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Mortandade, sinal de vitalidade?

Número de pingüins mortos assusta moradores da Região dos Lagos, no Rio de Janeiro. biólogos acreditam que fenômeno é resultado da alta taxa de nascimentos da espécie na Patagônia.

Felipe Lobo ·
23 de julho de 2008 · 16 anos atrás

Fábio Rudge não é biólogo e tampouco estuda os fenômenos ambientais com regularidade, mas vive em Búzios (RJ) há tempo suficiente para saber quando algo está fora da ordem natural. Morador da cidade mais festejada do balneário fluminense há duas décadas, o analista de sistemas tomou um susto quando passeou pela praia de Manguinhos numa quarta-feira de julho e se deparou com cerca de 12 Pingüins-de-Magalhães mortos nas areias. “Sei que eles aparecem por aqui nesta época do ano, e estou acostumado a ver um ou dois mortos. Só que, em duas semanas, eu contei 52 vítimas. Tem alguma coisa errada”, argumenta.

Esta foi uma das primeiras frases que Fabio disse à reportagem de O Eco na última sexta-feira, quando o site foi conferir com os próprios olhos o cenário anunciado pelo telefone. Durante o passeio de um quilômetro pela orla que fica no quintal de sua casa, a indignação do carioca de nascimento só fez aumentar a cada pingüim encontrado morto. No total, em apenas 15 minutos de caminhada, seis animais foram avistados sem vida – alguns com aspectos terríveis. “Liguei para o Ibama de Cabo Frio, e ninguém atende. Já chamei os bombeiros, mas eles não vêm buscá-los, e a prefeitura também faz pouco caso. Ninguém faz nada”, reclama.

Com parcas informações e nenhuma experiência no trato de pingüins, os moradores fazem o que podem. Foi o caso, por exemplo, da esposa e filha de Fabio. Em um passeio de bicicleta por Manguinhos, as duas avistaram um animal ainda vivo, agonizante. Não pensaram duas vezes: pegaram a ave, a colocaram em uma caixa de papelão e levaram ao veterinário mais próximo. Como ele não quis aceitar, pedalaram por dez quilômetros até o centro em busca de outro profissional, que achou por bem cuidar do animal.

A curiosidade e irritação com a política do município não são privilégios apenas dos Rudge. Basta saltar do carro, colocar os pés no chão de Búzios e conversar com seus habitantes para notar que ninguém sabe ao certo o que está acontecendo. E nem como agir. “Todo ano tem pinguim aqui nessa época, mas não nessa quantidade. Vejo alguns nadando muito fracos em alto mar”, diz Fábio Alves, o Pepa, pescador nascido e criado nas praias da cidade.

No início da noite de sexta-feira, a reportagem de O Eco acompanhou a soltura de dois pingüins efetuada pela Guarda Marítima e Ambiental de Cabo frio. Após 30 minutos dentro de um bote a motor, chegamos em alto mar, próximo à corrente de Ressurgência. Ali, as aves foram devolvidas ao seu habitat natural apenas poucas horas depois de terem sido resgatadas. Logo em seguida, o motorista da lancha, Maurício, preocupado com as águas instáveis, decidiu que era hora de voltar para terra firme. Ficou a torcida para que os pequeninos animais encontrem o caminho de volta para casa.

  • Felipe Lobo

    Sócio da Na Boca do Lobo, especialista em comunicação, sustentabilidade e mudanças climáticas, e criador da exposição O Dia Seguinte

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