Reportagens

Quanto mais quente, pior: Eventos climáticos extremos se agravam em 2022

Planeta deu lembretes diários das consequências do aumento na temperatura global. Apesar dos avanços no enfrentamento às mudanças climáticas, emissões continuam subindo

Cristiane Prizibisczki ·
23 de dezembro de 2022 · 1 anos atrás

No início de novembro, quando mais de 190 nações se reuniram no Egito para discutir ações de enfrentamento às mudanças climáticas, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou um relatório indicando que os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados na história. 

As consequências disso foram, por mais um ano seguido, sentidas ao redor do globo. No Reino Unido, a temperatura ultrapassou os 40ºC pela primeira vez. No Paquistão, chuvas recordes levaram cerca de 1.700 pessoas à morte e 8 milhões foram deslocados de forma forçada. Na África Ocidental, a seca mais longa em 40 anos agravou a situação de insegurança alimentar de quase 20 milhões de pessoas.

“Muitas vezes, os menos responsáveis ​​pelas mudanças climáticas sofrem mais – como vimos nas terríveis inundações no Paquistão e a seca mortal e prolongada no Chifre da África. No entanto, mesmo sociedades bem preparadas este ano foram devastadas por extremos – como visto pelas prolongadas ondas de calor e secas em grande parte da Europa e sul da China”, afirmou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, por ocasião do lançamento do trabalho

No Brasil não foi diferente. Secas no Rio Grande do Sul e enchentes em Santa Catarina, Minas Gerais e Bahia fizeram parte de nosso calendário.

No Norte ou Sul Global, houve lembretes diários das consequências cada vez mais graves e irreversíveis que ocorrerão se permitirmos que o mundo quebre o limiar de aquecimento de 1,5°C em relação aos tempos pré-industriais, como previsto no Acordo de Paris.

((o))eco compilou os principais eventos climáticos extremos ocorridos em 2022. Confira:

JANEIRO – FEVEREIRO

Início de Intensas chuvas e deslizamentos no Brasil

Em 2022, a cidade de Petrópolis novamente registrou deslizamentos mortais devido às intensas chuvas na região. Mas este foi o primeiro evento de precipitação extrema no Brasil, que sofreu com chuvas intensas durante vários meses do ano em diferentes estados do Nordeste, Sudeste e Sul. Somente nos primeiros 5 meses de 2022, foram registradas 457 mortes em desastres causados pelo excesso de chuva, segundo levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM).

Foto – Deslizamento de terra em Petrópolis, fevereiro de 2022. Crédito: Corpo de Bombeiros/RJ

FEVEREIRO

Enchentes na Malásia

As chuvas de monção da Malásia, que começaram em dezembro de 2021 e continuaram em 2022, causaram as piores inundações no país, desde a tragédia de 2014.

FotoPessoas são evacuadas na província de Kelantan, Malásia, em 28 de fevereiro. Crédito: Agência Nacional de Notícias da Malásia.

MARÇO – MAIO

Ondas de calor e seca no centro e sul asiático

Entre março e maio, o sul e o centro da Ásia, principalmente Índia e Paquistão, sofreram com uma onda de calor recorde que atingiu pelo menos 1 bilhão de pessoas e trouxe seca a diversas regiões. Temperaturas chegaram a 49ºC, causando secas, incêndios e destruindo plantações.

Foto – Homem caminha sobre o leito rachado de rio no estado de Rajasthan, Índia, em 11 de março. Crédito: Prakash Singh/AFP.

MAIO – JUNHO

Tempestades de areia no Oriente Médio

Países do Oriente Médio, incluindo Irã, Iraque e Síria, foram atingidos por tempestades de areia e poeira entre maio e junho deste ano, que causaram a hospitalização de mais de 1.000 pessoas por problemas respiratórios e interromperam voos dentro e fora de várias cidades. Embora as tempestades de areia sejam comuns na região, elas vêm acontecendo com mais frequência e têm se espalhado por áreas mais amplas.

FotoMulher caminha na rua durante uma tempestade na cidade de Basra, no sul do Iraque, em 26 de junho de 2022. Crédito: Hussein Faleh/AFP.

JUNHO

Enchentes no Paquistão

Muitas partes do mundo sofreram inundações severas este ano, mas nenhuma tão catastrófica quanto o Paquistão, que matou mais de 1.700 pessoas e deslocou 33 milhões a partir de junho. Um terço do país ficou sob a água. Os prejuízos chegaram a quase 15 bilhões de dólares, além de outros 15 bilhões em perdas econômicas. Países como Índia, Bangladesh e Afeganistão também registraram centenas de mortes e milhões de deslocados devido a enchentes no mesmo período.

