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Líder indígena sofre ameaças de morte em Rondônia

Cacique Almir Suruí está sem qualquer proteção das autoridades. Uma petição online foi feita para pressionar o governo a resguardá-lo.

Fabíola Ortiz ·
25 de maio de 2012 · 13 anos atrás
cacique Almir Suruí, líder indígena do povo Surui. (Foto: Divulgação Metareilá/Povo Paiter-Surui)
cacique Almir Suruí, líder indígena do povo Surui. (Foto: Divulgação Metareilá/Povo Paiter-Surui)

Sem proteção, o cacique Almir Suruí, líder indígena do povo Surui, em Rondônia, sofre ameaças de morte por denunciar ação de desmatamento ilegal em suas terras indígenas. Até esta última quarta-feira, 23 de maio, Almir Surui contava com a proteção da Polícia Militar, a mando do governador de Rondônia, mas a partir de quinta-feira, ele deixou de receber segurança e se encontra sem qualquer tipo de proteção.

O povo Paiter-Suruí tem conquistado reconhecimento internacional por desenvolver trabalhos e parcerias inovadoras, além de possuir o primeiro projeto de REDD+ validado no Brasil.

As ameaças ao líder indígena vêm acontecendo desde 2003, informa a cientista social Natalia Menhen, diretora do Instituto Artivisão em Minas Gerais, que elaborou uma petição online para pressionar autoridades dos ministérios da Justiça, do Meio Ambiente, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, IBAMA, FUNAI e Polícia Federal a garantir a proteção de Almir, hoje ameaçada: “Queremos que eles tomem as medidas devidas no que diz respeito à garantia dos direitos dos povos indígenas, populações tradicionais e Unidades de Conservação, bem como à rígida apuração dos casos cometidos contra estes, pois a sensação de impunidade aumenta as ocorrências”, disse a (o) Eco.

Preocupados com as recentes ameaças, a Equipe de Conservação da Amazônia (ECAM) e o cacique Almir Surui redigiram  a Carta do Povo Paiter-Surui às autoridades públicas e à sociedade brasileira. 

A ameaça iminente a Almir coincide com outra data: faz um ano que Zé Cláudio e Maria do Espírito Santos foram assassinados no Pará, com tiros à queima-roupa, também após liderar movimento contra a extração ilegal de madeira, nesse caso, na reserva extrativista Praia Alta Piranheira, em Nova Ipixuna (PA).

Leia a íntegra da carta dos Suruí


Carta do povo Paiter Suruí às autoridades públicas e à sociedade brasileira

A Associação Metareilá do Povo Indígena Suruí, em conjunto com organizações parceiras (listadas abaixo), vem por meio desta carta solicitar providências urgentes das autoridades estaduais, nacionais e internacionais para nos ajudar a resolver o problema da ação de madeireiros na Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia, Brasil.

Nos últimos meses, os indígenas têm passado por momentos de muita tensão e pressões de madeireiros e fazendeiros sobre seu território, ocasionando conflitos internos e externos, como o aliciamento de alguns Paiter Suruí, que inclusive têm sido presenteados com armas de fogo. Alguns líderes Paiter Suruí, entre eles um vereador, têm sido ameaçados por outros indígenas e não indígenas, os obrigando a se esconder dentro de seu próprio território.

A situação acontece justamente no momento em que a etnia tem conquistado reconhecimento internacional por desenvolver trabalhos e parcerias inovadoras, além de possuir o primeiro projeto de REDD+ em terras indígenas validado no Brasil. Os Paiter Suruí também têm sido exemplo de gestão e proteção de sua terra e têm trazido inúmeros benefícios a seu povo e ao estado de Rondônia e ao Brasil.

É importante ressaltar que durante essa situação crítica, a comunidade, e suas lideranças, entre os quais se encontra o cacique Almir Suruí, tem trabalhado em conjunto com a Fundação Nacional do Índio – FUNAI, a partir da coordenação regional de Cacoal, de forma a encontrar maneiras de enfrentar às pressões. Apesar disso, é necessária uma ação maior do Estado como um todo para aplicar a lei para que possamos garantir soluções definitivas no território.

Letter of the Paiter Surui People to the competent Authorities and to Society

Through this letter, the Metareilá Association of the Surui Indigenous People, together with its partner organizations listed below requests that the state and national authorities take urgent action to help resolve the problems caused by the actions of illegal loggers in our territory in Rondonia, Brazil.

In these last few months, members of the Surui community have confronted sever pressure from the illegal loggers operating around our territory, causing internal and external conflicts, including coopting some of our community members who have been even been armed by those who want to destroy our way of life. Some Paiter Surui leaders, including a municipal elected official, have been threatened forcing them to hide within their own villages.

This situation happens exactly at the moment in which the Paiter Surui people have achieved international recognition for developing innovative solutions and partnerships, and have been internationally validated as the first Indigenous REDD+ project in Brazil. The Paiter Surui have been an example of proactive management and protection of their lands and have brought countless benefits to the state of Rondonia and Brazil.

It is important to note that during this critical and urgent situation, the community, and its leadership including Chief Almir Surui, have been working together with The Brazilian government Indian Agency FUNAI to find the solutions to confront these pressures. In spite of this a more comprehensive action by the government is necessary to ensure that the rule of law is brought back to the region so that the Paiter Surui can continue to work towards implementing definitive solutions to the challenges faced.

Organizações e empresas que assinam esta carta, além da Metareilá/Signed by Metareila Association of the Paiter Surui People, organizations and private companies listed below:

  • Akashari
  • Associação Alternativa Terrazul
  • Associação Aquaverde
  • Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé
  • Bianca Jagger: Founder and Chair, Bianca Jagger Human Rights Foundation/ Council of Europe Goodwill Ambassador/ Member of the Executive Director’s Leadership Council, Amnesty International, USA/ Trustee, Amazon Charitable Trust
  • Bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT), Dom Pedro Casaldáliga
  • Conservação Estratégica (CSF)
  • CoolHow Creative Lab
  • Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB
  • Editora NewBook
  • Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam)
  • Forest Trends
  • Fórum Brasileiro de Ongs e Movimentos Sociais pelo Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS)
  • Fundação Amazonas Sustentável (FAS)
  • Fundación Avina
  • Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO)
  • Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)
  • Instituto Artivisão
  • Instituto Centro de Vida (ICV)
  • Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam)
  • Instituto Floresta Viva
  • Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)
  • Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ)
  • Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora)
  • Instituto do Trópico Subúmido (ITS) da PUC Goiás
  • Instituto Internacional de Educação no Brasil (IEB)
  • Instituto Socioambiental (ISA)
  • Instituto Marina Silva
  • Marina Silva, ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente
  • Movimento Gota D’Água
  • Museu Paraense Emilio Goeldi (MCTI)
  • Positive Change Institute Brasil
  • Rede Brasileira de Ecossocialistas
  • The Inner Game School of Coaching
  • WWF Brasil

Essa carta foi originalmente publicada no site Equipe.org

  • Fabíola Ortiz

    Jornalista e historiadora. Nascida no Rio, cobre temas de desenvolvimento sustentável. Radicada na Alemanha.

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