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Artistas e influenciadores assinam manifesto em defesa do meio ambiente e das demarcações das Terras Indígenas

Evento no RJ teve a participação das ministras Marina Silva, Sonia Guajajara, da deputada federal Célia Xakriabá e de diversas personalidades da cultura brasileira

Júlia Mendes ·
20 de junho de 2025
Salada Verde
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Artistas e influenciadores se reuniram na última segunda-feira em defesa do meio ambiente e dos direitos dos povos indígenas. Realizado no Rio de Janeiro, o evento contou com a presença das ministras Marina Silva, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, e Sonia Guajajara, do Ministério dos Povos Indígenas, além da deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG). A mobilização teve como base o manifesto “O Brasil Merece Respeito”, assinado por diversas personalidades presentes ou não no evento.

Construído em parceria com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) e a Mídia Indígena, o manifesto traz que o Brasil denuncia a ofensiva legislativa que ameaça os direitos dos povos originários, o clima e as florestas brasileiras, e lembra: “respeito não é favor, é dever”.

Entre as ameaças mencionadas, estão o Projeto de Lei 2.159/2021, chamado de “PL da Devastação”, aprovado em maio deste ano no Senado e enviado à Câmara dos Deputados. Durante o ato, a ministra Marina Silva falou sobre os retrocessos socioambientais em curso e manifestou preocupação com o avanço do PL do Licenciamento Ambiental na Câmara dos Deputados. Ela ressaltou a importância da mobilização social para barrar a votação do projeto e destacou o papel transformador da arte nesse processo. “Nós estamos aqui em legítima defesa da vida e dos modos de vida que ajudam a proteger e a sustentar a vida nesse planeta. Que a arte possa inundar os litorais da política e do bom senso, para que não permitamos a destruição da coluna vertebral da proteção ambiental no Brasil”, disse.

Segundo com uma nota técnica do Instituto Socioambiental (ISA), o projeto “apaga” da legislação, para efeitos de licenciamento, 259 Terras Indígenas – ou quase um terço de todas as TIs existentes – e mais de 1,5 mil territórios quilombolas (cerca de 80% dessas áreas com processos de regularização já iniciado) completamente vulneráveis à ação de empreendimentos que, até então, precisavam respeitar regras ambientais mínimas.

A abertura e o encerramento do evento ficaram por conta da cantora e ativista indígena Djuena Tikuna, que emocionou o público com canções em sua língua ancestral. Nomes como Klebber Toledo, Camila Queiroz, Letícia Spiller, Marcos Palmeira, Isabel Fillardis, Maria Gadú, Paulo Betti, Malu Mader, Laila Zaid, Alexia Dechamps, Daniel Rangel, Milton Cunha, Emiliano D’Ávila, Zahy Tentehar, entre outros artistas, estavam presentes no evento e reforçaram a urgência de se posicionar diante dos retrocessos socioambientais em curso no Congresso Nacional.

O ator Marcos Palmeira chamou atenção para as conquistas recentes e a necessidade de seguir mobilizado. “A gente fica com a sensação de que não deu em nada, mas já deu em muita coisa. Temos uma deputada indígena, uma ministra indígena, temos Marina Silva como ministra. Isso é evolução. Quando Mário Juruna tentou lá atrás, com aquele gravadorzinho, registrar tudo porque achava que não entendia o que o branco dizia… não era que ele não entendia – é que o branco mentia. Agora ele pode estar vendo isso aqui e se sentindo representado. É sinal de que a luta está sendo vencida”, contou.

Leia abaixo o manifesto. 

Manifesto “O Brasil merece respeito.”

O Brasil que queremos exige coragem.

E começa com respeito.

Respeito aos que se colocam entre a devastação e a vida.

Respeito aos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, camponeses.

Respeito à constituição. Respeito às florestas.

Respeito não é favor. É dever.

É o que o Congresso nega quando ataca o licenciamento ambiental, uma proteção mínima que nos separa de tragédias como as de Mariana, Brumadinho, da Braskem.

Respeito é o que o Congresso pisa quando ignora o papel vital das Terras Indígenas no equilíbrio do clima, na garantia da água que abastece cidades, plantações e o próprio agronegócio.

Falam em progresso, mas querem legalizar o retrocesso.

Prometem modernização, mas entregam destruição.

Querem apagar direitos para abrir caminho ao lucro imediato, ainda que isso custe florestas, culturas milenares e o nosso futuro.

Querem um Brasil onde a mineração avança sobre territórios indígenas.

Onde as florestas são devastadas.

Onde se legisla com racismo, ódio e desinformação.

Mas nós dizemos: basta.

Porque cada direito violado é uma rachadura na democracia.

Em 2025, o Brasil será sede da COP 30, a convenção internacional sobre mudanças climáticas. 

Como vamos liderar o mundo nessa luta se não respeitamos nosso meio ambiente e os povos indígenas?

Como falar de futuro se o presente é de queimadas, enchentes e tragédias anunciadas?

O Brasil precisa escolher.

Nós escolhemos estar do lado da vida.

Pelo respeito a quem defende a terra e a água.

Pela demarcação das Terras Indígenas.

Pela proteção das florestas.

Pelo futuro das nossas crianças.

Por um Brasil Indígena, Terra Demarcada.

Não ao PL da Devastação.

#OBrasilMereceRespeito

  • Júlia Mendes

    Estudante de jornalismo da UFRJ, apaixonada pela área ambiental e tudo o que a envolve

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