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Documentarista alemão critica Belo Monte

Martin Kessler  acompanha a construção de barragens no Brasil desde os anos 80 e diz que o modelo proposto pela hidrelétrica no Xingu é antiguado.

Redação ((o))eco ·
1 de fevereiro de 2011 · 14 anos atrás
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Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente

Martin Kessler: "Belo Monte vai repetir a tragédia de Tucuruí" (foto: arquivo pessoal)
Martin Kessler: "Belo Monte vai repetir a tragédia de Tucuruí" (foto: arquivo pessoal)

Rio de Janeiro – É uma ideia “antiquada” pensar que, para haver crescimento econômico no Brasil, é preciso que sejam construídas mais barragens, afirma o documentarista alemão Martin Kessler, de 57 anos. Ele registrou a mobilização dos povos indígenas e de movimentos sociais sobre a polêmica construção  da hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu.

“É uma ilusão que hidrelétrica é uma energia limpa. Belo Monte vai devastar cerca de 600 quilômetros quadrados de mata, além de destruir a possibilidade das pessoas viverem com a natureza. E ainda terá o problema de geração do gás metano a partir da biomassa da vegetação que vai ficar submersa no lago da barragem”, criticou Kessler que há cerca de 20 anos viaja pelo Brasil para realizar documentários sobre questões brasileiras como o programa Fome Zero no Governo Lula.

Dessa última vez, Kessler resolveu conhecer a Amazônia e, com sua câmera, aproveitou a ocasião do Fórum Social Mundial em Belém, no Pará, em 2009. O documentarista se entranhou na região para investigar o sistema lucrativo relacionado à energia e documentou como vive a população que será afetada pela construção da usina.

Kessler receia que ocorra em Belo Monte o mesmo que aconteceu em Tucuruí: “mais uma catástrofe”. Ele esteve na usina hidrelétrica inaugurada em 1984 na localidade de Tucuruí, cerca de 400 quilômetros de Belém do Pará, e viu muitos moradores que foram removidos para a construção da barragem e que permanecem em “casas de madeira em más condições”. Mais de 20 anos após Tucuruí, há muitas pessoas que ainda não receberam indenização, aponta Kessler, que esteve no local e conversou com representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Leia aqui a cobertura completa sobre Belo Monte

“A mesma coisa pode acontecer em Altamira. No início vai haver trabalho, mas depois de alguns anos, não vai haver mais emprego e hoje já existem oito mil moradores de fora que migraram antes mesmo do começo das obras em Altamira”. A previsão é que cerca de 100 mil trabalhadores devem deslocar-se para a cidade.

Os ribeirinhos do rio Xingu serão afetados pelas obras de Belo Monte na opinião do cineasta (foto: Matin Kessler)
Os ribeirinhos do rio Xingu serão afetados pelas obras de Belo Monte na opinião do cineasta (foto: Matin Kessler)

O resultado de seu trabalho, o documentário de 93 minutos “Um outro mundo é possível – Luta pela Amazônia”, já foi exibido em cinemas na Alemanha e em Davos no Fórum Econômico Mundial em 2010. A produção independente teve um custo de 60 mil euros com recursos de movimentos sociais da Alemanha, do Partido Verde alemão e de sindicatos de metalúrgicos. O filme só foi exibido no Brasil nas últimas duas semanas em cinco cidades brasileiras, incluindo Barcarena a 15 quilômetros de Belém e em Altamira. A discussão sobre o documentário exibido na cidade paraense que será atingida pelo mega empreendimento, Altamira, ganhou ainda mais fôlego e controvérsias quando o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) concedeu a licença de instalação da hidrelétrica de Belo Monte, no último dia 26, dando sinal verde para o canteiro de obras daquela que será uma das maiores usinas hidrelétricas de geração de energia do mundo.

Em repúdio, o Ministério Público Federal (MPF) no Pará entrou com uma ação cívil pública, na última quinta-feira (27), para suspender a licença. Dentro desta polêmica, Kessler resolveu continuar filmando os desdobramentos e, nesta próxima sexta-feira (4), estará em Brasília no encontro de representantes indígenas e de movimentos sociais com o ministro chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.

“Queremos tentar falar com o chefe do IBAMA (o diretor Américo Tunes que está no lugar do então presidente Abelardo Bayma Azevedo após ter pedido demissão do cargo no último dia 12). É contra a lei conceder a licença, ainda há 40 condicionantes sem serem cumpridos. Os indígenas não foram ouvidos e há problemas com infraestrutura para suportar as 100 mil pessoas. Há muita coisa que ainda não está resolvida. A impressão é que o governo de Dilma Rousseff quer fazer a obra a qualquer custo”, salientou Kessler.

Para ele, existem outras possibilidades de gerar energia no Brasil, a começar pela modernização das redes de transmissão e evitar que elas percam cerca de 15% de energia na distribuição. “Hoje a grande revolução energética é criar energia local e consumir localmente e não criar estruturas antiquadas. Belo Monte já é um grande assunto fora do Brasil e a imagem do país pode sofrer. Em Cancun na Conferência das Partes (COP-16), o Brasil se comprometeu a preservar a Amazônia, mas por outro lado, está fazendo projetos como Belo Monte que vai destruí-la. Não é uma política coerente”, discute. (Fabíola Ortiz)



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