Reportagens

A água e seu percurso até o Rio Pastaza

Riachos e cascatas alimentam o Rio Pastaza, que atravessam comunidades das províncias Tungurahua e Morona Santiago, dependentes deste vital elemento.

Maricela Rivera ·
16 de outubro de 2012 · 12 anos atrás
Patate é uma pequena cidade à beira do rio, com um alto grau de contaminação por fungicidas, águas residuais e industriais. Crédito: Diego Acosta, Finding Species
Patate é uma pequena cidade à beira do rio, com um alto grau de contaminação por fungicidas, águas residuais e industriais. Crédito: Diego Acosta, Finding Species
A água, desde seu nascimento em páramos e lagoas, forma rios que atravessam lugares de alta concentração populacional, onde se vê afetada por fenômenos naturais ou artificiais. Esta crônica revela o percurso da água por riachos e cascatas que alimentam o Rio Pastaza nas províncias de Tungurahua e Morona Santiago, assim como seus usos e problemas.

Rio Patate
Patate, pequena cidade dedicada à produção agrícola e florícola, está situada à beira do rio do mesmo nome, que apresenta um alto grau de poluição proveniente de fungicidas, águas residuais e resíduos industriais. Além disso, recebe águas dos rios Cutuchi e Ambato, também contaminados, motivo pelo que os vilarejos nas beiras do rio não podem usá-lo.

Rio Pastaza
Seguindo o curso do Rio Patate, a vegetação vai mudando, arbustos e bromélias engalanam a paisagem, estamos perto do vulcão Tungurahua. Ali presenciamos a união dos rios Patate e Chambo, para formar o Pastaza. Suas águas se chocando e abrindo caminho entre as grandes pedras, junto ao show de luzes do sol ao fim da tarde, é um espetáculo.
 
Por sua localização, o alto Pastaza é uma região de alta biodiversidade e endemismo. Sua geografia, geologia, e clima dão origem a vários ecossistemas como florestas tropicais e os páramos. Esta bacia hidrográfica atravessa a Cordilheira dos Andes e abrange um grande sistema de montanhas, e da origem a milhares de fontes de água.

A cidade de Banhos é famosa por suas piscinas de águas sulfatadas. Crédito: Rubén Ramírez, Finding Species
A cidade de Banhos é famosa por suas piscinas de águas sulfatadas. Crédito: Rubén Ramírez, Finding Species
Banhos de Água Santa
A cidade de Banhos está em um vale rodeado de cascatas e águas termais, a 1.826 metros acima do nível do mar, e perto do vulcão Tungurahua. É terça-feira de manhã e a chuva mantém os moradores em suas casas. Enquanto isso, vamos em direção a Ulba, pequena paróquia a 4 km de Banhos, para conhecer a cascata Chamana.

Chamana é um pequeno paraíso que forma parte da rota das cascatas. Para entrar é necessário chegar ao Hostel e Restaurante Alemão de Dietrich e Regina Heinke. O casal que chegou de Alemanha há 27 anos conta que a cascata e sua casa atraem vários turistas.

O abastecimento de água não é problema na paróquia, Ulba tem vários olhos d’água e o rio, do mesmo nome, que fornece o suficiente. Sorrindo, Dietrich comenta que a água é mais saudável do que em Banhos. “Em nossa água não temos nem um grau de cloro, a água vem dos páramos de Mitza”.

Continuando a rota, encontramos o Véu da Noiva, cachoeira de aproximadamente 40 metros, que nasce do Rio Chinchín. O véu está dividido em dois por um deslizamento ocorrido em 2010. Apesar disso, a cachoeira continua sendo um atrativo importante, que muitos moradores aproveitam com atividades relacionadas ao turismo.

