 anos, que participa de competições em todo o país, os percursos mais curtos têm de 4 a 6 quilômetros e são feitos em 45 minutos. Os mais longos chegam a 10 quilômetros e têm duração de 1h30. “A distância é calculada em linhas retas no mapa, mas na verdade o competidor percorre muito mais do que isso porque acaba dando voltas para chegar aos pontos indicados”, explica.

Hoje, segundo a Confederação Brasileira de Corrida de Orientação (CBCO), existem mais de 3 mil adeptos da corrida de orientação em todo o país. No Estado do Rio, a Federação vem contabilizando uma média de 320 participantes em cada competição, a maioria entre 21 e 35 anos.

A FORJ tem ainda um dado curioso: a maior parte dos competidores vive em áreas urbanas, onde o contato com a natureza é mais raro. Dos sete clubes da Federação, seis estão na capital e só um no interior, na cidade de Resende.

Fábio Solagaistua, um carioca típico, explica: “Sou considerado uma pessoa urbana, mas o contato com a natureza é maravilhoso. Pratico o esporte há seis anos e, desde a primeira vez, depois da competição, sempre digo que vou parar. Não consigo. Me ver sujo, arranhado, no meio do mato, é estranho, mas muito prazeroso”.

* Juliana Fernandes é jornalista recém-formada e mora em Petrópolis (RJ). Trabalhou como repórter da editoria de interior do Jornal O Dia.

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