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O dia começa as 5:30h. Uma fina névoa ainda adormece os vales, mas o sol promete calor neste canto sudeste de Goiás. A equipe hoje conta com 11 pessoas, incluindo eu. Desde ontem cerca de 10 armadilhas, para raposas, cachorros-do-mato e lobo-guará foram abertas e iscadas com pedaços de frango e sardinha.
A intenção nestes primeiros dias é trabalhar com poucas armadilhas até mesmo para a equipe de veterinários definir os protocolos de coleta das amostras de sangue. A área de abrangência é grande. Desta forma, Frederico de Souza, o “Cigano”, segue de moto para facilitar as checagens, enquanto o resto da equipe, entre veterinários e biólogos, rumam de carro para outra área.
Logo na segunda armadilha colocada à sombra de um limoeiro, escutamos um“latido” agudo e o vulto acinzentado de um cachorro-do-mato. Fabiana Lopes e Caio Motta, veterinários da Fiocruz e do Zoológico de São Paulo, respectivamente, são rápidos na avaliação do peso para definir a quantidade de anestésico. Animal adormecido, começa o trabalho das equipes “Bio” e “Zoo” como auto definimos para facilitar as conversas.
A biometria, que consiste nas medições de comprimento do corpo, patas, cauda, orelhas e dentição é feita por Fernanda Cavalcanti e Mozart. Sabe-se que o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) pesa em media de 6 a 7 kg e consta nas listas de animais de extinção como ‘de menor preocupação’. Mas o fato é que, apesar de ser uma espécie relativamente comum, com larga distribuição nacional em praticamente todos os biomas (exceto floresta densa), é uma canídeo pouco estudado. Segundo Fred Gemesio, deveria ter ao menos o status de “deficiente de dados”.
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No caso deste programa de pesquisa, a proposta é conhecer os aspectos ecológicos da espécie e de sobreposição de área com a raposa-do-campo. Existe competição entre as duas espécies, mas quanto? Ambas disputam a mesma fonte de alimento, mas quanto isto interfere sobre uma e outra? Qual é o grau de stress de uma raposinha, nitidamente menor que o cachorro, quando ocorre esta disputa por território? Existe uma limitação espacial definida entre as espécies? Como as ações humanas têm contribuído para diminuir a população de cachorros-do-mato, principalmente quando se referem a intolerância e atropelamento? Estas são algumas perguntas que Fred faz dentro do Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado.
Caio e Fabiana dão continuidade à coleta de sangue, amostras de pele e tecido para análises sobre a saúde do animal, num procedimento rápido, dividido com o trabalho dos biólogos. Nos próximos dias, pretendo destrinchar melhor este minucioso trabalho dos veterinários.
Fred Gemesio construiu às duras penas, na fazenda-sede do Programa, um pequeno laboratório para abrigar os trabalhos de processamento das amostras. Cigano chega de moto com uma feliz notícia: um cachorro-do-mato e uma raposinha capturadas na região conhecida por Serengeti. Aliás, tal é o fascínio de Fred e Fernanda pela África que a maioria das áreas de estudo espalhadas entre as fazendas foram definidas com nomes africanos. Findado todos os procedimentos veterinários e biológicos, o cachorro é recolocado na armadilha para que possa se recuperar totalmente da anestesia e ser solto com segurança. É hora de seguirmos em busca da simpática raposa-do-campo. Amanhã tem mais…
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Dia 1 – No rastro dos mamíferos que sobrevivem no Cerrado
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