Apesar do vento frio e do céu nublado Nichols está extasiado pela atmosfera da baía e observa atentamente os movimentos das ondas à espera de uma oportunidade de ver uma baleia franca, muito comum nesta época do ano no litoral catarinense. “Por que as pessoas pensam em preservar as baleias, se hoje elas não tem mais um valor comercial?”, indaga. E ele mesmo responde: “Por que estamos conectados emocionalmente a todos os outros seres”. Sentado de frente para o mar, o neurocientista revela as diferentes formas como este interfere no estado mental das pessoas, desde o aroma da brisa, o som emitido pelas ondas, a apreciação de sua paisagem, assim como um refrescante mergulho. Ele explica que todos estes fatores ajudam a conduzir a mente para estados meditativos e de relaxamento.
Por meio do Programa de Monitoramento das Baleias Francas do IBF, sete biólogos em formação e graduados saem diariamente para observá-las. Dependendo das condições climáticas às vezes pode ser por terra, mas sempre que possível em embarcações que os levam para próximo delas. A bióloga e coordenadora do IBF, Mônica Pontalti revela que neste mês de setembro foram avistadas aproximadamente 32 baleias francas, mães e filhotes entre as baías de Garobapa e o Siriu. O monitoramento possibilita que se levantem dados sobre suas características, e principalmente seus comportamentos, já que estas ficam em media um mês na mesma baía junto aos seus filhotes, que começam a aprender seus primeiros movimentos natatórios para depois acompanharem suas mães em direção as águas geladas da Antártida. Além disso, são realizados sobrevoos que permitem fotos de identificação para cada baleia presente na costa. Mônica ressalta que se sente realizada por trabalhar diariamente em contato com as baleias e que todos os problemas cotidianos são deixados de lado na presença delas, além de vivenciar um sentimento de paz que a envolve profundamente.
O contato constante dos biólogos com as baleias permite que distingam uma da outra por meio de características particulares. A coordenadora destaca apelidos dados para as baleias francas presentes na região como a “Charmosa”, chamada assim devido suas largas calosidades lábias que parecem batom; a “Michael Jackson”, pois tem a metade do corpo branca e outra negra e sempre que esta se aproxima do barco faz várias acrobacias; e a “Daiane dos Santos”, que é fera nos saltos!
A baleia franca pode chegar a 18 metros e pesar até 60 toneladas, medidas que a torna o maior cetáceo do sul do Brasil. Uma de suas características mais marcantes e que a distingue das outras espécies de baleias são suas calosidades, espessamentos de pele onde habitam pequenos crustáceos. Outra particularidade é o modo de identificar a presença delas no mar, seu borrifo é em formato de “V” e pode atingir até 8 metros de altura.
A caça
O primeiro defensor das baleias no Brasil foi José Bonifácio, o Patriarca da Independência, que alertou o Rei de Portugal no período colonial sobre os perigos da matança e da importância de protegê-las. No entanto, o país somente aderiu seriamente à proibição determinada pela Comissão Internacional Baleeira em 1986, quando foi proibida definitivamente a caça comercial de baleias em território nacional. Apesar de o Brasil ter sido o último país da América do Sul a abandonar esta prática, atualmente se destaca como um dos mais importantes defensores das baleias no cenário internacional.
Estrelas do turismo
Monica Pontalti destaca que o turismo de observação de baleias é uma importante ferramenta de educação ambiental. O Instituto Baleia Franca acredita que as pessoas que conhecem de perto estes mamíferos passem a respeitá-los e amá-los, pois é isso que ocorre com os biólogos do Instituto. Além disso, ajuda a ampliar a preservação do ambiente como um todo, pois uma mera “bituca” de cigarro na praia pode causar danos em todo o ecossistema.
Os operadores internacionais de turismo que estavam em meados de setembro na praia do Rosa uniram-se aos participantes do Encontro das Baías Americanas promovida pelo Clube das Baías mais Belas do Mundo para realizarem o passeio de observação de baleias. O evento teve como objetivo principal o intercâmbio de experiências entre os membros do Clube e a criação de projetos que tornem estas baías referências internacionais em gestão turística e ambiental destas áreas costeiras. Estiveram presentes representantes da Baía de Chaleur, do Canadá e da Baía de Maldonado, do Uruguai. A entrada nesse grupo implica “um compromisso permanente com a conservação e proteção da baía, ampliação na promoção turística e acesso a verbas de projetos governamentais”, disse Rodrigo Garcia, biólogo e membro da Organização da Conservação de Cetáceos (OCC) do Uruguai, que trouxe uma proposta para ingressar no Clube.
Uma das questões levantadas no evento foi como conciliar a valorização destes sítios frágeis, tanto terrestres quanto marítimo, sem que ocorra um confronto entre a estrutura de urbanização turística e as belezas naturais destas regiões. Preocupados com estas questões um grupo de empresários, associações locais e comunidade apresentaram no encontro um plano de gestão da Praia do Rosa, batizado de Rosa 2020. Enrique Litman, um dos responsáveis por este projeto e pelo próprio evento, começou a frequentar a Praia do Rosa décadas atrás como surfista, assim como muitos outros praticantes do surf, tanto do Rio Grande do Sul quanto da Argentina. Sendo que, com o decorrer dos anos foram estes mesmos surfistas amadores que acabaram fixando-se na região como pequenos empresários, pois o amor deles pela praia do Rosa era tamanha que a cada verão mais amigos vinham visitá-los, o que levou com que suas casas se transformassem em pequenos redutos de turistas. E há poucos anos atrás estas estruturas foram ampliadas e refinadas em pousadas e ecos-resort. O Encontro das Baías Americanas também celebrou a abertura oficial da 15ª Semana Nacional da Baleia Franca, e foi realizado no Eco Resort Vida Sol e Mar.
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