Reportagens

Em má companhia

Estudo diz que diversos países, inclusive nações em desenvolvimento, estão expandindo as suas áreas de floresta. Não é o caso do Brasil, que aparece na lista dos que continuam desmatando.

Aline Ribeiro ·
14 de novembro de 2006 · 18 anos atrás

Pelo menos no que diz respeito às florestas do mundo, o cenário de um futuro sombrio ainda não é irreversível. Um número cada vez maior de países, cuja história sempre foi marcada pela destruição de suas florestas, está embicando na direção contrária, conseguindo conter a sua perda de árvores ou expandindo o que resta de matas em seu território. É o que mostra um estudo realizado por cientistas europeus, americanos e asiáticos publicado no último número da Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) dos Estados Unidos. E que ninguém imagine que as nações que estão se reflorestando são apenas as potências industrializadas da América do Norte e da Europa.

O trabalho aponta que países como China, Índia, Turquia e até Vietnã enveredaram pelo caminho de deixar as suas florestas se expandirem. O estudo – que também propõe uma equação inédita para medir a saúde das florestas – conclui que 18 dos 50 países com mais florestas tiveram aumento das áreas cobertas por matas nos últimos 15 anos. Os resultados também apontaram para o crescimento da biomassa de 22 desses 50 países. Infelizmente, o Brasil está na outra metade da lista, na companhia nada abonadora de Indonésia e de algumas nações africanas. Brasil e Indonésia apresentaram as maiores perdas em quilômetros quadrados de floresta e em metros cúbicos de madeira e graças aos dois, o saldo mundial de florestas continua negativo. Ainda se corta mais do que se planta.

Peter Holmgren, chefe do setor de recursos florestais da FAO – órgão das Nações Unidas dedicado ao acompanhamento e discussão de temas ligados à alimentação e agricultura – disse ao The New York Times que os resultados precisam ser vistos com cautela. Segundo ele, o estudo se baseia em dados fornecidos pelos próprios governos, que com raras e honrosas exceções, entre elas o Brasil, não têm fama de saber monitorar, com régua e compasso, o estado de suas florestas. “Será que ouve uma mudança de paradigma”, perguntou ele ao repórter do jornal. “Não dá para afirmar com tanta certeza”.

Transição cedo

O trabalho publicado na PNAS mostra que há uma relação direta entre aumento de renda de sua população e expansão de florestas. Os pesquisadores descobriram que, quando o Produto Interno Bruto (PIB) per capita atinge US$ 4.600, as nações têm aumento nas reservas florestais. Nos Estados Unidos, os fazendeiros americanos retiraram mais madeira em 60 anos (de 1850 a 1910) do que em 250 anos pós-colonização, segundo o estudo. O reflorestamento, apesar de modesto, vem acontecendo regionalmente desde 1920. O primeiro estado a ter a transição foi o de Connecticut, em 1900.

Outros, como o Texas, fizeram a mudança só em 2002. Alguns países, porém, fizeram a transição muito mais cedo, como a Dinamarca (1810), França (1830), Suíça (1860), Portugal (1870), Escócia (1920) e Rússia (1930). A França é um modelo positivo de reflorestamento. De 1960 a 2005, teve sua área florestal expandida em mais de um quarto. Em El Salvador, país tropical em desenvolvimento, um quarto da cobertura florestal do país cresceu de 72% para 93% entre 1992 a 2001. Já a China teve significativo aumento de suas reservas florestais, que passaram de 792 quilos por hectare (kha) – uma unidade utilizada para medir biomassa – em 1970, para 143,000 kha, no começo de 2000.

O novo método, segundo os pesquisadores, é um dos mais precisos até agora, porque não somente apresenta as áreas cobertas por matas de cada país, mas contabiliza a densidade de árvores por hectare, a biomassa e a quantidade de carbono que é capturada pelas florestas. Por enquanto, a nova técnica será utilizada apenas pelos cientistas. Mas eles esperam que os governos do mundo todo utilizem o modelo para conduzir suas políticas públicas futuras.

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