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Belo Monte: crise de investimento

Segundo ONGs, anúncio feito essa semana detalhando membros do consórcio responsável pela construção da usina no Xingu revela obra sem viabilidade.

Redação ((o))eco ·
16 de julho de 2010 · 15 anos atrás
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O consórcio de investidores ligados à construção da usina de Belo Monte é marcada pela ausência de representantes-chave do setor da construção e energia, afirmaram em comunicado divulgado pela organizações não governamentais International Rivers e Amazon Watch nesta última sexta (16). A participação de empresas controladas ou de posse do Estado constituem 77.5% do investimento, minimizando o papel do setor privado – preocupado com os riscos financeiros associados ao terceiro maior projeto de hidrelétrica do mundo. O relatório de avaliação do cenário de risco calcula uma perda financeira para os investidores que varia de US$ 3 a 8 bilhões de dólares.
 
A disponibilidade de subisídios públicos e fundos do governo federal a um projeto de viabilidade econômica duvidosa trouxe muitas criticas ao Brasil. Só o BNDES, por exemplo se comprometeu a financiar mais de 80% dos 17 bilhões de dólares do projeto de Belo Monte, com interesses em meros 4%. Um agrado generoso, pois trata-se do maior empréstimo bancário da história brasileira. “Contribuintes e trabalhadores com fundos de pensão não tem idéia do alto risco associado com Belo Monte. Os funcionários da Petrobras, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil estão gastando suas aposentadorias para subsidiar o que investidores do setor privado estão com medo de tocar”, diz Raul do Vale, porta-voz do Instituto Socioambiental. 

Devida a incerteza da viabilidade econômica do projeto, o governo brasileiro já anuncia uma série de vantagens para seduzir investidores, incluindo subsídios, empréstimos e incentivos fiscais. A falta de interesse por parte do setor privado reflete uma série questões, incluindo a incerteza sobre a capacidade energética da nova usina, assim como dúvidas sobre gastos decorrentes da mitigação de seus massivos impactos ambientais e sociais. Outro fator é a divulgação de estudos influentes, como o relatório feito pelo Instituro Tecnológico de Aeronáutica em São Paulo e pelo Conservation Strategy Fund in California entitulado “Incertezas no desenvolvimento da hidroenergia na Amazônia: Quadro de risco e questões ambientais que cercam a represa de Belo Monte”, que calculam um baixo retorno financeiro positivo e grandes riscos financeiros a curto e longo prazo para o projeto de Belo Monte. Questões sobre a ineficiência de Belo Monte indicam que os riscos financeiros só poderiam ser solucionados com a construção de reservatórios adicionais. 

O relatório de risco conclui que “a construção de Belo Monte nos conduzirá a uma crise completamente previsível – alguns diriam até planejada – que irá colocar enorme pressão para a construção de novas barragens a montante que possam armazenar a água e permitir que a capacidade total da represa seja utilizada”. Críticas há muito prevêem que Belo Monte é apenas a primeira de uma série de hidrelétricas já planejadas para a região do Xingu. (Laura Alves)

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