Reportagens

Dez recursos naturais em jogo

Perto da divulgação do novo relatório sobre os efeitos das mudanças climáticas, fundo dedicado à preservação da vida selvagem lista riquezas naturais ameaçadas pelo aquecimento global.

Carla di Cologna ·
4 de abril de 2007 · 17 anos atrás

Às vésperas da divulgação do novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) – que abordará os impactos do aquecimento global na vida humana -, a ONG WWF lançou uma lista com dez maravilhas da natureza que estão ameaçadas pelo mesmo fenômeno. De acordo com Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, superintendente de Conservação do WWF-Brasil, a escolha foi baseada em critérios que atendessem diferentes tipos de ecossistemas e impactos ambientais.

As barreiras de corais

Os corais servem de lar para cerca de 25% da vida marinha do planeta e o valor dos serviços ecológicos prestados às sociedades que vivem em seu entorno está estimado em 30 bilhões de dólares. Mas este recurso natural está por um triz. O aumento da temperatura dos oceanos está provocando a morte dos organismos que dão vida aos corais – os zooxanthellae. Sem eles, os corais viram esqueletos brancos no fundo do mar. A recuperação é possível, mas se torna menos provável com o aumento da acidez das águas marinhas. Hoje, cerca de 700 recifes estão ameaçados por poluentes como fertilizantes, pesticidas e sedimentos jogados no mar por atividades agrícolas próximas ao litoral. Uma das formas de se proteger os corais é pressionar grandes companhias e fazendeiros a usarem menos química e educar pescadores a protegerem o recurso que lhes garante a pesca. O WWF listou a Grande Barreira de Corais, na Austrália, como cartão-postal das ameaças impostas aos corais pelo aquecimento global.

Os salmões selvagens de Bering

A organização também chama atenção para o Mar de Bering, localizado no Ártico e refúgio de gigantescas populações de peixes, mariscos, pássaros, baleias, ursos polares e tantas outras espécies ameaçadas pela pesca e pelo derretimento dos pólos. Mais de 50% da pesca anual dos Estados Unidos e Rússia são feitas lá e um dos alvos prediletos são as espécies de salmão do Alaska que migram para a região na fase adulta. A expectativa é que nos próximos anos diferentes espécies de animais nadem para Bering em busca de águas mais refrescantes.

O deserto de Chihuahua

Entre o México e os Estados Unidos se estende o deserto mais biodiverso da Terra: o Chihuahua. Cerca de mil das suas 3500 espécies de plantas são endêmicas e nas áreas montanhosas vivem de ursos a onças. Além da vida pujante, dois importantes rios cruzam a região – o Grande e o Bravo. Suas cabeceiras são alimentadas pelo degelo dos picos nevados americanos, que cada dia se escondem sob uma quantidade menor de neve. Resultado, há períodos de seca em que os rios não conseguem chegar até o mar e várias populações em suas margens já sofrem com escassez de água.

As tartarugas Hawksbill

Seis das sete espécies de tartarugas marinhas existentes na América Latina e no Caribe estão ameaçadas ou criticamente ameaçadas de extinção. E o aquecimento global tende a dificultar ainda mais a sobrevivência delas. Com a elevação dos mares, as praias onde as tartarugas costumam depositar seus ovos irão desaparecer. Uma medida preventiva que está sendo adotada pelo WWF é a proteção de áreas internas em terra firme que, no futuro, podem virar praias. Outra ação é a preservação de espécies de plantas que poderão ser usadas pelas tartarugas para fazerem ninhos mais refrescantes para seus ovos, já que a água mais quente do mar afetará a reprodução das espécies e provavelmente modificará a proporção das populações de machos e fêmeas. As rotas de migração também correm o risco de mudar drasticamente se algumas correntes marinhas desaparecerem, como é imaginado.

A Floresta Valdivia

Testemunha das mudanças climáticas do planeta nos últimos três mil anos, a árvore da espécie Alerce talvez não sobreviva a mais esta. Ela cresce nas florestas temperadas de Chile e Argentina, é a segunda árvore com maior longevidade na Terra e pode chegar a medir 100 metros de altura. Mas os cientistas estão incertos sobre seu futuro diante do rápido derretimento dos glaciares andinos e da dramática mudança que o regime hídrico da região deve sofrer com o degelo.

Os tigres de Sundarbans

A maior população dos últimos exemplares de tigres bengalas vive no manguezal de Sundarbans, na Índia. A área de 20 mil quilômetros quadrados sofre forte pressão humana e cada dia se torna um lugar menos adequado para esses tigres solitários que demandam grandes territórios para si. As fortes tempestades e a elevação dos mares tende a diminuir ainda mais este espaço.

Rio Yangtze, na China

A redução dos glaciares no Tibet e Himalaia tende a minguar a capacidade hídrica do rio Yangtze – o mais longo da Ásia e o terceiro mais extenso do mundo. A escassez pode afetar o fornecimento de água, comida e eletricidade para mais de 450 milhões de pessoas e afetar uma das florestas temperadas mais ricas do mundo, localizada no extremo oeste da China. A região sofrerá também maiores estiagens e tempestades mais intensas. O panda, animal símbolo da fauna ameaçada do país, também terá um de seus únicos habitas selvagens colocado em xeque pelas mudanças climáticas.

As geleiras do Himalaia

Depois das regiões polares, o lugar que concentra o maior número de glaciares na Terra é o Himalaia. Conhecido como as “torres de água da Ásia”, ele garante o abastecimento do precioso líquido não apenas a milhões de humanos, mas a populações de rinocerontes, tigres, elefantes, leopardos, entre tantas outras espécies. Calcula-se que os glaciares diminuam 10 metros por ano e teme-se que o rápido derretimento provoque inundações em algumas regiões e escassez de água doce em outras – como na Índia. Enquanto pesquisadores do WWF tentam entender melhor os efeitos das mudanças climáticas em cinco geleiras do Nepal e da Índia, um outro grupo estuda as conseqüências do fenômeno nos sistemas de irrigação, de energia, de abastecimento de água e na sobrevivência de determinadas espécies. Entre elas, a humana.

Florestas costeiras do leste da África

O cinto de floresta úmida que se estende do leste da África – na altura do sul da Somália até Maputo, em Moçambique, também merece a atenção mundial diante da diversidade de espécies que abriga e do equilíbrio ecológico que ajuda a manter no continente. O adoecimento dessa mata pode causar sérios danos à agricultura africana, incêndios e novas epidemias de doenças, como malária.

Amazônia, peça-chave

Por último, a Amazônia, o bem natural mais lembrado quando os assuntos são preservação e aquecimento global. O WWF voltou a citar estudos recentes que apontam que a floresta pode se tornar mais seca nas próximas décadas e que 60% da sua área podem ser convertidos em savanas. A mudança coloca em risco todo o equilíbrio climático do planeta.

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