A cachoeira Véu da Noiva, de 40 metros de altura, nasce no Rio Chinchín, e fica a 11 quilômetros de Banhos. Crédito: Diego Acosta, Finding Species
A cachoeira Véu da Noiva, de 40 metros de altura, nasce no Rio Chinchín, e fica a 11 quilômetros de Banhos. Crédito: Diego Acosta, Finding Species
Mas a água em Banhos tem um valor agregado, é “santa”. Aos pés da cascata Chorrera, lavando sua roupa encontramos María Julia Tamayo que nos conta que a água é bendita desde que viram a Virgem Maria tomando banho aqui. “Vivemos ‘podres’ de água porque em todo lado há, são as vertentes da Virgem”, assegura.

Em Banhos a religião está ligada com a água. Cada final de semana, milhares de pessoas chegam para aliviar suas dores na água abençoada pela Virgem. Visitam as águas termais e levam garrafas de água bendita.  Aqui “a água é a base fundamental do turismo”, diz Gustavo Días, fotógrafo de 78 anos. Ele lembra que no terremoto de 1949 a água secou, e a imagem da Virgem devolveu a água á cidade. Para Gustavo, como para outros habitantes de Banhos, a água e a Virgem são muito importantes, “ela nos salvou das erupções do Tungurahua”.

Seguimos o trajeto até Pailón del Diablo, a maior cachoeira de Banhos. É uma queda-d’água de 80 metros, sobre o Rio Verde, onde o turismo é a base econômica de quase todos os habitantes.

Usina Hidrelétrica Agoyán
A 4 km de Banhos, no setor de Agoyán, fica a represa do mesmo nome. É um projeto hidrelétrico parte do sistema interconectado equatoriano. É a terceira geradora hidrelétrica mais importante do país, e forma parte da Corporação Elétrica do Equador.

A hidrelétrica aproveita a vazão das águas do Rio Pastaza, tomando 120m3 de água por segundo y gerando aproximadamente 156 MW. Além de produzir eletricidade, as águas da usina abastecem quase 6.648 hectares de lavouras na zona agrícola de Píllaro.

Rio Palora
Continuando na estrada Banhos-Puyo, encontramos riachos que alimentam o Rio Pastaza, com alta importância econômica para as populações ao redor. Até os rios Verde e Negro, por exemplo, chegam turistas de todas as partes do mundo, o que permite às famílias desenvolverem novos negócios e incrementar sua renda.

Seguindo o curso do rio, em Mera, pegamos o desvio para Palora, atravessando pequenos vilarejos como La Libertad, onde a principal atividade econômica está relacionada com a pecuária e agricultura.

Já à tarde chegamos ao porto Santa Ana, onde se deve cruzar o rio Pastaza em “tarabita” (cesta presa a um cabo, estendida de uma beira à outra) e assim chegar até Palora. Preparados para cruzar, subimos à tarabita e em menos de cinco minutos estamos do outro lado.

Palora, na província de Morona Santiago, fica a 920 metros acima do nível do mar, aos pés do vulcão Sangay. Mais de 50% de seu território está dentro do Parque Nacional Sangay.

De manhã, com o vulcão Sangay como nosso vigia, iniciamos o percurso ao Rio Palora. Chegamos à paróquia Arapicos, caracterizada por seus cultivos de pitaia (fruto escamoso de várias espécies de cactos), que “o rio come”. A forte correnteza provoca deslizamentos, causando a perda dos terrenos plantados perto do rio. “É que o rio é bravo”, comenta Fermín Rojas, produtor de pitaia.

Este rio de águas rápidas e frias nasce nas ladeiras do vulcão Sangay, e se alimenta de rios como o Nayanmak, Numbayme e Nayanapamba. Mas “o Palora é bem traiçoeiro”, nos conta Pedro, taxista que nos levou, “às vezes está baixinho e a gente entra, quando nos damos conta, o rio já cresceu bastante”.

A viagem da água enche de vida os lugares por onde passa. É o liquido sem o que nenhum processo biológico funciona, o elemento em torno do que as sociedades surgem e se desenvolvem. A água nos ajuda a gerar energia, a fazer crescer nossos alimentos e nos da força e fé. Dependemos tanto da água, como ela do nosso cuidado.

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