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Há 11 anos, quando não imaginava que teria um criadouro de felinos, Cristina Gianni, fundadora da NEX, foi fazer uma visita ao zoológico de Brasília. Notou que no chão havia uma jaula coberta com lona. Ficou sabendo que se tratava de Pacato, uma onça parda (também conhecida como puma ou suçuarana) encontrada pelo Ibama na Serra do Cachimbo, sul do Pará. Há quatro anos tudo o que ele fazia era se mover, de um lado para o outro, dentro de uma jaula de dois metros quadrados. Estava obeso e com hipertrofia dos membros posteriores. Ele não tinha para onde ir. “Foi quando pensei que havia lugar em minha fazenda”, conta. Com autorização do Ibama, levantou o primeiro recinto. Hoje já são 12 e o número de felinos atendidos chega a 20.
Os bichos são chamados animais-problema que, como Pacato ou Gavião, foram encontrados em péssimas condições: a onça parda Xuxo era criada como cachorro e tomava banho de shampoo; Ferinha perdeu a mãe em uma queimada no Pará, mesmo Estado onde Xingu viveu aprisionado por anos; Brutus também teve a mãe morta e só não morreu porque foi encontrado por uma família ribeirinha e alimentado com o leite de uma mulher que havia tido um bebê. Com o tempo, a falta de uma vitamina fez com que perdesse totalmente a visão.
“Pouca gente conhece a situação dos animais-problema. Existe muito preconceito com criadouros, mas estar aqui, para estes felinos, deve ser chegar à liberdade tamanho o horror que viviam”, afirma a diretora da organização. Ela conta, por exemplo, que Gavião chegou à NEX com medo de gente. “O ex-dono impunha a mão fechada sobre ele e o animal abaixava a cabeça. Deve ter apanhado muito para ser dominado desse jeito”, diz.
Paixão pela causa
Muitos não compreendem porque o casal gasta tanto por mês com isso. Silvano diz que esta é sua maneira de retribuir tudo o que recebe do planeta, enquanto Cristina conta que não se conforma em ver “onça sendo morta e torturada simplesmente por ser onça”. Uma boa explicação para esta frase de Cristina vem de Silvio Marchini, colunista de ((o)) eco. De acordo com ele, onças são geralmente abatidas porque provocam muitos sentimentos ao mesmo tempo (como o medo) e comem gado de algum produtor rural que, provavelmente a exemplo do vizinho, sem pensar duas vezes também aperta o gatilho para evitar mais prejuízo. Silvio encabeçou um projeto chamado Conviver Gente e Onças, no qual entrou em salas de aula de Alta Floresta, no Mato Grosso, para ensinar filhos de produtores rurais que onça não é um bicho tão perigoso assim.
Em um movimento com o intuito de aproximar as pessoas destes animais, a NEX mantém o projeto Onça Ajudando Gente, onde emprega pessoas da região e, quando necessário, contrata trabalhadores temporários para serviços pontuais. “Eles sabem que têm emprego por causa das onças e passam a olhá-las com outros olhos”, afirma Cristina. Além de onças pintadas e pardas, a organização também abriga jaguatirica, gato maracajá, jaguarundi, gato palheiro, gato do mato grande e gato do mato pequeno.
Mais NEX pelo Brasil
Pedro Camargo mora no interior de São Paulo e já conhecia a atuação da NEX. Diante do fato de a Ong não ter condições financeiras de manter mais de 20 animais em Corumbá de Goiás, ele pediu autorização do Ibama e recentemente obteve permissão para abrir em sua propriedade particular localizada em Itapira, a 170 km da capital de São Paulo, a primeira filial da organização, chamada NEX Santa Rosa. Vai começar a empreitada dentro de até três meses e com dois recintos para quatro animais ao custo de 200 mil reais, investimento que também virá de seu próprio bolso. “Acredito que, com o tempo, teremos muitos parceiros” diz, otimista. O NEX Santa Rosa, a exemplo do NEX, também permitirá visitas guiadas para grupos fechados e previamente agendados para aqueles que quiserem conhecer um pouco melhor sua maneira de atuação e, claro, o universo das onças.
Projeto Ferinha
Ferinha é uma onça macho que chegou do Pará e, desde pequeno, não demostra nenhum tipo de inclinação para a convivência com humanos. Ao perceber isso, Cristina e Silvano não quiseram perder a oportunidade de prepará-lo para uma possível reintrodução à sua terra natal, a Amazônia. Diferentemente das demais onças, Ferinha não convive com outro animal e vive em um recinto de 800 m² isolado do contato humano. Acima dele há um pequeno chalé cujas paredes são feitas de vidro e madeira. Persianas pretas escondem o movimento interior e um computador registra imagens de todos os movimentos do animal.
O próximo passo da NEX é financiar a soltura em algum local da Amazônia. Está em busca de um pedaço de terra e deixa claro que só fará isso com apoio e autorização do Ibama. “Não me comprometo a ter êxito, mas quero soltá-lo”, afirma Cristina. Seria um feito e tanto. Diante de exemplos como os de Silvio, Cristina, Silvano e Pedro, fica mais fácil acreditar em um futuro melhor para as onças.
Veja vídeo do nascimento de Xamã e Pajé, dentro da NEX, em junho de 2011
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Porque é Tão Dificil o contato e tão fechado é pra visitação, não tem site especifico ou algo assim tão dificil o acesso…
Moro em Aguaí, próximo a Itapira aonde está a ONG NEX Santa Rosa do João Camargo, e estou precisando de ajuda para saber como conduzir uma situação que estamos vivendo em nosso sítio.
Ocorre que já há alguns dias um onça com seus dois filhotes são ouvidas e vistas em nossas imediações.
Liguei para a polícia ambiental para saber como proceder e o atendente se limitou a dizer que: "como moramos em um sítio, que está na zona rural, não há o que fazer pois estamos no habitat da onça".
Soubemos que pessoas, já se sentido ameaçadas, começam a andar armadas com o objetivo de caça desta onça!
Alguém pode me ajudar com alguma orientação?
nossa que onça linda muito linda mesmo
Aqui onde moro, em Foz do Iguaçu/PR, às vezes é possível avistar onças pintadas no Parque Nacional do Iguaçu, é raro, mas, acontece.
Um belíssimo animal, mas, vou te dizer… me da medo.