Foto – Pessoas deslocadas devido às enchentes aguardam para receber alimentos na província de Punjab, Paquistão, em 29 de agosto. Crédito: Shahid Saeed Mirza/AFP.

JUNHO – AGOSTO

Ondas de calor e secas na China

Entre junho e agosto, a China sofreu sua pior onda de calor em 60 anos, com temperaturas superiores a 40 ºC em diferentes províncias. Uma estiagem severa secou rios, incluindo o Yangtze, o mais longo da Ásia, e prejudicou a produção de energia hidrelétrica.

FotoLeito seco do rio Jialing, um afluente do rio Yangtze na cidade de Chongqing, no sudoeste da China, em 25 de agosto de 2022. Crédito: Noel Celis/AFP.

JULHO – SETEMBRO

Ondas de calor na Europa e Estados Unidos

As altas temperaturas recordes também atingiram o ocidente, com ondas de calor mortais nos Estados Unidos e Europa. O Vale da Morte, na Califórnia, chegou a registrar 53ºC e países da Europa sofreram com os termômetros chegando a 43ºC. O número de mortes causadas direta ou indiretamente pelas ondas de calor em 2022 chegou a 20 mil. A seca resultante causou incêndios que destruíram florestas em países como França, Grécia, Portugal, Eslovênia, Espanha e Estados Unidos.

Foto – Bombeiros tentam conter o fogo na região de Gironde (França) em 17 de julho. Crédito: Thibaud Moritz/AFP.

AGOSTO – OUTUBRO

Enchentes no oeste da África

Em contraste com a falta de chuva em vários países, outras partes da África sofreram inundações desastrosas este ano. Mais de 600 vidas foram perdidas e pelo menos 100.000 ficaram desabrigadas na Nigéria devido às enchentes em outubro. No vizinho Chade, centenas de milhares enfrentaram inundações em agosto e novamente em outubro, quando o país experimentou as chuvas mais fortes em 30 anos.

FotoEnlutados fazem fila para prestar homenagem a uma pessoa morta nas inundações em N’Djamena, Chade, em 29 de outubro de 2022. Crédito: Denis Sassou Gueipeur/AFP.

SETEMBRO

Furacão Ian nos Estados Unidos

O furacão Ian atingiu o estado da Flórida no final de setembro, causando o maior número de mortes por furacões na região em quase 90 anos. Mais de 100 vidas foram perdidas. As perdas estimadas ultrapassam US$ 100 bilhões. Cerca de 600.000 residências e empresas ficaram sem água e energia por dias após o furacão. A falta de energia também atingiu Cuba por vários dias.

Foto – Destruição deixada para trás após o furacão Ian em Fort Mayers Beach, Florida, 4 de outubro. Crédito: McNamee/Getty Images/AFP.

OUTUBRO

Tempestades tropicais e tufões nas Filipinas

Em 2022, as Filipinas testemunharam vários tufões fortes, incluindo o tufão Noru, que também atingiu o Vietnã, e o tufão Nesat, que causou a fuga de milhares de pessoas. Mas os eventos climáticos mais destrutivos do país este ano foram as tempestades tropicais que causaram deslizamentos de terra e inundações. No final de outubro, a tempestade tropical Nalgae causou deslizamentos de terra mortais e mais de 550 inundações em todo o país. Mais de 100 pessoas morreram.

FotoVista aérea da cidade de Ilagan, em 31 de outubro de 2022, depois que a tempestade tropical Nalgae atingiu a região. Crédito: STR/AFP.

OUTUBRO

Tempestades tropicais na América Central

Furacão Julia trouxe devastação severa na Colômbia, Venezuela, Nicarágua, Honduras e El Salvador. Milhares de pessoas ficaram desabrigadas.

Foto – Barcos foram destruídos com a passagem do furacão Julia, na cidade de Bluefields, costa caribenha da Nicarágua, em 9 de outubro de 2022. Crédito: Oswaldo Rivas/AFP.

NOVEMBRO

Seca no chifre da África

A seca prolongada nos países que compõem o Chifre da África – Eritreia, Etiópia, Somália e Djibouti – tem causado uma das crises alimentares mais extremas que o continente já viu. Em novembro, a ONU lançou um estudo sobre o assunto afirmando que ao menos 36,4 milhões de pessoas serão afetadas pela seca e fome ao longo do Chifre da África, nos últimos meses de 2022.

FotoCriança severamente desnutrida é examinada em Mogadíscio, Somália, em 1º de junho de 2022. Crédito: Ed RAM/AFP.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

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