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“Temos que zerar o desmatamento agora”, diz Antonio Nobre

A floresta amazônica é insubstituível. Novo relatório de cientista do INPA mostra que cortá-la é condenar o sul do país à secas.

Karina Miotto ·
3 de novembro de 2014 · 10 anos atrás
Arquipélago das Anavilhanas na Amazônia. Foto: Karina Miotto
Arquipélago das Anavilhanas na Amazônia. Foto: Karina Miotto

A floresta amazônica é essencial para manter a nossa qualidade de vida e a regulação do clima da América do Sul. O ponto é comprovado e enfatizado pelo pesquisador Antonio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) no relatório “O Futuro Climático da Amazônia”, resultado de mais de 200 estudos científicos sobre a floresta e sua influência sobre o clima e as chuvas.

Nos últimos 40 anos foram destruídos 763 mil km² da Amazônia, o equivalente a três estados de São Paulo inteiros. A comparação com São Paulo vem a calhar porque a seca sem precedentes porque passa é também consequência do desmatamento ao norte, que ocorre a milhares de quilômetros de distância. A supressão da floresta Amazônica impacta diretamente a formação dos chamados rios voadores, grandes nuvens de umidade que, transportadas pelo vento sobre a Amazônia, colidem com as montanhas andinas e seguem na direção Sul. Elas trazem boa parte das chuvas que caem sobre as regiões Centro Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Como explica Nobre, “a situação é de realidade, não mais de previsões. A floresta é um seguro, um sistema de proteção”. Quanto menos árvores, menor a formação de rios voadores. Quanto menos rios voadores, mais seco se torna o clima.

A atividade da floresta para produzir umidade é intensa. De acordo com ele, uma árvore de grande porte na Amazônia evapora mais de mil litros de água por dia. Com isso, o total de evaporação de água na região chega a 20 bilhões de toneladas, quantidade superior a da vazão do Rio Amazonas, o maior e mais caudaloso do mundo. “Se formos contabilizar a energia diária utilizada pela floresta para manter seu ciclo hidrológico chegaremos a 50 mil hidrelétricas de Itaipu”, afirma Nobre. De acordo com ele, a floresta é automatizada. “Tudo acontece sem que a gente perceba. Não temos consciência. Por isso, precisamos nos valer das tecnologias que temos para penetrar na tecnologia dela”.

Apesar da evidência da importância da existência da Amazônia, dados recentes disparam o alarme de uma regressão no combate ao desmate. Em 2013, dados consolidados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostraram um aumento de 29% no desmatamento. Este ano, o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) captou um aumento de 290% em setembro de 2014 sobre setembro de 2013.

Diante da ameaça constante, Nobre afirma que já chegou “o futuro de que falávamos”. Não há mais tempo para reduzir o desmatamento. Temos que zerá-lo e imediatamente”.

A Amazônia levou 50 milhões de anos para se formar e apenas 40 para ser gravemente impactada pela ação humana. No entanto, os serviços que presta são fundamentais. “Ela pulsa umidade para o mundo, o tempo todo. A floresta amazônica é insubstituível”, diz Nobre. E, conforme o seu otimismo, ainda há tempo de garantir sua existência e, em consequência, o equilíbrio climático do planeta – e das nossas vidas.

Medidas para proteger a Amazônia

Nobre sugere cinco ações para recuperar o clima e proteger a floresta, que trarão resultados positivos no longo prazo. “Diante de tantas notícias de desastres, eu sou um otimista e me pergunto: por que a gente não tenta um futuro diferente?”. Saiba o que ele fala sobre cada um destes pontos:

1. Guerra contra a ignorância
“Isso tem a capacidade de mudar a realidade. A ciência gerou informações úteis, paga pelo dinheiro público, pela sociedade. O meu intento em trazer este relato do que está na sociedade científica é este: estimular as pessoas a usarem este conhecimento. Perdemos mil árvores por minuto na Amazônia nos últimos 40 anos. Então combater a ignorância é sim um esforço de guerra”.

2. Desmatamento zero
“Acabar com o desmatamento na Amazônia é para ontem, não daqui a 30 anos, não faria o menor sentido. O futuro já chegou. Em 2004, perdemos 27.772 km2 de floresta. Em 2012, 4.571 km2, mas este é um efeito ilusionista, pois o último número equivale ao tamanho da área metropolitana de São Paulo. Em dez anos, desmataríamos a Costa Rica inteira com esta taxa”.

3. Abolir o fogo, fumaça, fuligem
“Eles agravam as mudanças climáticas, secam as nuvens. Precisamos aboli-los da mesma forma que o tabaco foi abolido. Todas as sociedades do mundo hoje estão indo nesta direção, fato. Estamos jogando tempo pela janela”.

4. Promover o renascimento da fênix. Replantar!
“Temos na mão a competência do sistema natural, enquanto ele ainda existe. A floresta dá todos os elementos. Se tiver semente, planta. Precisamos replantar o Brasil, o mundo. A ciência também mostra todas as condições para fazermos isso, mas precisamos fazer efetivamente”.

5. Consciência das elites governantes
“Em 2008, quando estourou a bolha de Wall Street, os governos do mundo tomaram a decisão de gastar trilhões de dólares para proteger o sistema econômico de falência. O momento que atravessamos, de mudanças climáticas, é grave. E estamos com 15 anos de procrastinação criminosa em relação a isso. Já vínhamos avisando a situação atual há muitos anos. A sociedade precisa sair do transe e tomar atitudes”.

 

Há um rio sobre nós

 

 

Saiba mais
Versão integral do estudo “O futuro climático da Amazônia”

Leia também
Os riscos climáticos e econômicos da destruição das florestas amazônicas
Presidente da WWF vem ao Rio falar da importância da Amazônia

 

 

 

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Comentários 1

  1. Rod diz:

    Impossível ZERAR.
    Tá maluco?!!!