Por todos os espaços dos Diálogos Amazônicos – evento que antecede a cúpula de presidentes em Belém-PA – a sociedade civil clama pela proteção da floresta e seus ecossistemas. “Querem acabar com a floresta, mas o povo não vai deixar, o povo não vai deixar”, cantaram lideranças indígenas, quilombolas, mulheres e outras minorias ao longo do dia.
Apesar dos apelos, a possibilidade de exploração de petróleo na foz do rio Amazonas não saiu da pauta do governo. O senador Randolfe Rodrigues, representante do Executivo no Congresso Nacional, disse que a ciência e a técnica serão respeitadas, mas que também é preciso discutir formas de “dar de comer para o povo”.
“A posição do governo é respeitar a ciência e a técnica, o tempo de desobediência à ciência e à técnica acabou no país. A Amazônia é a maior floresta tropical do globo, o maior manancial de água potável do planeta […], mas a Amazônia também são 25 milhões de humanos que aqui estão e para isso tem que se debater com eles as alternativas de geração de emprego e de renda”, disse, em coletiva de imprensa, durante a tarde desta sexta-feira (4).
Proveniente do estado em que o projeto de exploração é proposto, o Amapá, Rodrigues defendeu que as discussões sobre o tema considerem a realidade dos habitantes do estado.
“Eu fico muito feliz que o mundo esteja se voltando para falar com o Amapá, por conta da riqueza do petróleo que tem na margem, pelo menos assim o mundo olha para o Amapá e olha para a Amazônia, e aí a gente consegue debater junto a questão da preservação e das alternativas para dar de comer para o povo. Porque não tem devastação ambiental maior do que a produzida pela fome, pelo desemprego, pela miséria”, defendeu.
A disputa da Petrobras com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) pela extração de petróleo no litoral do Amapá chegou a resultar na saída do senador Rodrigues do partido de Marina Silva, Rede Sustentabilidade, em maio passado. A ministra do Meio Ambiente apoia o parecer do Ibama pela rejeição do licenciamento ambiental do projeto da estatal petrolífera.
Barreira indigena
A insistência na continuidade do projeto pode enfrentar uma dura barreira nos próximos meses, no entanto. Durante a manhã desta sexta-feira (4), em conversa com a imprensa, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) disseram que vão pedir ao governo o fim da exploração de petróleo em suas terras.
Se o projeto da Petrobrás for para frente, a base das operações de exploração será estabelecida no município de Oiapoque, no Amapá, e pode afetar os povos Karipuna, Palikur-Arukwayene, Galibi Marworno e Galibi Kali’na.
O entendimento indígena sobre o assunto será entregue ao governo brasileiro em um documento formal, ao fim da Assembleia dos Povos pela Terra, que acontece paralelamente aos Diálogos Amazônicos.
Pouco se sabe do documento que vai sair da cúpula de presidentes, com entendimento comum sobre o futuro da Pan-Amazônia. Um dos pontos já revelados, no entanto, é que o entendimento dos povos originários será ouvido por meio da Convenção 169 da OIT.
Dentro da programação da Assembleia, vão acontecer a Cúpula dos Povos Indígena, neste sábado (5), e a Marcha dos Povos pela Terra, na próxima terça-feira (8). A ((o))eco, Kleber Karipuna, liderança de base da COIAB, informou que são esperados cerca de 800 líderes indígenas em Belém, dos diferentes países amazônicos.
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A verdade é que o argumento de que “o povo tem fome” não tem embasamento nenhum, o Amapá já tem um passado triste de exploração mineral que muito devastou e nada deixou de benefício pra população. A gente sabe quem vai ganhar de verdade com isso.